| Reunião entre Brasil, Índia, EUA e União Européia "está morta", diz Amorim
Da Redação Em São Paulo
O ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou nesta sexta-feira, em Genebra, que o G-4 "está morto".
A sigla representa o grupo que reúne Brasil, Índia, Estados Unidos e União Européia com o objetivo de chegar a um acordo internacional sobre liberalização do comércio.
Brasil e Índia, que representavam um conjunto de 20 países em desenvolvimento, decidiram na quinta-feira se retirar do debate com as duas outras partes realizado na cidade de Potsdam, Alemanha. A reunião, que deveria ser encerrada no sábado, foi interrompida ontem. Estados Unidos e União Européia representavam os países desenvolvidos.
O governo japonês anunciou nesta sexta-feira a sua intenção de atuar como mediador entre os países-membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) para desbloquear as negociações da Rodada de Doha.
O G-4 foi mais uma tentativa de concretizar a Agenda Doha de Desenvolvimento, conhecida como Rodada de Doha, uma negociação lançada em 2001 no Qatar que visa a intensificar o comércio internacional por meio do corte de subsídios e tarifas de importação.
Doha vive
Reuniões bilaterais ou em grupo dos quatro principais personagens das negociações não acontecerão por muito tempo, previu Amorim. O chanceler brasileiro afirmou, no entanto, que o fim do G-4 não significa o colapso de Doha. "Não penso que a Rodada de Doha esteja morta, e nem sequer que esteja agonizando", afirmou o chanceler.
O diretor geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, acrescentou: "Penso que é difícil (obter um acordo), mas não impossível".
Para Amorim, os representantes de Washington e Bruxelas chegaram a Potsdam "com um nível mútuo de conforto". "Já sabiam o nível de intercâmbio dos produtos industriais e os produtos especiais que esperavam de nós", comentou em referência à redução das taxas de importação para estes bens. "Estados Unidos e União Européia consideram que o que eles acordaram é um acordo para o restante do G-4", criticou.
Desde 2001, a Rodada de Doha estourou os prazos em várias ocasiões, devido ao fracasso dos negociadores na hora de encontrar um ponto de acordo em diferentes assuntos, especialmente na área da agricultura.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou o fracasso das negociações e disse que "a intransigência está do lado de lá". Bush, por meio de seu porta-voz, disse estar "desapontado com certos países que bloqueiam uma oportunidade de expandir o comércio global".
Subsídio americano
A proposta de Brasil e Índia era de que o teto para o subsídio dos Estados Unidos aos produtores rurais ficasse entre US$ 12 bilhões e US$ 15 bilhões por ano. Atualmente, é de cerca de US$ 48 bilhões.
Antes de começar o encontro na Alemanha, o governo norte-americano havia proposto um limite de US$ 22,5 bilhões. Declarou, na ocasião, que melhoraria essa proposta apenas se os grandes países em desenvolvimento e a UE abrissem seus mercados a mais exportações agrícolas dos EUA.
Impasse europeu
Na quarta-feira, o representante da União Européia afirmou que poderia aceitar redução de 70% nas tarifas mais altas de importação, que atingem carne bovina, frango e açúcar vindos do Brasil.
Mas a confederação Copa-Cogeca, que reúne milhares de agricultores europeus, confirmou em Bruxelas que não aceita a abordagem negociadora de Mandelson, estimando que ele está fazendo concessões demais para o Brasil. A diretoria da Copa-Cogeca insistiu que não dá para aceitar o corte de 70% nas tarifas mais altas, mesmo que se protejam produtos considerados "sensíveis".
Mesmo que não fosse considerada a posição dos agricultores, o corte de 70% não é totalmente bem visto por brasileiros. O receio é de que os europeus classifiquem como "sensíveis" boa parte dos produtos que hoje estão na banda da tarifa mais alta.
Com isso, a taxa sobre importação de carne bovina, por exemplo, pode ter redução de apenas 24%, e não de 70%. A grande discussão entre o Brasil e a UE envolve as carnes (bovina, de frango e suína).
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