Uma nova história, O começo da nova saga CGoca!

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Alkalino
view post Posted on 30/4/2007, 19:48




Eventualmente, a notícia chegou aos ouvidos da tropa, não se sabe como. E a insatisfação dos homens com os rumos da campanha, que já vinha correndo há algum tempo, tomou mais força.

O fato é que muitos daqueles homens não queriam mesmo estar ali. E esses eram os mais insatisfeitos. Não passavam de aldeões trajados em elegantes armaduras, e jamais esperaram presenciar os horrores de uma guerra até que foram convocados a integrar as fileiras de Duque Mirel.

Agora, o Capitão Vagnad queria liderá-los em uma batalha contra... soldados mortos! :o:

Ironicamente, quem, entre os homens, dava voz à essa insatisfação velada não era um camponês obrigado a empunhar uma espada, mas um soldado experiente, muito bem quisto inclusive pelo próprio Capitão.

E quando a noite caiu mais uma vez, enquanto todos dormiam, Veran caminhava decidido na direção da tenda do Capitão Vagnad, e portava uma adaga sob suas vestes.
 
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#FF#
view post Posted on 30/4/2007, 20:22




O acampamento estava em silêncio. Silêncio pouco usual praquela hora da noite. O vento frio soprava em direção ao sul e passava assobiando baixinho pelo forte, causando uma sensação desagradável difícil de explicar. O sussurro dos mortos!, os soldados diziam assustados. Veran preferia não dar ouvidos a isso, mas embora não admitisse para si mesmo, aquele vento lhe provocava calafrios.

Veran cumprimentou um vigia com um leve aceno de cabeça. Preferiu não falar. A voz poderia trai-lo.
Besteira! Ele teria que falar com o Capitão. Seria tolice tentar se esgueirar para dentro da tenda e pegá-lo desprevenido. Vagnad não era nenhum bobo que pudesse ser pego com as calças na mão e nenhuma defesa.
Não. Veran repassou mentalmente seu plano. Retomou a calma, pigarreou e preparou-se para entrar na tenda.

Ela estava vazia...
 
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>Il Monstro<
view post Posted on 1/5/2007, 14:22




Julius percebeu uma agitação no acampamento e decidiu checar o que estava acontecendo.

- Capitão Vagnad sumiu, senhor! - disse-lhe um soldado que passava. Confirmou a informação com Veran, mais tarde.

Procuraram por todo o lugar, mas nada encontraram. Não era do feitio de Vagnad fugir de uma luta, por isso seu desaparecimento era um sério golpe no moral das tropas. Devido à superstição, já sussurravam que Wur-Tatan havia se esgueirado por dentro do forte, matado Vagnad sugado todo o seu sangue e enterrado seus ossos em algum lugar. Essa era uma das versões mais populares que explicavam o desaparecimento.

- Veran, você por acaso não teria nada a ver com isso, é claro. - Argüiu Julius.

- Claro que não! - Respondeu Veran, decidido.

Os homens se encaravam fixamente.

















...

















...

















...

















...

















- Tá bem. Então é melhor a gente começar a se preparar pra deixar esse buraco. Comecem a levantar o acampamento! Alegrem-se, homens! estamos indo pra casa!

- Ei, ei! Quem disse que você pode dar ordens assim! Eu sou o segundo-em-comando do Capitão Vagnad! - Veran indignava-se.

- E até que enfim, né não? E quais seriam suas ordens, então, bravo líder? De qualquer forma, elas só vão se aplicar aos homens de Vagnad, se é que vão. Os meus voltam comigo para Berg agora, a não ser que Vagnad apareça e consiga me convencer a ficar.
 
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#FF#
view post Posted on 4/5/2007, 14:53




Naquela tarde, Vagnad reuniu-se com o conselho e discutiu longamente.

Os homens não queriam permanecer no forte. Também não queriam marchar para mais uma batalha (a que seria provavelmente a última deles). O Capitão sabia que não havia saída. Se eles estivessem mesmo cercados por dois exércitos, principalmente um exércitos de......mortos - aquilo ainda soava muito antinatural para ser pronunciado com rapidez - não havia muita esperança de fuga. E se fosse para morrer lutando, seria melhor defender o forte, onde eles podiam esperar resistir por alguns dias, atrasando o inimigo e causando maiores baixas em suas fileiras. Isso podia fazer pouca diferença para eles, mas daria uma chance a mais para seu país e suas famílias!

Vagnad falou. Eles ouviram, embora muitos ainda discordassem. Por fim, ficou decidido que eles permaneceriam no forte ao menos por mais um dia e uma nova reunião do conselho tomaria lugar na manhã seguinte.

O Capitão estava cansado. A noite já havia caído quando ele terminou de discutir com alguns oficiais mais contrariados. Ele caminhava para sua tenda imaginando se conseguiriam passar a noite sossegados. Dormir, ele tinha pouca esperança. A aproximação do exército do norte podia ser sentida no ar. Vagnad não acreditava em estórias de bruxos e fantasmas, mas era esperto o suficiente para perceber que o frio que sentia nos ossos não era um frio natural causado pela brisa que precedia os que marchavam. Algo que ele não compreendia estava se dirigindo para lá!

Mas o que mais preocupava o Capitão não era o que eles teriam que enfrentar nos dias seguintes, mas sim o que eles poderiam passar naquela noite. Vagnad sabia que os homens não estavam unidos em sua vontade de permanecer ou de partir. Havia mesmo um pequeno grupo que preferia marchar desde já para a batalha ao sul, para ao menos morrerem com honra sob mãos humanas! Vagnad temia que as diferentes disposições causassem revolta na tropa. Uma batalha interna, um motim...

Era isso que ocupava a mente do Capitão Vagnad quando ele adentrou sua tenda. Ele tirou o o pesado manto, pendurando-o em um cabide, sentou-se à mesa e pôs-se a rabiscar um papel com intuito de refrear seus pensamentos a uma velocidade que ele próprio pudesse voltar a compreendê-los. Sentiu um toque gelado no ombro, que fez arrepiar até os pêlos do dedão. O toque de uma mão magra e fria! Ele virou-se assustado e fitou alguém que ele não conhecia. Uma figura alta, de constituição delgada e olhos penetrantes dentro do capuz negro do grosso manto que vestia. Assim que olhou para ele, de alguma forma, Vagnad soube de quem se tratava...



 
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Sr Spock
view post Posted on 9/5/2007, 22:54




- Vagnad, você irá enfrentar nos próximos dias as tropas do sul, e com elas, a magia maligna que está lhes ajudando. Vim lhe oferecer sua única chance de vitória.

Num impulso, Vagnad tenta sacar seu sabre. Se eliminasse o bruxo ali, por algum tempo ninguém tentaria nada contra ele, e um de seus principais problemas estaria resolvido. Porém, o outro foi mais rápido do que ele. Enquanto o capitão levava a mão a empunhadura de sua arma, Wur-Tatan desferiu um chute em seu flanco oposto, cortando o cinturão de Vagnad. Um segundo depois, após uma série de rápidos golpes, Vagnad estava caído sobre a cadeira.

- Espero que agora preste mais atenção. Matar-me é contra seus objetivos. Lealdade cega e juramentada ao Senhor dos Mortos e Cobrador do Outro Mundo será sua única defesa contra o domínio Vori. Agora, ouça o que eu tenho a lhe contar...

 
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>Il Monstro<
view post Posted on 24/5/2007, 16:01




- Então quer dizer que vai de encontro aos mortos que andam? Vai enfrentá-los na espada, eles que morreram e ainda assim desferem golpes? Pensei que fosse mais inteligente, Julius de Berg!

- Pense como quiser, se conseguir fazer o esforço pra isso. Temos montarias de sobra, e vamos fazer uso delas. Não sei que força anima estes soldados, mas eu vi como marcham. São lentos e capengam. E é claro que deveria ser assim! Muitos receberam golpes que se não os tivessem matado, teriam deixado aleijados para o resto da vida!

Veran estancou, estupefato.

- Não tinha pensado nisso, não é? É por isso que não vai conseguir liderar meia dúzia de moleques tão cedo. Você se desespera muito rápido.

Como eu disse, faça o que quiser! Nossos homens vão tentar flanquear e se esquivar como puderem esses mortos que andam. Quando eles tiverem ficado pra trás, vamos marchar de volta pra casa sem problemas.

E se for para lutar, raios, por incrível que pareça, vamos na direção do exército que AINDA é menos numeroso...
 
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Alkalino
view post Posted on 25/5/2007, 20:40




Se um homem montado em um cavalo deixasse o Principado de Rühl na calada da noite e galopasse veloz pela Estrada Real na direção sul, chegaria pouco antes do alvorecer na cidade de Belinor. Isso, claro, se possuísse uma autorização comercial especial, ou se tivesse moedas suficientes para subornar os oficiais que montavam guarda na Estrada por toda sua extensão.

Porém, se esse mesmo homem tivesse que, digamos, esquivar-se das autoridades durante o percurso, a viagem poderia ser bem mais complicada.

Nesse caso, para chegar a Belinor, ele teria que cavalgar à noite, pelos fétidos pântanos sem nome da margem direita do Corso, a única parte da fronteira sem nenhuma espécie de vigilância. Se sobrevivesse à passagem, rumaria para o sul, evitando o cada vez mais constante vai-e-vem das tropas reais. Com sorte, chegaria antes do pôr-do-sol em Belinor

Caso o cavalo deste homem morresse durante a travessia dos pântanos (o que, convenhamos, era muito provável de acontecer), sua única chance de sobreviver seria arrastar-se até a pestilenta Saraballes, "a cidade-despojo, onde vive um povo devasso que procria com os abutres", roubar outro cavalo e dar no pé o mais rápido possível.

* * *

Uma figura coberta de lama da cabeça aos pés vislumbrou finalmente o que poderia ser a cidade de Saraballes. Mesmo através da névoa fétida, conseguia distinguir as primeiras casas, construídas sobre precárias plataformas. E então se tocou:

- Cavalos em uma cidade em meio ao pântano. Brilhante...

Seu cavalo havia caído há muitas léguas dali, possivelmente vítima de alguma serpente peçonhenta. A lama que o cobria servia pra disfarçar seu cheiro para as narinas dos predadores, mas mesmo esses pareceram sumir conforme ele se aproximava da cidade.

A fuga. Quando cansava, lembrava-se do plano mirabolante, arquitetado com Cadar, seu companheiro de cela, para fugir de Rühl. Mas só depois que conseguiram escapar é que se deram conta de que não sabiam para onde ir. De qualquer forma, Saraballes não podia ser pior do que as masmorras do Príncipe Roth.

- Cadar. Seu ladrão miserável. Boa sorte, onde quer que esteja...

Edited by Alkalino - 25/5/2007, 17:10
 
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>Il Monstro<
view post Posted on 16/8/2007, 02:56




Assim pensava Abul, enquanto caminhava por entre as palafitas de Saraballes. Passados momentos ele começou a estranhar a quietude do vilarejo. Percebeu então que alguns casebre tinham sido derrubados recentemente, ou mesmo haviam queimado. Ponderou sobre o significado disto por um tempo.

- Parece que isso aqui foi saqueado, recentemente! Com mil cobras, quem ia querer saquear uma cidade tão miserável? Deve ter sido por causa dos cavalos...

Assim raciocinou por um tempo Abul. Em poucos momentos, porém, passou a abordar a questão mais prática a respeito de o que deveria fazer a seguir. Havia moradia, por um tempo, em algumas das casas que haviam sido poupadas, mas não sabia como haveria de se sustentar. Não comia nada havia dois dias.

Ouviu um barulho pouco adiante e instintivamente procurou um esconderijo: meteu-se no meio de uns arbustos de água parada, sujando-se ainda mais, mas com a opinião de que não havia sido percebido. Controlando a respiração para não fazer barulho, espiou.

Um ser grande, com a pele amarelada, fuçava no meio das casas. Vestia o que parecia ser uma rica armadura, mas se alguém prestasse atenção, veria que era composta pelos pedaços de diversas armaduras, e que as peças estavam enferrujadas. Portava uma grande lança de lâmina larga, de aspecto ostensivo, mas nas mesmas precárias condições do resto do equipamento. Andava agachado em suas longas pernas com joelhos finos, e com a espinha muitíssimo curvada. Seu rosto parecia o de um crocodilo, com uma bocarra imensa que sorria maliciosamente com dentes salientes. Mas os dentes, embora em longa fileira, eram largos e rombudos como os de um castor, e seus olhos apresentavam um ar bovino. Tratava-se, claro, de um temível Sgrador. Em sua outra mão, segurava o que parecia ser um pedaço mordiscado de uma perna de um homem (ou uma mulher).

Com a visão, o coração de Abul disparou. Foi invadido de súbito por uma onda de medo tão intensa que ameaçava embotar-lhe os sentidos. Pensava em como seria a sensação de ser empalado por algum dos espinhos que saíam da crista em suas costas, que mais pareciam longos pregos de ferro...
 
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>Il Monstro<
view post Posted on 13/4/2008, 20:40




- Fugir das masmorras pra acabar como almoço de Sgrador... Eu não!

Abul não era um assaltante de rua qualquer. Já havia sido o líder de uma gangue poderosa e "respeitada" em Rühl. Ainda não havia entregue o merecido prêmio ao traidor que levou seu bando ao fim, e não tinha a intenção de morrer esquecido numa Saraballes deserta, Sgrador ou não!

O vil ser aproximava-se aos poucos, farejando. Súbito, retesou-se todo, preparando um golpe. Com uma velocidade incrível para alguém tão grande, esticou todo o corpo num bote com a lança. Da ponta de seus pés até a ponta da lança, havia mais de 6 metros, e seu pulo, sem impulso transpunha mais de 30. Esse era seu método preferido de caça, quando não podia dispor de montarias adequadas, como os grandes lagartos ou gorilas das cavernas. Raramente um ser podia escapar de tamanho golpe.

Exceto, é claro, quando se esquivava. Isso acontecia com alguma freqüência, mas raramente uma presa tinha capacidade de escapar ao segundo ou terceiro bote, cada um dos quais razoavelmente preciso. Mas Abul não pretendia escapar. Tinha decidido rifar sua vida ali mesmo, e sentia que poderia mesmo vencer. Não que estivesse pensando nisso. Concentrou apenas todo seu ódio em um violentíssimo golpe.

Escapou do terrível bote girando o corpo rapidamente, sobre um pé, mas seu antebraço ainda foi atingigo, e do corte um rápido borrifo de sangue jorrou. Com a passada que deu para se esquivar, sua outra mão adquiriu velocidade, e acertou em cheio o lampião que trazia no lado do rosto da fera. O lampião estava apagado, mas os estilhaços de vidro lhe furaram um olho e ela soltou um urro tremendo.

Não se apercebendo, Abul sacou sua faca, a única arma que trazia, e partiu pra cima da criatura. Era forte e violento, e sabia como fazer grandes estragos com uma faca. A intimidação e inteligência ainda eram suas maiores virtudes para vencer no mundo do crime, mas quando era necessário fazer jus à sua reputação ele não decepcionava, e mais uma história de terror surgia, aumentando o poder de persuasão de sua "lenda".

Segurando a cabeça do bicho por uma argola que pendia de uma parte de um elmo, desferiu várias estocadas em seu pescoço. Agora uma vítima, o Sgrador se bebateu e ergueu o corpo, e isso foi suficiente para arremessar Abul a mais de dez metros. Caiu de costas e de mau jeito, mas tentou se erguer o mais rápido possível. Quando conseguiu, viu que seu oponente não estava mais ali. Suas passadas podiam ser ouvidas ao longe, mas Abul não relaxou, pois sabia dos terríveis botes dessas criaturas. Além disso, não sabia se seu oponente estava sozinho. Procurou abrigo em um dos casebres mais próximos, e tentou divisar uma rota de fuga protegida. Sua mão esquerda ensangüentada ainda segurava o pedaço de elmo.

Enquanto pensava o que fazer, e começava a se dar conta da dor, ouviu uma voz rouca e escarninha que o fez virar-se com espanto:

- Muito impressionante para um mortal. Mas enfim, não há homens que sucumbem para a picada de uma simples abelha?
 
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>Il Monstro<
view post Posted on 21/4/2008, 16:20




- Por essa eu não esperava. Mas não é que faz sentido?

Assim exclama Julius de Berg ao se deparar com a vasta planície, desolada, à sua frente. O sol a pino tornava a marcha forçada daqueles homens já desmoralizados ainda mais difícil, mas ninguém ousava desobedecer, é claro. Agora percebiam que não havia sido em vão, e embora não entendessem ao certo o que viam, começavam aos poucos a retomar uma esperança vacilante.

Por toda a planície estendem-se inúmeros montículos de terra ou pedra. Sua aparência é agourenta, mas comparado ao que esperavam encontrar em seu lugar, era como encontrar um oásis no deserto.

- De dia os mortos se deitam.

Julius de Berg conduz seus homens a passo ainda mais acelerado por sobre os túmulos que no dia seguinte não mais seriam encontrados naquele lugar.
 
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Sr Spock
view post Posted on 6/5/2008, 01:16




"No passado, quando os homens ainda eram selvagens, uma outra raça os dominava. Vori, o nome que se davam, e possuíam poderes incríveis. Dominavam uma energia desconhecida, e sabiam como controlar a mente de qualquer pessoa. Cada um tinha seu rebanho de homens e mulheres, que comandava e guiava. Inicialmente, agiam como líderes caridosos, mas o passar dos tempos revelou a corrupção em suas almas. Queriam cada vez mais controle, disputavam poder entre si, usando os homens como peças de um jogo de guerra. Os machos passaram a violar as filhas dos homens, e geraram prole. Essa descendência revelou-se a arma ideal em suas guerras, imunes ao controle de qualquer outro Vori que não seu genitor.

Foram tempos negros para a humanidade... e pioraram quando houve uma cisão entre os Vorii. Aqueles que se abstiveram do prazer humano condenavam os que geraram as aberrações, como chamavam os mestiços. Entraram em guerra franca, tentando destruir criadores e criaturas, e eliminar qualquer ameaça ao seu poderio. Revelaram-se tão impiedosos após as primeiras vitórias, que os filhos dos Vori passaram a lutar de forma desesperada, já que sabiam que não haveria outro dia caso fossem derrotados. O que os Vori entendiam de controle, desconheciam da alma dos humanos. Acostumados a vê-los como simples animais falantes, agora conheceriam seu espírito.

Alguns dos clãs perderam seus líderes Vori, mortos em confronto, mas conseguiram sobreviver. E foram contatados por Aquele que guarda o Outro Lado. Lhes oferecia conhecimento e poder para travarem sua guerra com chances de vitória;em troca, exigia a caçada de todos os Vori. Face aos acontecimentos, sua oferta foi aceita, e os mortos voltaram a andar, imunes ao controle Vori, e sob comando dos primeiros magos, aqueles que vieram a ser os primeiros reis dos homens. Ao final, quase todos os Vori foram derrotados e entregues ao Guardião. A espécie foi castrada, eliminada de todos os seus machos; as poucas fêmeas restantes expulsas para as bordas das terras habitadas, passando de senhoras dos homens para miseráveis exiladas.

Você, Vagnad, é um de nós. Um dos descendentes dos filhos dos Vori. Assim como Mirel e boa parte dos senhores das velhas casas. Somos imunes aos seus encantos, e temos o dever de defender o restante do povo dessas criaturas. O Guardião nos entregou novamente a alma dos mortos, e abriu a passagem para seu Abismo. Ele aguarda que entreguemos os Vori restantes. Espero que aceite minha oferta, e torne-se meu lugar-tenente nessa guerra..."


As palavras do bruxo ainda ecoavam em sua mente, quando observou a chegada da tropa de Julius. Como ele havia dito. Agora, era anunciar sua presença para eles e trazer da terra os "soldados" que Wur-Tatan lhe confiara. Ainda não se acostumara a presença deles, e preferia que ficassem escondidos do que a sua vista. Mas havia uma missão a cumprir, e Julius deveria jurar sua lealdade ao Cobrador do Outro Mundo, ou juntar-se ao seu exército.
 
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>Il Monstro<
view post Posted on 16/5/2008, 03:52




Julius e seus homens prosseguiram pelo cemitério maldito, mas a cada passo o terror aumentava em sua mente. Vinham a trote acelerado, que em breve descambou para um galope quase a toda velocidade, movido por um pânico que a duras penas era rechaçado.

Quando estavam na metade do caminho, perceberam que os túmulos começaram a se revirar. Os mortos se levantavam para ir a seu encontro.

- Os caídos, senhor! Os caídos estão se levantando! - gritou em desespero um dos jovens guerreiros.

- Pelo cancro de uma rameira! O que essas aberrações querem? Vão embora, carniça maldita! Seu tempo na terra já passou!

- Avante, homens! Formação compacta, em cunha! Deixem esses que viraram adubo para trás, como sempre nossos cavalos fizeram!

Assim bradou Julius, que em sua fúria era conhecido como cachorro louco. Mas por mais rápido que cavalgassem, e por mais que ganhassem terreno, os inimigos eram muito numerosos. A tropa de Berg tinha sofrido as mais leves baixas, mas estavam enfrentando agora, sozinhos, um exército quase duas vezes maior do que ao que duas semanas atrás vieram opor-se, em apoio a um exército aliado.

Os mortos não eram lentos como Julius previra. Em marcha, talvez, mas em batalha menos. Seus ferimentos mortais os impediam de máxima eficiência, quando golpeavam eram quase tão precisos como eram em vida. Os olhos dos menos deteriorados eram vazios, mas de uma vacuidade muito parecida com a de guerreiros no ápice da sede de sangue, completamente imersos na batalha, sem medo, pois o pior já lhes acontecera, sem ódio para turvar-lhes a mira, determinados e incansáveis, e ignoravam completamente a dor.

Quando caíam, logo se levantavam, se tinham pernas para tal. Só os que perdiam a cabeça, ou que tinham o tórax muito severa e extensivamente danificado, cessavam o ataque. Alguns até mesmo corriam e saltavam, com botes como os de felinos selvagens.

Ainda assim, mesmo perdendo os homens aos poucos, a tropa avançava. Julius havia perdido a lança, largando-a por causa do peso dos inimigos empalados (e da resistência dos mesmos), a lâmina de sua espada havia sido chanfrada na batalha anterior e agora rechaçava os inimigos a golpes de machado. Seu movimento era tão inabalável quanto o de seus inimigos, mas, ao contrário destes, sua determinação nada tinha de fria.

Foi assim que ele avistou a entrada do vale onde a batalha anterior havia sido travada, e a encosta do morro que haviam descido, e percebeu que os túmulos rareavam, embora os inimigos ainda não. Seus homens morriam mais rapidamente, ele mesmo desferia mais e mais golpes em intervalos menores de tempo, e já estava ferido por diversos golpes, que vinham de seus lados. Ainda assim não esmoreceu.

- Os homens de Berg que não nasceram para alimentar a grama, a mim! A planície maldita está às nossas costas, nossas mulheres e nossas casas à frente! Avançar!

Mas à medida que finalmente não encontravam mais inimigos à sua frente, apenas aos flancos, avistaram também, saindo do bosque sobre a encosta, uma nova tropa de inimigos. Eram poucos, mas ainda mais do que os de Berg e, como eles, montavam cavalos. Seu brado de guerra revelou que eram soldados vivos, como os de Berg, mais, pois que estavam descansados e com sede de sangue. E eram conduzidos por Vagnad.
 
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>Il Monstro<
view post Posted on 5/6/2008, 04:37




- Arqueiros!

E ao sinal de Vagnad, mais homens se revelam, empunhando arcos, e começam a disparar em direção à tropa em retirada. Alguns são abatidos ali mesmo, outros entram em pânico e tentam escapar às flechas desviando para o lado, apenas para serem finalmente sobrepujados pelos mortos-vivos.

Os homens de Berg são agora menos de vinte, mas os que restam compartilham da mesma fúria que seu capitão que segue, imbatível, à frente. As flechas e a dispersão de parte da tropa causam uma pequena confusão que garante aos fugitivos uma pequena margem à frente dos mortos vivos. Mas agora a cavalaria de Vagnad soma três vezes o seu número.

- Avante, homens! Evitem danificar os membos!

E a cavalaria de Wur-Tatan avança no momento em que Julius chega ao pé da encosta. Os fugitivos devem subir, seus caçadores, descer. Os homens de Berg oferecem feroz resistência, e nenhum dos que tombam por lá deixa de abater pelo menos um oponente. Julius deita três, e corta com seu machado a cabeça de um cavalo, cujo corpo rola ladeira abaixo levando mais alguns cavaleiros.

Com isso os demais passam a tentar evitar o confronto direto, buscando cercar o Cachorro Louco, enquanto ele prossegue ladeira acima. Seus homens estão derrotados, mas ele permanece em movimento. Vagnad a cada momento é aturdiso por um novo feito de seu adversário, e decide que ele não pode deixar a planície com vida, abandonando os planos de Wur-Tatan de torná-lo um dos seus generais. Prepara sua lança e manobra o cavalo para aproximar-se pelo flanco de seu antigo aliado.

- Julius, agora você vem para o nosso lado, por bem ou por mal!

- Vai virar comida de corvo, Olho-de-corvo!

Com um puxão da rédea Julius coloca o corpo do cavalo à frente da lança do inimigo, que o trespassa. Antes de morrer, o animal relincha agonizante e empina, impedindo a passagem do cavalo de vagnad. As bestas colidem e seus cavaleiros caem esparramados, um para cada lado.

Vagnad levanta-se rapidamente sacando sua espada, tentando entender o que aconteceu. Julius corre me sua direção como um louco, Vagnad prepara-se para o embate. A lâmina de Berg voa com grande rapidez, cruzando em segundos o espaço até Vagnad. Ele percebe a manobra do inimigo tarde demais. Consegue bloquear os machado, que voou ao seu encontro antes de seu dono, mas antes que pudesse se posicionar Julius já lhe cai acima, empunhando uma espada de lâmina curta. Eles rolam por poucos metros, ladeira abaixo, em ferrenho embate.

- Será possível que esse homem seja um demônio?

É o que Vagnad pensa so segundo em que consegue perceber seu rosto, lívido de ódio, a barba branca desgrenhada salpicada de sangue, os dentes à mostra. Vagnad consegue deter sua mão da espada, mas nesse momento Julius enterra os dentes em seu pescoço! Com um uivo de dor Vagnad o chuta para longe. Julius cai de costas mas se levanta rápido como um raio, mas para sua surpresa dispara em direção ao bosque, depois de hesitar por um segundo, decidindo se não voltaria ao seu oponente. Ao que parece não estava tão louco assim.

Vagnad mantém uma mão sobre o pescoço ferido, e percebe que ela já está encharcada de sangue.

- Homens! Atrás dele...

Não consegue terminar a frase antes de desmaiar. Seus homens estão dispersos em diversos pontos e demoram até aperceberem-se do que aconteceu. Julius desaparece no meio do bosque.
 
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view post Posted on 27/2/2018, 22:11




Golpe do acaso ou destino? Não importa. O fato é que a sorte parecia estar a seu lado.

Wur-Tatan examinava o poderoso corpo de seu general. Constituição perfeita, membros intactos e a vida se esvaindo lentamente à medida em que o carmim pintava o solo.

Se não mais serviria como comandante de suas tropas, Vagnad se tornaria aquilo que ainda lhe faltava: o baluarte capaz de liderar qualquer investida e destruir a pouca força restante na moral de seus adversários.

Mas para isso, precisava agir logo. O encanto deveria se iniciar enquanto o corpo ainda vivia. O ritual seguiria noite adentro, até que, ao primeiro raio de sol...

Por falar em noite adentro - Wur-Tatan pensava agora em seu segundo presente da grande graça, aquele que tentava lhe escapar - ainda faltava uma hora para o pôr-do-sol. Embora Julius estivesse a abrir vantagem bosque adentro, o bruxo-caçador tinha confiança de que, com o cair da noite, se tornaria presa fácil para seus poderes.

Seria interessante... - o bruxo sorriu com o canto da boca, enquanto se dobrava, sobre os joelhos. Olhos fechados e cabeça abaixada, proferiu as palavras proibidas, sem que houvesse ali qualquer alma para testemunhá-las.

Então levantou-se. E era dois.

Seus olhares se cruzaram rapidamente. O primeiro se dirigiu ao corpo do guerreiro, que ainda convalescia. O segundo, mantendo o sorriso torto no rosto, tomou lentamente o caminho do bosque.
 
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58 replies since 27/1/2006, 05:09   1016 views
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