| Shueisha suspende publicação do controverso mangá Kuni ga Moeru
Por Sérgio Codespoti (15/10/2004)
A Shueisha anunciou, em 13 de outubro, que suspenderá a publicação do mangá Kuni ga Moeru, que pode ser traduzido livremente como "O País está Queimando", devido a maneira como retrata o episódio terrível conhecido como "Massacre de Naking".
Neste massacre, ocorrido entre dezembro 1937 e janeiro de 1938, soldados imperiais japoneses foram responsáveis por inúmeras mortes, cujos números assombrosos variam de 100 mil a 300 mil civis chineses.
O "Massacre de Nanking", hoje Nanjing, ocorreu durante a Guerra-Sino Japonesa, e é um dos grandes obstáculos nas relações diplomáticas entre os dois países.
A editora recebeu mais de 200 telefonemas e cartas protestando contra as cenas de matança. "Havia trechos inapropriados e resolvemos suspender temporariamente a publicação da série", disse um representante da Shueisha.
O grupo que fez o maior número de reclamações é composto por 37 pessoas, membros de assembléias locais, de cidades como Saitama e dos municípios de Iwe Ehime.
A história estava sendo publicada semanalmente na revista Weekly Young Jump, cuja circulação é de dois milhões de cópias por edição, desde novembro de 2002.
Kuni ga Moeru conta a história de um jovem burocrata japonês, durante o período Showa (de 1926 a 1989). O problema, para os leitores e autoridades que reclamaram, é que a versão ficcional dos fatos é apresentada como sendo verdadeira.
A China alega que 300 mil pessoas (incluindo mulheres e crianças) foram mortas no episódio, e o Japão reconhece as evidências obtidas durante o Tribunal de Crimes de Guerra de Tóquio, em 1946, que concluiu que o número chegava a 150 mil.
Além disso, muitas pessoas no Japão se recusam a acreditar que o episódio tenha ocorrido e muitas delas alegam que as fotos (e outras evidências) que documentam o massacre foram fabricadas, e que são propaganda antijaponesa.
O grupo que reclamou contra a revista repetiu o argumento de que as fotos usadas como referência para os desenhos são de origem duvidosa e sua autenticidade nunca foi comprovada. Alguns chegam a afirmar e que o evento não teria ocorrido, pois não existiriam provas reais de seu acontecimento.
Kuni ga Moeru foi escrita e desenhada por Hiroshi Motomiya. O grupo que protesta contra a revista reclama dos episódios publicados nas edições de 16 e 22 de setembro. A Shueisha está suspendendo a história a partir de 13 de outubro.
Um representante da Shueisha disse aos queixosos que irá estudar as partes consideradas inapropriadas, e que enviará uma carta aos leitores explicando a ausência da história. A editora também afirmou que irá apagar ou modificar as cenas baseadas na foto, aparentemente falsa, quando reeditar a história em uma edição encadernada.
A Shueisha, juntamente com a Shogakukan, as duas maiores editoras de mangá do Japão, são proprietárias da editora americana Viz, que por sua vez é a líder no mercado de mangás na América.
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