Carolina, Conto em cima da música do Chico

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sarahivich
view post Posted on 22/4/2004, 07:04




Tinha olhos fundos, como a Carolina da canção do Chico: “Carolina, nos seus olhos fundos, guarda toda a dor, a dor de todo esse mundo”. Lembrou-se de quando a mãe a ninava com a música, nas madrugadas infantis – mas já insones – cheias de lágrimas e de um medo inexplicável. E foi com os olhos embotados – assim como os das noites de anos atrás - de uma dor tão ininteligível quanto todas as outras, que Carolina chegou a apertar o botão do elevador, para logo depois desistir de esperar. Um minuto, dois minutos – do que adiantava o tempo? Tudo terminaria no mesmo lugar, não terminaria? Resolveu subir pelas escadas. Sombrias escadas. Não tinha mais a mãe para lhe guiar. Não tinha mais ninguém para lhe guiar. A mão pequenina segurando com força o braço materno, os olhos cerrados, os pés que não paravam de tropeçar. O medo do grande muro cinza do cemitério, que parecia se estender até o infinito. Seis anos de idade. E, novamente, a mãe a cantarolar para lhe espantar os temores: “Carolina, nos seus olhos tristes, guarda tanto amor, o amor que já não existe”. Amor que já não existe. Degrau por degrau, ia escalando devagar o prédio. Invadindo andar por andar. Não adiantava esperar, mas também não adiantava correr. Tudo terminaria no mesmo lugar, se lembrou novamente. Tudo. Rabugice, raiva, ódio. Ou amor. Do que adiantava todo o sentimento, seja lá qual ele fosse, se o fim seria o mesmo? Queria novamente o muro cinza e o braço da mãe. Queria se agarrar ao muro do cemitério, queria voltar a anos atrás, queria ouvir a voz da mãe a lhe cantar “lá fora, amor, uma rosa nasceu, todo mundo sambou, uma estrela caiu” num fio de esperança. Queria não temer mais nada, mas tinha sido o medo que a empurrara até o parapeito. O medo, nada mais. A luz do sol cerrava os seus olhos apesar da noite já estar alta. O mar de prédios continuava até onde sua vista podia alcançar. A falta de um horizonte lhe embebedava, mas não o bastante para lhe fazer desistir. Aquele era o fim de Carolina, que com a coragem que só o medo poderia lhe dar, pulou ouvindo que “lá fora, amor, uma rosa morreu, uma festa acabou, nosso barco partiu”. O estrondo veio antes de completar os últimos versos - “eu bem que mostrei a ela, o tempo passou na janela, só Carolina não viu”. Depois, só o silêncio. Retumbante e aterrador.
 
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>Il Monstro<
view post Posted on 22/4/2004, 08:02




Esse eu não tinha lido.

Muy deprê, menina!
 
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>Gião<
view post Posted on 22/4/2004, 19:49




Puxa que coisa triste!

Vamos para o boteco do forum para ficarmos felizes! Afinal, tudo dá no mesmo lugar: o boteco!
 
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>Il Monstro<
view post Posted on 26/4/2004, 01:30




Ela nem bebe...
 
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#FF#
view post Posted on 26/4/2004, 08:18




Seja bem-vinda, Sarah!


Foi você quem escreveu o texto?
Por que o tema tão triste?
Pode postar a letra do Chico?

Edited by #FF# - 26/4/2004, 05:20
 
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>Gião<
view post Posted on 26/4/2004, 13:29




CITAZIONE
Ela nem bebe...  


Puxa, que pena! Vamos beber por vc!

CITAZIONE
Seja bem-vinda, Sarah!  


Realmente, seja bem-vinda!
 
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>Il Monstro<
view post Posted on 1/5/2004, 20:31




Essa é do tipo que tem que ficar lembrando de entrar, talvez pelo menos por um tempo... Vou fazer isso.
 
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>Gião<
view post Posted on 3/5/2004, 18:29




Se vc não esquecer de entrar tb!
 
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>Il Monstro<
view post Posted on 8/5/2004, 06:27




 
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>Gião<
view post Posted on 18/5/2004, 21:19




Não vai continuar?
 
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#FF#
view post Posted on 23/5/2004, 07:55




Ela sumiu...
 
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sarahivich
view post Posted on 28/5/2004, 04:32




sumi mesmo. desculpem-me. não tem um motivo para o tema triste... vou postar a letra do chico, ok?
 
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sarahivich
view post Posted on 28/5/2004, 04:58




Carolina, nos seus olhos fundos guarda tanta dor, a dor de todoesse mundo
Eu já lhe expliquei, que não vai dar, seu pranto não vai nada ajudar
Eu já convidei para dançar, é hora, já sei, de aproveitar
Lá fora, amor, uma rosa nasceu, todo mundo sambou, uma estrela caiu
Eu bem que mostrei sorrindo pela janela, ai que lindo
Mas Carolina não viu
Carolina, nos seus olhos tristes, guarda tanto amor, o amor quejá não existe
Eu bem que avisei, vai acabar, de tudo lhe dei para aceitar
Mil versos cantei pra lhe agradar, agora não sei como explicar
Lá fora, amor, uma rosa morreu, uma festa acabou, nosso barcopartiu
Eu bem que mostrei a ela, o tempo passou na janela e só Carolina não viu
 
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#FF#
view post Posted on 28/5/2004, 13:31




Valeu, Sarah!

Depois vou ler com calma.
 
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13 replies since 22/4/2004, 07:04   257 views
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