Odisséia em Fuji termina com vitória de LewisWarm Up
30/09/2007 - 03:32Foram duas horas bravias como os 20 anos que Ulisses levou para voltar para casa, na história relatada por Homero. E em Fuji, Lewis Hamilton viveu a odisséia para conquistar sua quarta vitória na F-1, chegar aos boxes e encontrar um time de braços abertos quase pronto para lhe dar a taça de campeão. Isso porque Fernando Alonso não resistiu à batalha e pela primeira vez no campeonato deixou de pontuar em virtude de um acidente na volta 41.
O péssimo tempo na cidade japonesa levou a direção de prova a pôr o safety-car na pista como método de largada. Só que a situação era tão delicada que o carro de segurança foi ficando, ficando, ficando, longas 18 voltas e mais de meia hora na fila indiana. E nelas, até aconteceu muita coisa. Por exemplo, a atitude tapada da Ferrari em pôr pneus intermediários em seus dois carros quando 1) os comissários estabeleceram que, nestas condições, os "wets" extremos são obrigatórios e 2) a obviedade era imensa que tais calçados não eram suficientes. Tanto que Felipe Massa e Kimi Raikkonen escaparam e rodaram em bandeira amarela e tiveram de se adaptar ao meio indo aos pits.
ReutersA corrida em si teve início no 19º giro com Hamilton mantendo-se firme à frente de Alonso. O primeiro incidente ocorreu logo na primeira curva, com Jenson Button tocando em Nick Heidfeld. O primeiro perdeu o bico, o outro rodou. Nisso surgiu Sebastian Vettel e sua Toro Rosso, trazendo consigo o "primo" Mark Webber, da Red Bull. Se não tinham ritmo para acompanhar as McLaren, ao menos não eram ameaçados pelas Renault e os demais concorrentes. Também, Alexander Wurz perdeu o controle de sua Williams e acertou Massa, que enfrentava o terceiro ou quarto problema no dia — logo após receber a informação de sua punição por ter feito ultrapassagem no período do SC.
Hamilton abriu vantagem razoável para Alonso, que parou nos boxes para trocar os pneus e lotar o tanque de combustível na 27ª passagem. Duas voltas depois foi a vez de Lewis. Aí deram a chance de Vettel ter o saudável gosto da liderança. Webber também obteve a primazia.
A McLaren, então, começou a vivenciar o problema de andar com seus carros abarrotados de gasolina. Em terceiro, Lewis sofreu a ameaça de um pimpão Robert Kubica. Que, numa tentativa de ultrapassagem, tocou o inglês. Ambos rodaram, o polonês foi mais esperto e recuperou-se mais rápido. Mas, com certo rigor, os comissários puniram o piloto da BMW, que, como Massa, viu-se obrigado ao drive-through. Em sétimo, Alonso sofria com o ímpeto de Vettel. O espanhol fechou a porta na curva 1 e houve o toque. Um pedaço da carenagem da McLaren ficou. E lá seguia Sebastian, ileso.
A dor fatal veio voltas depois. Fernando espatifou seu carro com violência no muro, provocando nova entrada do carro de segurança. O espanhol demorou a descer do carro, mas sem nenhum problema. Logo apareceu nos pits. "Agora é história, eu aquaplanei", declarou o piloto, em tom de derrota.
Naquele momento, o grupo Red Bull urrava de alegria com Webber em segundo, Vettel em terceiro e Vitantonio Liuzzi em quarto. E tudo se foi, assim, sem as câmeras captarem. Deduz-se que Mark freou para aquecer os pneus ou porque Hamilton também brecou e Sebastian vinha logo atrás. Houve o choque. Revoltado, o australiano parou o carro e atirou longe o volante. O alemão conseguiu levar o STR2 com a suspensão esquerda tortíssima. E depois, a cena: Vettel com a cabeça ao braço, ainda de capacete, chorando. Liuzzi teve de fazer sua parada, encerrando o sonho da TR de chegar a um utópico pódio.
Então foi a vez de Heikki Kovalainen aparecer em segundo e, pasme, Massa em terceiro. Dada a relargada, Hamilton não teve problemas em abrir larga vantagem e deixar que o resto se matasse. Kimi Raikkonen vinha em rápida gradação e passou Giancarlo Fisichella e David Coulthard, outro que também se destacou do meio da prova em diante. Felipe teve de parar faltando sete voltas e Kimi partiu para cima do compatriota. Forçou, mas Heikki, mais uma vez, corroborou seus predicados, obtendo seu primeiro pódio na categoria.
E o encerramento da prova ainda apresentou um gran finale daqueles de disputa dos anos 80. Massa chegou em Kubica para tomar-lhe o sexto lugar. O brasileiro chegou a ir para fora da pista, emparelhou com o polonês, ambos se tocaram. Robert escapou, Felipe ficou momentaneamente à frente na penúltima curva. Kubica não desistiu e, dando um xis, botou por dentro na curva final, espalhando o carro e jogando o rival da Ferrari lá para a área de escape. Massa manteve o pé embaixo, voltou para a pista na frente e comemorou a vitória pessoal.
Coulthard foi quarto, Fisichella terminou em quinto e Liuzzi deu o primeiro ponto da Toro na temporada. Que foi pouquíssimo pelo que se desenhava para a ex-Minardi. Mas um dos múltiplos fatores que compuseram um inefável e sublime GP do Japão, praticamente perfeito em todos os seus atos, que serão motivo de lembrança por anos e anos. Muito mais que os 20 da jornada literária.