Filósofos contemporâneos, Ou qualquer coisa próxima disso ...

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Imortal
icon10  view post Posted on 8/3/2007, 21:13




Baudrillard foi precursor da crítica aos simulacros do mundo virtual
MANUEL DA COSTA PINTO
COLUNISTA DA FOLHA

O filósofo francês Jean Baudrillard, morto anteontem, é considerado um dos pais do pós-modernismo, ao lado de teóricos como Jean-François Lyotard e Fredric Jameson. O título, longe de ser honorífico, está cercado de ambigüidades.

Para muitos críticos, a expressão "pós-moderno" está associada a um terrorismo epistemológico, que consistiria em reduzir qualquer discurso a "constructos" mentais sem lastro de realidade. E este, por sua vez, legitimaria o relativismo ético, o vale-tudo moral num mundo sem certezas.

Entretanto, a noção de "simulacro", proposta por Baudrillard para explicar a paisagem pós-industrial, se dirige justamente contra esse apagamento dos limites entre o real e suas representações. Para ele, lidamos em nosso cotidiano apenas com um "código" (e não com realidades palpáveis); a era da reprodução técnica do mundo se intensificou a ponto de assimilar o existente a um sistema de signos que cancela a própria idéia de "original", dos objetos naturais que a linguagem representaria:
"O significado e o referente foram abolidos para o único proveito do jogo de significantes, de uma formalização generalizada na qual o código já não se refere a nenhuma realidade subjetiva ou objetiva, mas à sua própria lógica", escreve em "O Espelho da Produção".

Pensamento crítico
A afirmação não difere muito de correntes filosóficas que colocam a linguagem não apenas como instância de nossa percepção mas como algo que dá forma ao mundo. E, ao fazê-lo, modifica sua essência, constituindo uma espécie de "segunda natureza".

Se essa idéia da volatilização do existente se difundiu nas últimas décadas, sob influxo dos meios de comunicação e das realidades virtuais, coube a Baudrillard detectar o processo em seu estado nascente.

Iniciando sua trajetória em Nanterre, reduto dos intelectuais de maio de 68 e de uma reação ao estruturalismo de Lacan, Barthes e Foucault, Baudrillard compartilha com eles a matriz de um pensamento crítico moderno (Marx, Freud, Nietzsche).

Para estes "mestres da suspeita" (segundo expressão de Paul Ricoeur), sempre há algo que permanece irrepresentado como podemos ver em noções psicanalíticas como "recalque", "lapso", ou em categorias sociológicas como "alienação", "ideologia", "fetiche" etc.

Baudrillard chamou a atenção para o fato de que essas fissuras haviam ultrapassado âmbitos específicos (psique, relações de trabalho), produzindo uma hiper-realidade. Numa de suas primeiras obras, "O Sistema dos Objetos", ele amplifica a distinção marxista entre "valor de uso" e "valor de troca" da mercadoria, assinalando que todo objeto tem um valor simbólico intrínseco, que não pode ser visto apenas como excedente de suas funções utilitárias.

A partir daí, sua obra se desenvolveu sob a égide do imediato, acompanhando as mutações que nosso imaginário foi sofrendo sob o impacto dos simulacros, das experiências que reescrevem a dicotomia entre real e imaginário. Crítico da comunicação, Baudrillard foi um polemista que fez largo uso da imprensa para veicular suas inquietações.

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O Neo do Matrix guardava suas "paradinhas" em um exemplar de livro escrito por esse filósofo recentemente falecido.
 
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Imortal
view post Posted on 19/3/2007, 16:06




Professor explica por que ler Nietzsche hoje

da Folha Online

Um breve e abrangente livro sobre Nietzsche, pensador que viveu nos primórdios da Revolução Industrial e cujas discussões são atuais ainda hoje. É o que o leitor encontra no volume da coleção "Folha Explica" sobre o autor - o primeiro capítulo de "Nietzsche" pode ser lido abaixo.

No livro, Oswaldo Giacóia Junior mostra porque é impossível se colocar à altura dos principais temas e questões do nosso tempo sem entender o pensamento de Nietzsche, um dos pensadores mais provocativos da filosofia moderna.

Para Giacóia Junior, o impacto da filosofia de Nietzsche "advém de sua extraordinária clarividência". "Ele pressentiu, em estado de gestação, as ameaças mais fatais de nosso tempo. Anteviu o panorama sombrio que poderia advir do projeto sociopolítico de uma sociedade de massas. Nietzsche profetizou que a sociedade ocidental caminhava, desde então, para um nivelamento por baixo", explica o autor.

Oswaldo Giacóia Júnior é professor de filosofia na Unicamp. Formado em Direito pela USP, Giacóia é mestre em Filosofia pela PUC-SP e doutor em Filosofia pela Freie Uinversität Berlin (Alemanha). Além de "Nietzsche", Giacóia é autor de "Pequeno Dicionário de Filosofia Contemporânea", "Os Labirintos da Alma" (1997), "Nietzsche & Para Além de Bem e Mal" (2002) e "Sonhos e Pesadelos da Razão Esclarecida" (2005).

Como o nome indica, a série "Folha Explica" ambiciona explicar os assuntos tratados e fazê-lo em um contexto brasileiro: cada livro oferece ao leitor condições não só para que fique bem informado, mas para que possa refletir sobre o tema, de uma perspectiva atual e consciente das circunstâncias do país.

"Nietzsche"
Autor: Oswaldo Giacóia Júnior
Editora: Publifolha
Páginas: 96
Quanto: R$ 17,90
Onde comprar: nas principais livrarias, pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Publifolha


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POR QUE LER NIETZSCHE HOJE

Dentre os clássicos da filosofia moderna, Nietzsche talvez seja o pensador mais incômodo e provocativo. Sua vocação crítica cortante o levou ao submundo de nossa civilização, sua inflexível honestidade intelectual denunciou a mesquinhez e a trapaça ocultas em nossos valores mais elevados, dissimuladas em nossas convicções mais firmes, renegadas em nossas mais sublimes esperanças. Essa atitude deriva do que Nietzsche entendia por filosofia.

Para ele, filosofar é um ato que se enraíza na vida e um exercício de liberdade. O compromisso com a autenticidade da reflexão exige vigilância crítica permanente, que denuncia como impostura qualquer forma de mistificação intelectual. Por isso, Nietzsche não poupou de exame nenhum de nossos mais acalentados artigos de fé. O destino da cultura, o futuro do ser humano na história, sempre foi sua obsessiva preocupação. Por causa dela, submeteu à crítica todos os domínios vitais de nossa civilização ocidental: científicos, éticos, religiosos e políticos.

Nietzsche é um dos grandes mestres da suspeita, que denuncia a moralidade e a política moderna como transformação vulgarizada de antigos valores metafísicos e religiosos, numa conjuração subterrânea que conduz ao amesquinhamento das condições nas quais se desenvolve a vida social. Nesse sentido, ele é um dos mais intransigentes críticos do nivelamento e da massificação da humanidade. Para ele, isso era uma conseqüência funesta da extensão global da sociedade civil burguesa, tal como esta se configurou a partir da Revolução Industrial.

Nietzsche se opõe à supressão das diferenças, à padronização de valores que, sob o pretexto de universalidade, encobre, de fato, a imposição totalitária de interesses particulares; por isso, ele é também um opositor da igualdade entendida como uniformidade. Assim, denunciou a transformação de pessoas em peças anônimas da engrenagem global de interesses e a manipulação de corações e mentes pelos grandes dispositivos formadores de opinião.

O esforço filosófico de Nietzsche o levou a se confrontar com as grandes correntes históricas responsáveis pela formação do Ocidente: a tradição pagã greco-romana e a judaico-cristã; e o que resultou da fusão entre as duas.

Ao longo desse seu confronto com o conjunto da herança cultural de nossa tradição, Nietzsche forjou conceitos e figuras do pensamento que até hoje impregnam nosso vocabulário e povoam nosso imaginário político e artístico. Tais são, por exemplo, as noções de Apolo e Dionísio, transformadas em categorias estéticas, os conceitos de vontade de poder, além-do-homem (Übermensch), eterno retorno e niilismo e a figura da morte de Deus.
É impossível se colocar à altura dos principais temas e questões de nosso tempo sem entender o pensamento de Nietzsche. Ateísta radical, ele atribui ao homem a tarefa de se reapropriar de sua essência e definir as metas de seu destino. Dele afirma o filósofo Martin Heidegger: "Nietzsche é o primeiro pensador que, perante a história universal pela primeira vez aflorada em seu conjunto, coloca a pergunta decisiva e a reflete internamente em toda a sua extensão metafísica. Essa pergunta reza: como homem, em sua essência até aqui, está o homem preparado para assumir o domínio da terra?"1

Nesse sentido, Nietzsche é o pensador de nossas angústias, que não poupou nenhuma certeza estabelecida --sobretudo as suas próprias convicções-- e desvendou os mais sinistros labirintos da alma moderna. Com a paixão que liga a vida ao pensamento, Nietzsche refletiu sobre todos os problemas cruciais da cultura moderna, sobre as perplexidades, os desafios, as vertigens no fim do século 19. Dessa sua condição, postado entre o final e o início de duas eras, Nietzsche esboçou um quadro que, em todos os seus matizes, nos concerne ainda, na passagem a um novo milênio, em direção a um destino que ainda não se pode discernir.

A despeito de sua visão sombria, Nietzsche tentou ser, ao mesmo tempo, um arauto de novas esperanças. Sua mensagem definitiva --a criação de novos valores, a instituição de novas metas para a aventura humana na história-- é também um cântico de alegria. Essa é uma das razões pelas quais o estilo de Nietzsche resulta da combinação paradoxal de elementos antagônicos: sombra e luz, agonia e êxtase, gravidade e leveza.

Isso explica por que, para ele, o riso e a paródia são operadores filosóficos inigualáveis: eles permitem reverter perspectivas fossilizadas. Nietzsche, o impiedoso crítico das crenças canônicas, é também um mestre da ironia. Sua ambição consiste em tornar superfície o que é profundidade, restituir a graça ao peso da seriedade filosófica.

Opositor ferrenho da dialética socrática, Nietzsche reedita, no mundo moderno, o gesto irônico do pai fundador da filosofia ocidental. Decisivo adversário de Platão, sua filosofia talvez possa ser caracterizada como uma inversão paródica do platonismo. Definindo-se como o mais intransigente anticristão, dá, no entanto, à sua autobiografia intelectual, escrita no final de sua vida, o título Ecce Homo ("Eis o Homem") --expressão empregada por Pilatos ao apresentar Jesus a seus algozes, pouco antes da Paixão.

Nietzsche, o filósofo-artista, um poeta que só acreditava numa filosofia que fosse expressão das vivências genuínas e pessoais, vendo na experiência estética uma espécie de êxtase e redenção, é, por isso mesmo, um precursor da crítica a um tipo de racionalidade meramente técnica, fria e planificadora. A despeito da profundidade e da gravidade das questões com que se ocupa, sempre as tratou em estilo artístico, poeticamente sugestivo; só acreditava na autenticidade de um pensamento que nos motivasse a dançar. Ele mesmo imagina sobre sua porta a inscrição:

Moro em minha própria casa
Nada imitei de ninguém
E ainda ri de todo mestre
Que não riu de si também.2

Sem extravasar os limites dos livros desta série, Folha Explica Nietzsche se propõe a ser uma apresentação geral do homem e do filósofo Friedrich Nietzsche. Seu objetivo é fazer com que o leitor se familiarize com os conceitos, as figuras e o estilo de Nietzsche --não para depois encerrá-los em qualquer câmara da memória, mas sim para despertar seu interesse e estimulá-lo a seguir adiante. Aceitar o desafio de Nietzsche implica, sobretudo, pensar independentemente; e por isso, às vezes, também contra Nietzsche.

1 Heidegger, "Wer ist Nietzsches Zarathustra?"; em: Vorträge und Aufsätze. Pfullingen: Neske Verlag, 1954; p. 102.

2 Epígrafe de A Gaia Ciência; em: Nietzsche, Obra Incompleta. Trad. Rubens Rodrigues Torres Filho. Col. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1974; p. 195.
 
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Imortal
view post Posted on 4/4/2007, 14:35




Certezas e dúvidas
BORIS FAUSTO

A vida pode ser uma experiência maravilhosa, mas a angústia da finitude acompanha os não-crentes de todo gênero

NESSES TEMPOS de resoluções controversas do sínodo do Vaticano, de visita do papa ao Brasil, vale a pena ler o livro do filósofo francês Luc Ferry, "Aprender a Viver" (Objetiva, 2006), uma abertura para o leigo trilhar os caminhos difíceis da filosofia. Embora quase sempre alta vendagem não seja sinônimo de qualidade, nesse caso há uma coincidência e é bom que o livro tenha alcançado vendas expressivas em vários países, inclusive no Brasil.

Na sua digressão sintética a respeito do que é filosofia, Ferry diz que a "equação mortalidade + consciência de ser mortal é um coquetel que carrega em germe a fonte de todas as interrogações filosóficas". De fato, a precariedade da existência, a finitude, o temor da morte são temas existenciais dos quais não creio que possamos fugir.

Mas essas interrogações geradoras de angústia encontraram uma resposta altamente reconfortante no cristianismo, a tal ponto que ela parece ser uma das razões da sobrevivência espiritual da doutrina e das instituições eclesiásticas no mundo ocidental, admitidas suas vicissitudes em séculos mais recentes.

Falo aqui de uma resposta no âmbito da cultura ocidental, sem estendê-la a outras áreas, nas quais o islamismo ou o budismo abrangem milhões e milhões de adeptos. Com essa ressalva, e em poucas palavras, para os que têm fé e seguem os mandamentos de Deus, na ótica do cristianismo, os problemas da finitude não existem. Pelo contrário, a passagem por este vale de lágrimas e de alegrias, mas sempre passagem, abre para os fiéis o caminho da vida eterna.

Ferry mostra como o cristianismo difere de doutrinas filosóficas que tomam a ordem cósmica como modelo, bem representadas pelos estóicos gregos, cuja influência foi além de sua época. Segundo os estóicos, o sábio poderá, graças a um justo exercício do pensamento e da ação, alcançar certa forma de imortalidade ou, pelo menos, de eternidade. Com certeza ele vai morrer, mas sua morte representará uma transformação de um estado em outro, no seio de um universo cuja perfeição possui uma estabilidade absoluta e, por isso mesmo, em certo sentido, divina.

Bela doutrina, precária resposta para o problema da finitude, diversa da que encontrará o cristianismo, embora haja pontos de contato entre as duas correntes. De fato, a vinda de Cristo revelou plenamente o caminho da salvação. O filho de Deus, integrante da Santíssima Trindade, fez-se homem, morreu na cruz por nós, redimindo nossos pecados, e ressuscitou, por fim, sob forma humana.

A insistência no corpo é reveladora, aliás, de como esse é um elemento complexo da doutrina cristã e, especialmente, da Igreja Católica. Mesmo na Idade Média, lembram os historiadores franceses Jacques Le Goff e Nicolas Truong, o corpo é o lugar de um paradoxo, pois a humanidade cristã repousa tanto no pecado original -transformado na Idade Média em pecado sexual- quanto na encarnação de Cristo.

Para a doutrina cristã, se seguirmos os mandamentos de Deus, alcançaremos a vida eterna, não sob a forma de uma integração no cosmos ou de uma iluminação. Podemos alcançá-la individualmente, em carne e osso, como Cristo ressuscitado mostrou.

Resta um sério problema. Tudo isso é uma questão de fé, essa fé que remove montanhas, mas não é interiorizada por milhões de pessoas. Para elas, a questão da finitude e da angústia da morte persiste e, mesmo entre os que têm fé, muitos "fraquejam" ao longo da vida.

Haveria uma resposta imanente para essa questão crucial, que não passe pela transcendência, por aquilo que vem de fora de nós, seja a ordem cósmica, seja o poder de Deus?

Não creio. Nem as respostas iluministas nem as pós-iluministas, como o humanismo secular proposto por Luc Ferry e outros filósofos da atualidade, me parecem convincentes. Em resumo, quem não aceita, por muitas razões, as respostas transcendentais, terá sempre dificuldade em aceitar as construções imanentes, ou seja, as nascidas do projeto humano.
A vida pode ser uma experiência maravilhosa, mas a angústia da finitude acompanha, assim, os não-crentes de todo gênero. Resta-lhes um trunfo valioso: a dúvida. Não a dúvida quanto ao caráter histórico das igrejas, das crenças e dos dogmas oficiais, mas a dúvida sobre o quanto sabemos do universo e da trajetória da existência humana, afastadas as convicções religiosas. Quando mais não fosse, essa atitude de colocar um ponto de interrogação nas questões ontológicas encerra uma significativa lição de humildade.
 
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>Il Monstro<
view post Posted on 4/4/2007, 19:10




Gosto de filosofia, mas conheço poucos filósofos. Na faculdade estudei McLuhan, Pierre Levy (mais no âmbito da comunicação mesmo), Marx, Althusser, Stuart Hall (relacionando-se a Marx e a comunicação, e pra citar só alguns dos nomes mais " " "notórios" " ") e Foucault (e Nietzsche por tabela). Desses eu li livros. De outros, ouvi falar, fui apresentado por alto, mas não conheci.

Tou com uns três livros do Platão aqui por ler, alguns com diálogos repetidos. Mais alguns livros de outros filósofos (presentes da namorada do Tico pra mim) e até (esse apenas emprestado por ela) "O Universo numa Casca de Noz", praticamnete um física quântica para iniciantes, do Stephen Hawkins! Esse eu tou realmente demorando muito pra começar a ler.

Também estou devendo conhecer o tal do Mises, que o Spock tanto cita para defender suas idéias de um liberalismo mais radical. Até agora não foi possível descartar nenhuma das idéias qiue o Spock apresentou no papel do Estado. Talvez eu mesmo venha a me identificar com essas idéias (mas espero que não. A minha impressão é a de que há sim algum furo lógico em algum lugar, ou então alguma outra maneira de se conduzir uma sociedade eticamente, com liberdade, algo que ele não acertida que exista).
 
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Sr Spock
view post Posted on 4/4/2007, 22:25




A ética é domínio. Algumas coisas hoje éticas não o serão em 100 anos, outras coisas impensáveis podem vir a ser.

Tudo depende de quais idéias dominarem as mentes "pensantes" no momento.
 
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>Il Monstro<
view post Posted on 5/4/2007, 03:02




Interessante afirmação. Foi uma conclusão pessoal ou já viu argumentações a respeito?

Eu li algo parecido em alguns dos autores que tive que conhecer na faculdade. Seria tudo um problema de semiótica, então? Não vale a pena conhecer o assunto mais a fundo, então?

O cosmos mesmo não tá nem aí se matam uma velhinnha ou não, etc. Qualquer um pode fazer o que quiser, que não há inferno esperando por ninguém, no máximo uma morte "adiantada" por aqui mesmo. Ainda assim, certos parâmetros éticos levam à construção, outros à distruição. O debate constante destes parÂmetros nunca é inútil. Da discussão nasce a luz!
 
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Sr Spock
view post Posted on 5/4/2007, 16:03




Pouca coisa a respeito. A maior parte das pessoas que se dedicam a "estudar" o assunto ética o faz mais por questões pessoais, psicopatológicas, religiosas, o diabo que seja.

Ou seja, as custa aceitar que a ética não é uma religião monolítica, mas algo tão fruto do momento quanto calça boca de sino.
 
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Imortal
view post Posted on 21/7/2007, 11:32




Deus no banco dos réus

Livros que responsabilizam a religião por males da humanidade viram novo filão editorial e reforçam discussão filosófica sobre o ateísmo; chegam ao país obras de Christopher Hitchens e Richard Dawkins

SYLVIA COLOMBO
MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL

A religião está sentada no banco dos réus. O ateísmo, que há séculos é um tema filosófico, vive agora um "boom" editorial. Livros que não só questionam a existência de Deus como culpam a religião (qualquer religião) por todos os males da humanidade vêm freqüentando as listas de mais vendidos.

É certo que o 11 de Setembro e a preocupação com o fundamentalismo islâmico têm relação direta com o fenômeno. Mas também sobram ataques às outras crenças, tidas como responsáveis por cercear o desenvolvimento da ciência e a liberdade sexual, além de provocar guerras ao longo da história.

O biólogo Richard Dawkins, com "Deus, um Delírio" (que chega ao Brasil em agosto), e o ensaísta inglês Christopher Hitchens, com "God Is Not Great" (Deus não é o máximo), são os respeitados best-sellers dessa nova onda ateísta.

Dawkins e Hitchens guiam ateístas
Biólogo norte-americano e polemista ensaísta britânico levam argumentos ceticistas a extremos e viram best-sellers

Para Marcelo Gleiser, "novos ateístas" não representam comunidade científica e colecionam inimigos pela arrogância

DA REPORTAGEM LOCAL

"Graças ao telescópio e ao microscópio, a religião não oferece mais explicações para nada importante", diz Christopher Hitchens em "God Is Not Great" (leia resenha abaixo).
O polemista britânico, conhecido agitador político de direita, conhece hoje, por conta de suas provocações à religião, um sucesso nunca antes alcançado por seus mais de 20 livros e inúmeros ensaios publicados em jornais e revistas.

Apenas uma semana após o lançamento, no Reino Unido, Hitchens já havia vendido 4.000 cópias do livro. Seis semanas depois, ele estava em sua sétima impressão e desembarcava nos EUA com loas da crítica e curiosidade geral.

"Eu já tinha criticado o uso nocivo da religião quando escrevi o livro sobre Madre Teresa de Calcutá", disse Hitchens à Folha. "Agora, faço um ataque geral à religião, pois ela é uma má influência."

O argumento principal de "God Is Not Great" é que a religião serviu ao homem como explicação do mundo quando a ciência não existia. Depois disso, não só teria se tornado inútil como passado a ser um entrave para o conhecimento.

Com ironia e pegadinhas retóricas, Hitchens lança desafios: "Se Deus é o criador de todas as coisas, por que devemos celebrá-lo incessantemente por fazer algo que para ele é tão natural?". Também acusa tanto o islamismo como o cristianismo de impedirem que avanços da ciência ajudem a sanar feridas do Terceiro Mundo. Os extremistas islâmicos, por resistir a receber ajuda dos países ricos, achando que a medicina ocidental faz parte do projeto de dominação capitalista dos EUA, e a Igreja Católica, ao condenar milhões à morte por ser contra o aborto e o uso da camisinha, baseada em dogmas irracionais. O ensaísta se refere ao papa Bento 16 como "reacionário medíocre".

Hitchens pega carona no sucesso de Richard Dawkins, cujo "Deus, um Delírio", que chega aqui em agosto, vendeu meio milhão de exemplares nos EUA e mais de 300 mil no Reino Unido. Biólogo especializado na teoria da evolução, Dawkins diz que a intenção de seu livro é convencer as pessoas de que devem libertar-se totalmente desse "vício" que é a religião e acrescenta que Deus é homofóbico, racista, genocida, entre outros atributos nada afáveis.
Para o biólogo, Deus não poderia ser uma divindade, pois um ser tão complexo e superior ao homem só poderia ter surgido bem depois deste, como conseqüência da evolução, e não antes de todas as coisas, contrariando a teoria de Charles Darwin (1809-1882).

Em "Quebrando o Encanto", o filósofo norte-americano Daniel Dennett faz uso do darwinismo para analisar a religião como produto da evolução humana, e não como força de raízes sobrenaturais.

Em entrevista à Folha, Dennett disse que espera que as pessoas aprendam a discutir e a investigar a religião de um modo mais natural e científico -e está otimista. "É preciso que deixemos de evitar tópicos que podem ofender os devotos. E acho que cada vez mais há pessoas religiosas que querem discutir suas crenças com céticos e cientistas." Dennett defende uma revolução no modo como se estuda religião aos moldes da que Alfred Kinsey (1895-1956) provocou com relação ao sexo nos anos 40.

No Brasil

As prateleiras das livrarias brasileiras já estão cheias de recentes títulos ateístas. O best-seller do filósofo francês Michel Onfray, "Tratado de Ateologia", acaba de sair pela Martins Fontes, enquanto "O Livro Negro do Cristianismo - Dois Mil Anos de Crimes em Nome de Deus", de Jacopo Fo, Sergio Tomat e Laura Malucelli, chega agora pela Ediouro.

Plínio Junqueira Smith, doutor em filosofia pela USP, participa de um grupo de discussões sobre o ceticismo, formado na Unicamp. "Nossa preocupação é tentar compreender a história do ceticismo e fazer a reflexão sistemática sobre questões céticas atuais", disse. Smith organizou "Ensaios sobre Ceticismo", coleção de artigos sobre o tema, e fez o prefácio de "Ateísmo e Revolta", de Paulo Jonas de Lima Piva, uma análise do pensamento do padre ateu Jean Meslier, que viveu no século 17. Ambos os livros saem agora pela editora Alameda.

Confusão

Para o colunista da Folha Marcelo Gleiser, o grupo de "novos ateístas" está causando uma "grande confusão". "Estão exacerbando as já arraigadas posições anticientíficas dos mais religiosos e criando novos inimigos devido à arrogância."

Gleiser, professor de física teórica no Dartmouth College (EUA), acha perigoso que eles sejam vistos como porta-vozes da comunidade científica. "Não é verdade. Do ponto de vista da ciência, a posição de ateu radical não faz sentido. Para se afirmar que Deus não existe, é necessário supor que detemos a totalidade do conhecimento, algo que é inatingível pelo fato de a ciência ser uma criação humana e limitada."

Para ele, o máximo que cientistas podem dizer é que "a existência de um Deus judaico-cristão é contrária ao que conhecemos do mundo". Por outro lado, "não podemos afirmar que a informação atual da ausência de uma divindade é definitiva pois não temos informação sobre tudo. A única posição consistente com a ciência é o agnosticismo ou, no máximo, um ateísmo liberal, pronto a aceitar evidência em contrário, caso ela ocorra". (SYLVIA COLOMBO e MARCOS STRECKER)

CRÍTICA

Em "God Is Not Great", ateísmo de ensaísta vira nova religião

JOÃO PEREIRA COUTINHO
COLUNISTA DA FOLHA

O que seria de nós sem Deus? A pergunta é antiga, a urgência é recente: no dia 11 de setembro de 2001, as Torres Gêmeas desabavam perante os olhos incrédulos do mundo. E entre os responsáveis pelo massacre, Deus também estava na lista. Se a religião não existisse, o fanatismo jamais teria voado até Nova York. A religião destrói tudo. A história da religião é a história da desgraça humana.

Christopher Hitchens acredita que sim, em "God Is Not Great". Esclarecimento: gosto de Hitchens e há vários anos que acompanho o bicho. Não é fácil: são duas dezenas de livros e incontáveis colunas para incontáveis publicações de elite (da "New Statesman" à "Vanity Fair", da "Slate" ao "TLS").

Depois de Mencken e Gore Vidal, Hitchens tem a raríssima qualidade de conciliar profundidade teórica com um destrutivo e impressivo sentido de humor. Irresistível, não?
Sem dúvida. Irresistível mas falível, sobretudo quando a profundidade não acompanha o humor. Acontece com "God Is Not Great", que provoca riso e frustração em qualquer leitor informado. O riso está na iconoclastia de Hitchens (Maomé era epilético? Jesus morreu pelos pecados dos homens mas ressuscitou ao terceiro dia?), uma iconoclastia que procura mostrar duas coisas: primeiro, que a existência de Deus é uma impossibilidade; e, segundo, que as religiões organizadas são uma malignidade. A frustração está na natureza pouco convincente dos argumentos.

Para Hitchens, a existência de Deus é uma impossibilidade pela razão bem simples de que foram os homens a criar o divino, e não o contrário.
Basta olhar em volta: como conciliar a idéia de um criador perfeito com o estado imperfeito do mundo?

Na verdade, um mundo imperfeito não é incompatível com um criador perfeito se a liberdade humana é, simultaneamente, uma dádiva e um princípio de indeterminação. Se Hitchens tivesse lido santo Agostinho, saberia disso.

E sobre um Deus criado pela imaginação humana, a tese, que é uma repetição do trio maravilha (Feuerbach, Marx, Freud), não passa de uma profissão de fé, impossível de prova racional. Não é preciso ser crente para subscrever o truísmo: é impossível provar a existência, ou a inexistência, de Deus.

Verdade que o objetivo de Hitchens não é apenas esse. A existência de Deus é um pormenor quando existem homens que matam em Seu nome. Matam em Belfast. Em Beirut. Em Belgrado. Em Belém. Em Bagdá. E apenas para ficarmos pela letra "B", como diz Hitchens com típico humor.

Infelizmente, e uma vez mais, o humor não basta. Não basta porque não é possível condenar toda a religião organizada tendo em conta as suas expressões mais extremas. Porque tudo pode ser perigoso quando levado ao extremo: a fé; a raça; a nação; o amor; o futebol; a estupidez. Além disso, os problemas que Hitchens traz na sua lista "B" não são apenas explicáveis pela religião. Só um ingênuo acredita, por exemplo, que o problema israelo-palestino é uma contenta religiosa entre extremistas. A história, a política e as ideologias que sacudiram o Oriente Médio (desde, pelo menos, a queda do Império Otomano) tiveram uma palavra maior.

Soluções? Para começar, Hitchens não aceita a objeção esperada de que os regimes que aboliram a religião acabaram por descer a níveis impensáveis de desumanidade. Desde logo porque, para o autor, esses regimes não aboliram a religião; apenas a transmutaram numa ideologia servida por capacidade tecnológica letal.

Ainda que isso fosse verdade (não é), esse seria um argumento a favor da manutenção de uma religião tradicional (como Burke, no século 18, ou Tocqueville, no século 19, ou Aron, já no século 20, sublinharam). A religião tradicional é conhecida. A transmutação gera o desconhecido.

Para terminar, Hitchens lança um convite para um novo "iluminismo", capaz de dispensar a religião e alimentar a alma humana com arte e literatura. É uma boa proposta, sem dúvida, mas talvez fosse interessante saber que tipo de arte e literatura Hitchens aconselha aos novos iluminados. Razão simples: a história da arte no Ocidente é indissociável da herança judaico-cristã que a contaminou. Eu, pessoalmente, só vejo um caminho: lançar na fogueira todas as obras que transportem resquícios religiosos.

Porque esse é o problema do panfleto de Hitchens: preocupado em derrubar a religião, o seu ateísmo converte-se numa nova forma de religião. Dogmática, intolerante. E, como em todos os extremismos, capaz de conceder a Deus uma importância de vida ou morte. Sobretudo a um Deus em que não se acredita. É a suprema ironia.
 
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>Il Monstro<
view post Posted on 21/7/2007, 13:31




QUOTE
Gleiser, professor de física teórica no Dartmouth College (EUA), acha perigoso que eles sejam vistos como porta-vozes da comunidade científica. "Não é verdade. Do ponto de vista da ciência, a posição de ateu radical não faz sentido. Para se afirmar que Deus não existe, é necessário supor que detemos a totalidade do conhecimento, algo que é inatingível pelo fato de a ciência ser uma criação humana e limitada."

Para ele, o máximo que cientistas podem dizer é que "a existência de um Deus judaico-cristão é contrária ao que conhecemos do mundo". Por outro lado, "não podemos afirmar que a informação atual da ausência de uma divindade é definitiva pois não temos informação sobre tudo. A única posição consistente com a ciência é o agnosticismo ou, no máximo, um ateísmo liberal, pronto a aceitar evidência em contrário, caso ela ocorra". (SYLVIA COLOMBO e MARCOS STRECKER)

É mais ou menos assim a minha própria visão sobre o assunto.
 
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Curuja
view post Posted on 26/7/2007, 00:15




QUOTE (>Il Monstro< @ 21/7/2007, 10:31)
QUOTE
Gleiser, professor de física teórica no Dartmouth College (EUA), acha perigoso que eles sejam vistos como porta-vozes da comunidade científica. "Não é verdade. Do ponto de vista da ciência, a posição de ateu radical não faz sentido. Para se afirmar que Deus não existe, é necessário supor que detemos a totalidade do conhecimento, algo que é inatingível pelo fato de a ciência ser uma criação humana e limitada."

Para ele, o máximo que cientistas podem dizer é que "a existência de um Deus judaico-cristão é contrária ao que conhecemos do mundo". Por outro lado, "não podemos afirmar que a informação atual da ausência de uma divindade é definitiva pois não temos informação sobre tudo. A única posição consistente com a ciência é o agnosticismo ou, no máximo, um ateísmo liberal, pronto a aceitar evidência em contrário, caso ela ocorra". (SYLVIA COLOMBO e MARCOS STRECKER)

É mais ou menos assim a minha própria visão sobre o assunto.

A minha visão tb é por aí.


Até pq eu não acho q Deus é problema das religiões, os religiosos é q o são. :ph34r:
 
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Sr Spock
view post Posted on 26/7/2007, 03:07




Se D'us existe ou não, é uma questão.

Outra é se as religiões são necessárias e se são realmente benéficas ao homem.

Inconciliáveis, o são ao extremo. Mesmo as religiões do "grupão" de Abraão são impossíveis de conciliar, uma vez que ou vc crê que Jesus é Cristo, ou você crê que ainda esperamos pelo Messias, ou ainda que ele veio, foi Maomé, e que todo o resto da promessa p/os judeus é besteira.

Depois de tudo isso, vai tentar juntar a esse bolo as religiões politeístas, ou aquelas que não cultuam D'us, p/ver a merda que isso vai dar...


(considerando que a maioria das religiões considera que só o seu caminho traz a salvação... ferrou!)
 
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Imortal
view post Posted on 31/7/2007, 01:46




Queria ver o comentário da galera sobre essa entrevista.

Ataque à blogosfera

"Anticristo" entre os blogueiros, historiador britânico Andrew Keen diz em livro que a internet está matando a cultura e critica sites como YouTube e Wikipedia

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

George Orwell não entendeu o futuro. Em seu clássico "1984", o escritor temia pelo desaparecimento do direito à expressão individual, mas, no atual mundo da internet, o verdadeiro horror é justamente o oposto: a abundância de autores e de opiniões.
O raciocínio é do historiador britânico Andrew Keen, 46, ex-professor das universidades de Massachusetts e Berkeley (EUA) e um dos pioneiros do Vale do Silício, que na primeira onda da internet fundou o site de música Audiocafe.com.
Keen tornou-se um dos líderes da crítica à internet graças a seu livro "The Cult of the Amateur: How Today's Internet Is Killing Our Culture" (o culto ao amador: como a internet de hoje está matando nossa cultura), recém-lançado no exterior e ainda sem edição no Brasil.
Sua cruzada não é contra a tecnologia em si, mas contra a revolução da segunda geração da internet, a web 2.0, baseada na interatividade e no conteúdo gerado pelos usuários, cujos marcos são os blogs e sites como o YouTube e a Wikipedia -que, segundo Keen, estão gerando "menos cultura, menos notícias confiáveis e um caos de informações inúteis".
Graças ao livro, Keen tornou-se uma espécie de anticristo entre os blogueiros, sendo chamado desde "prostituta das grandes corporações" até "um mastodonte rosnando contra os ventos da mudança".
Em entrevista à Folha por telefone, ele explicou suas idéias e por que, mesmo com toda sua crítica, tem um blog.

FOLHA - O sr. fala em "darwinismo digital" para descrever o funcionamento dos blogs.
ANDREW KEEN - Sim, é a sobrevivência do mais adaptado, o que, no caso dos blogs, significa os que escrevem mais. A blogosfera é muito competitiva e masculina, é um jogo em que, para você ganhar, alguém tem que perder. Não é lugar para conversas ponderadas.

FOLHA - O sr. também vê um resquício da cultura hippie na web 2.0?
KEEN - Há um legado hippie na filosofia libertária da blogosfera, no desprezo à autoridade, à mídia tradicional. Acho que a autoridade do Estado, da mídia, são coisas que devemos prezar, porque têm valores significantes que, se minados, criariam a anarquia. A rejeição da autoridade vista nos blogs não é progressista, é anarquista.

FOLHA - Mas o sr. é contra experiências como o Creative Commons [sistema de licenciamento de obras artísticas pela internet]?
KEEN - Acho que é um movimento que inclui moderados e radicais. Eu o respeito, mas temo que ele esteja desvalorizando a credibilidade da propriedade intelectual. Acho que a idéia funciona quando você é um sofisticado professor de direito como Larry Lessig [criador do Creative Commons], mas me preocupa que as pessoas se apóiem em um conceito como o que ele criou para roubar idéias alheias, me inquieta essa permissividade geral em relação aos direitos autorais, em especial entre os jovens.

FOLHA - É isso que causa o que o sr. chama de "assalto à economia"?
KEEN - Talvez eu tenha estabelecido, no livro, muita causalidade entre a ascensão da nova mídia e o declínio da tradicional. As novas mídias são uma das causas do declínio, mas a indústria de música, os estúdios de Hollywood, os grandes jornais e TVs têm outros problemas. Dito isso, acho que deveríamos prezar pela existência de mídia tradicional.

FOLHA - Mas não é apenas a falta de adaptação às novas tecnologias que prejudica a mídia tradicional?
KEEN - Não me oponho à tecnologia, entendo que ela sempre muda tudo e que temos que mudar com ela. Mas nem todo avanço tecnológico é bom e, em algumas circunstâncias, pode ser bom gerenciar ou conter as mudanças tecnológicas, se elas minam a sociedade. A Escola de Frankfurt se mostrou correta, emburrecemos nossa cultura e me preocupa que a internet continue fazendo isso, acabando com nossa vitalidade cívica e com a economia do entretenimento e da informação.

FOLHA - Por que a "democratização da internet" é falaciosa?
KEEN - Porque há novos oligopólios anônimos na rede, nos jogos on-line, nos pequenos grupos de ativistas que editam a Wikipedia, nos poucos blogueiros que dominam a maior parte dos acessos entre os 70 milhões de blogs. Não vejo como a web 2.0 está democratizando a mídia, acho que acontece o oposto: a mídia tradicional fornece informação de qualidade acessível às massas e não acho que a segunda geração da web esteja reproduzindo isso.

FOLHA - O fato de o sr. ter um blog não é paradoxal?
KEEN - Tenho blog para vender o livro e construir minha marca. A internet é uma grande plataforma de marketing, mas é preciso ter algo por trás. Meu livro não defende que as pessoas não tenham blogs, apenas que não finjam que são substitutos da mídia tradicional ou representantes de fontes de informação confiáveis sobre o mundo. Como as pessoas saberiam da crise aérea brasileira, por exemplo, sem jornalistas profissionais? Iam ter de se basear em blogueiros, que podem ser representantes das companhias aéreas ou do governo?
 
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#FF#
view post Posted on 31/7/2007, 01:59




Tudo muito complicado. :o:
Compartilho alguns dos receios desse cara, mas........acho que não há solução.

Medidas restritivas autoritárias não seriam bem aceitas.
Creio que há de se esperar pra ver aonde isso aí vai levar.
Um dia o sistema quebra e algo surge daí.

Ou não... :rolleyes:






Imortal também voltando a colaborar bastante pro bom andamento do CG! :yup:
 
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Imortal
view post Posted on 31/7/2007, 17:47




Imortal também voltando a colaborar bastante pro bom andamento do CG! :yup:
[/QUOTE]


Férias ! :B):

Pena que já tá acabando... :sick:
 
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>Il Monstro<
view post Posted on 1/8/2007, 00:26




No contexto atual, já estão sendo criadas regras que eu desconheço.

Esse cara está contra mudanças inutilmente, sim, eu acho. Me identifico com vários de seus desconfortos, mas acho que nós vamos passar, e essa revolução, não.

QUOTE
FOLHA - Por que a "democratização da internet" é falaciosa?
KEEN - Porque há novos oligopólios anônimos na rede, nos jogos on-line, nos pequenos grupos de ativistas que editam a Wikipedia, nos poucos blogueiros que dominam a maior parte dos acessos entre os 70 milhões de blogs. Não vejo como a web 2.0 está democratizando a mídia, acho que acontece o oposto: a mídia tradicional fornece informação de qualidade acessível às massas e não acho que a segunda geração da web esteja reproduzindo isso.

Gostei desta parte. Me parece que ele identificou/inventariou bem, ainda que por alto, algumas das mudanças significativas, e a falácia que há por trás da ideologia de alguns dos defensores da internet, mas escolheu uma posição, se não propriamente insustentável, talvez não a mais interessante, perante o problema.

Gostei pq houve dados de que eu não dispunha, ou que percebi apresentados conectados de formas que eu ainda não havia imaginado.
 
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16 replies since 8/3/2007, 21:13   2342 views
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