| Daiane agora descarta cirurgia e diz que não se vê em Pequim-2008 Murilo Garavello Em São Paulo
"Vou fazer fisioterapia todos os dias, mas isso é normal em atletas de alto nível", diz Daiane dos Santos em entrevista em SP Em dezembro do ano passado, Daiane dos Santos dizia à imprensa brasileira, na Inglaterra, que deveria passar por uma cirurgia no joelho que a tiraria da ginástica por seis meses e colocava a operação como a "única forma de chegar à Olimpíada de 2008". Pouco mais de dois meses depois, a ginasta descarta a intervenção, recusa-se a fazer previsões sobre o futuro e diz que "ainda não se vê na Olimpíada de 2008".
"Não me vejo em Pequim ainda. Vejo o Brasil lá, com certeza", disse a ginasta, nesta terça-feira, em São Paulo. "Quanto a mim, existe um fator físico importante (o joelho) e a concorrência das novas meninas que entraram agora (uma seletiva no último fim de semana deu à seleção feminina permanente mais 11 ginastas). Elas terão a favor delas a juventude, o maior vigor físico, e nós, as mais velhas, a experiência. Vou continuar na ginástica até onde me sentir bem".
Eu tenho muitos altos e baixos no joelho. Ele dói não só na ginástica. Muitas vezes eu acordo e estou com dor. Quero pôr fim a essa situação Daiane dos Santos, em 10 de dezembro de 2004, dois dias antes de ganhar a medalha de ouro na final da Copa do Mundo
Em Birmingham, dois dias antes de conquistar a medalha de ouro na final da Copa do Mundo de ginástica sem sentir dores no joelho por competir à base de "um monte de remédios, um verdadeiro coquetel", Daiane revelava: "Tenho muitos altos e baixos no joelho. Ele dói não só na ginástica. Muitas vezes eu acordo e estou com dor. Quero pôr fim a esta situação. A grande tendência é operar, o Oleg (Ostapenko, ucraniano que dirige a seleção) acha que é a melhor coisa a ser feita".
A cirurgia, de acordo com explicações da própria ginasta, consistiria na retirada de um pedaço de cartilagem do joelho esquerdo para realizar um enxerto no joelho direito, que teve boa parte de sua cartilagem retirada em duas das três artroscopias a que Daiana já se submeteu. O procedimento faria com que a atleta ficasse pelo menos 40 dias sem colocar os pés no chão.
A oposição radical da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), de Adriana Alves -técnica que a formou-, e uma suposta ressonância magnética que teria revelado uma melhora em seu joelho fizeram a brasileira desistir da cirurgia, que envolveria as duas pernas. O médico Mauro Namba, a CBG e Daiane optaram por sessões diárias de fisioterapia, repouso e uma restrição a competições seguidas, que desgastariam seu joelho.
DAIANE E OS JOELHOS 2001 Opera o tendão patelar do joelho esquerdo 2003 Artroscopia no joelho direito - retira um pedaço da cartilagem 2004 Artroscopia no joelho direito - retira mais um pedaço da cartilagem "Não vai haver cirurgia, mas vou ter de ter cuidado o ano inteiro", afirma Daiane. "Não poderei mais fazer quatro competições seguidas, como fiz no início de 2004 -quando terminei a série, meu joelho estava acabado. Agora, aumentarei o intervalo entre uma competição e outra, para não haver uma sobrecarga".
Eliane Martins, coordenadora-geral da CBG, explica a oposição da entidade à operação de Daiane. "A cirurgia que estava em questão é muito complexa. Ela teria de ficar no mínimo dois meses sem poder fazer atividade física, o que em ginástica, para uma pessoa que já tem 22 anos, é muito tempo. Fazer um tratamento alternativo é melhor", diz Eliane, que admite: "Ela já tem três cirurgias nos joelhos, então é óbvio que os joelhos dela não têm mais 100% de capacidade. É uma realidade a que ela tem de se adaptar".
Com os problemas no joelho, Daiane dos Santos é a única entre as estrelas esportivas patrocinadas pela Brasil Telecom com contrato renovado por apenas um ano. Robert Scheidt, da vela, segue em indefinição quanto à categoria da modalidade pela qual irá optar: foi campeão olímpico na Laser, mas tem competido na Star. Mesmo assim, terá patrocínio por quatro anos. A nadadora Rebeca Gusmão, que acaba de mudar-se para os EUA, onde vai treinar, também tem quatro anos de patrocínio garantidos -mesmo prazo pela qual a empresa de telecomunicações garantiu os atletas da equipe de Presidente Prudente de atletismo.
SÓ DE ENFEITE Daiane comprou uma moto no ano passado. Mas ainda não pôde usar o presente. "Meu pai ainda não deixou. Ele diz: 'vai que você cai e se esfola'. Eu queria levar para a praia, ele não deixou. Está em um pedestalzinho, só de enfeite mesmo", conta a ginasta, rindo. Prioridades de 2005 Neste ano, Daiane elegeu duas prioridades: o Mundial na Austrália, em novembro, e a etapa brasileira da Copa do Mundo, que será realizada no Brasil em abril. São as únicas competições que estão em seu calendário, por enquanto. "Às outras etapas da Copa, não sei se irei -até porque agora é início de ciclo olímpico e a CBG tem de enviar outras ginastas para ganharem experiência", disse Daiane.
Neste mês, em 18 de março, ocorrerá a etapa de Cottbus da Copa do Mundo. Inicialmente, a brasileira participaria da competição. Entretanto, uma luxação na ulna (um osso) de seu braço direito sofrida enquanto executava exercícios nas barras paralelas têm atrapalhado os treinos de Daiane. "Daqui a uma semana acho que poderei treinar sem restrições. Mas não sei se vão me levar para a etapa alemã. Vamos esperar".
|