| Capítulo I
Ludiar, a famosa cidade e entreposto comercial do Reino de Sander, onde as caravanas se encontram vindas tanto das regiões costeiras do oeste quanto dos reinos do sul. Grandes são os comboios carregados de produtos exóticos ou essenciais que abastecem a capital Sander e as terras centrais e ricos tornam-se os homens que viajam para além das terras do rei, comercializam com os povos bárbaros e retornam com suas vidas. A viajem até Ludiar não seria com certeza um caminho fácil a seguir por viajantes sem o conhecimento da região pois a Floresta dos Lagartos, denominada assim por causa da grande quantidade de estranhos habitantes escamosos em seus lagos e riachos, deveria ser atravessada. Uma barreira natural que separa Sander de uma guerra contra os povos bárbaros das regiões ermas. Cavalgando a dois dias pelas pradarias das regiões selvagens, seguindo o curso do rio Indir, numa região dominada por clãs bárbaros a muitas gerações, porém já afixada ao Reino de Sander em seus mapas mesmo sem ter sido conquistada, é avistada a algumas léguas de distância a Floresta dos Lagartos com suas árvores imponentes. _ Finalmente chegamos a floresta dos lagartos. Talvez em cinco luas nós a atravessemos e estaremos finalmente em Ludiar. _ A esta distância a floresta me parece um pouco estranha Kile. Ela me parece muito fechada. Cinco luas presumo ser pouco para esta travessia. _ Nós saberemos quando nos aproximarmos. Vamos. Caia a noite quando eles se aproximaram e a floresta realmente não era o que Kile pensara, o nome ideal talvez não fosse floresta dos lagartos e sim selva dos lagartos pois parecia impenetrável, com cipós por toda a parte, mata alta e muitas árvores pantaneiras. Por toda a parte é possível se perceber pequenos olhos brilhantes que parecem vigiar a periferia da mata do meio da escuridão como guardas vigiando seu castelo em um cerco noturno. _ Realmente cinco luas não serão o suficiente, pois parece que teremos que entrar a pé neste labirinto natural. _ Eu não vou deixar meu cavalo aqui, ele me custou várias moedas. -- Retruca Lumank. _ Quando chegarmos a Ludiar e vendermos o Rex compraremos cavalos de batalha, estes vamos soltar nas pradarias pois não há como leva-los conosco. _ E eu ficarei muitas moedas menos rico. Maldição! Até mesmo os mosquitos que rondavam os dois afastaram-se com a blasfêmia. Kile desce do cavalo e começa a montar acampamento. _Amanhã quando o Sol despontar no horizonte desbravaremos esta mata inóspita. _ Nossas provisões estão acabando, teremos que caçar para repo-las. Certamente comeremos lagarto assado. -- diz Kile já procurando por algum. Enquanto comem as últimas porções de carne salgada com vinho e queijo sentem-se observados por presenças oriundas das profundezas daquela floresta dantesca. _ O primeiro turno é meu. -- diz Lumank procurando um bom ponto de observação. _ Certo. Acorde-me se precisar. Lumank senta-se em uma pedra de baixo de uma árvore solitária, cobre-se com seu manto, pois o frio nestas regiões é algo que não se despreza, e se aquece perto do fogo. Fica atento a qualquer acontecimento estranho. Parece tudo tranqüilo, pensa ele. Então descansa. A lua já estava alta no céu quando das entranhas da selva, como vindo das profundezas da alma, ecoa um urro tão sobrenatural e monstruoso que com certeza acordaria até os mortos de seu descanso eterno. Kile acorda com sua maça em uma das mãos e com a bíblia na outra, pronto em posição de combate. _ Jesus! O que esta havendo nesta floresta profana! -- Kile olha em volta e vê apenas Lumank de pé olhando fixamente para a floresta e resmungando. _ Parece que existem lagartos grandes nessa floresta. -- diz Lumank com a Escanosa em punho. _ Demônios estão em toda parte e esta floresta com certeza não é exceção. Em seqüência do abominável urro Kile e Lumank escutam somente árvores sendo derrubadas no interior da floresta cada vez mais distante. _ Seja o que for não esta vindo em nossa direção. _ Mas talvez encontremos esta criatura quando estivermos atravessando a floresta amanhã. -- afirma Lumank tentando dominar os cavalos assustados e ariscos com o terror oculto. _ Praga! Vamos soltar logo esses cavalos! _ Será melhor. Não vamos mais usa-los mesmo. O terror dos cavalos é bem compreensível pois o urro com certeza não era deste mundo. Então os cavalos são soltos e correm em fuga pelas pradarias. _ Eles sabem que tem algo terrível nessa floresta. -- diz Lumank pensando nas moedas que perdeu. Kile apenas observa a floresta viajando em seus pensamentos. A floresta volta ao seu silêncio normal apenas com o vento soprando nas copas de suas árvores que as vezes parecem vivas. _ Esse acontecimento serviu para alguma coisa. _ Para que Lumank ? _ Está na hora do vosso turno. O galo nessa terra é um pouco violento para acordar as pessoas. -- explica Lumank com um sorriso irônico. Kile prepara um fumo e continua a vigília pelo resto da noite.
Amanhece nas pradarias bárbaras e o sol parece enfurecido com algo, pois o calor emana de uma forma tão forte que logo assaria um javali apenas com seus raios mortíferos. _ que calor dos infernos! -- explana Kile levantando acampamento. _ E nós não vimos nenhum rio por perto. Nossa água está no fim. -- Responde Kile. _ Dentro da floresta encontraremos água certamente. Vamos arrumar tudo e atravessa-la o quanto antes, se ficarmos aqui vamos morrer de calor. Na periferia da floresta pode-se sentir o fedor de pântano e o calor úmido próprio deste tipo de terreno. Cantos de pássaros que soam como choro de criança também podem ser ouvido ao redor. A mata parece viva e nociva. _ Essa floresta é um pântano desgraçado! -- reclama Kile afundando seu escarpim na lama quase até o joelho. Kile Rodz e Lumank Lhulier avançam pela densa floresta abrindo seu caminho a facão e arrancando vários pequenos lagartos de seus ombros que a toda hora caem ou pulam dos galhos querendo seguir viagem com os guerreiros. _ Criaturas dos infernos! Voltem para as profundezas do lodo! Essa floresta parece ter mais lagartos que arvores! A caminhada pela floresta não é fácil, ainda mais para guerreiros acostumados a cavalgar por terras vastas e abertas e não a se embrenhar em florestas virgens semi- pantanosas. Seguem mata a dentro por cerca de cinco horas com o calor sufocando sem nem uma gota de água fresca para beber, apenas a água envenenada do pântano borbulhante a qual o mínimo gole poderia levar às pragas. O odor do pântano e seu aspecto bizarro com certeza tem alguma semelhança com os poços de enxofre do inferno mais profundo. Seguindo por mais uma hora, saindo da região dos poços de lodo e entrando numa região de árvores e arbustos, algo atrai a atenção de Kile. _ Parece que o pântano estava apenas na periferia. -- diz Lumank elevando o ânimo. Os arbustos movem-se estranhamente por trás da trilha precária. _ Lumank... tem alguma coisa movendo-se na nossa frente, mas não consigo ver com essas árvores bloqueando. O tempo parece congelar quando a alguns metros a frente um crocodilo monstruosos de aproximadamente nove metros rasteja em busca de algo ou alguma coisa. _ É um crocodilo gigante... -- indica Kile falando em um tom baixo. _ Parece que não nos percebeu. Deve estar a procura de alguma coisa. _ Vamos segui-lo furtivamente, talvez esteja indo para um rio ou lago com água limpa. -- indica Kile seguindo por uma trilha paralela. Por cerca de alguns minutos seguem o grande reptil até uma pequena lagoa com águas límpidas onde mergulha, atravessa suas águas e descansa na outra margem lamacenta. _ finalmente encontramos água. Vamos descansar aqui, essa floresta é muito estafante e ainda temos um longo caminho a percorrer. _ Fique atento. Deve haver mais crocodilos por perto. A lagoa parece um pequeno oásis perdido no meio da floresta fétida. O mais estranho talvez neste lugar seja, os profundos sulcos na terra, que formam uma trilha da floresta até o pequeno lago e retornam a floresta o qual Lumank percebe enquanto enche os cantis. _ Veja isto Kile! Um rastro estranho! Além dos rastros restos de carne e ossos de crocodilo rodeiam o local. _ Maldição... Parece que aquele monstro da noite passada esteve por aqui. Pelas marcas é realmente grande. Talvez dez ou onze cavalos e também muito pesado. _ O que faria isso com um crocodilo gigante. Partindo-o como se não fosse nada. _ E passou por aqui a pouco tempo. _ Vamos descansar e partir o mais rápido possível deste lugar. Não podemos ficar imaginando que tipo de monstro é esse. Certamente Kile não é alguém do tipo que teme o desconhecido e muito menos foge dele, mais o urro da noite anterior gelaria até mesmo o mais bravo gladiador das arenas de Zem. Kile tenta não pensar nisso e começa a abrir uma nova trilha pela mata, agora já um pouco mais aberta e com árvores maiores e mais largas. _ Felizmente saímos daquele pântano desgraçado e lamacento. Essa parte da floresta não é muito diferente das que conhecemos. -- lembra Lumank. _ E cada vez mais parece que abre, se continuar assim será razoavelmente fácil terminar a travessia deste caos infernal, Lumank. O dia prossegue calmo sem nenhum sinal da criatura, apenas alguns grandes lagartos parecidos com crocodilos atravessam o caminho mais não parecem oferecer perigo algum, nem mesmo rastros da besta. Assim se passam dois dias na floresta. A caça é boa e farta, os cipós oferecem água e como as árvores são altas e robustas, como grandes carvalhos e pinheiros, o sol destruidor não incomoda. _ Acho que julgamos apressadamente essa floresta. A travessia esta tranqüila nestes dois últimos dias. Parece que a região pantanosa esta apenas nos limites como protegendo seu interior. _ Não sei Kile, aquele urro foi muito estranho. Talvez essa proteção que você diz esteja mantendo algo no seu interior, impedindo que intrusos entrem e ou que alguém ou alguma coisa saia. _ Não esquente a cabeça com isso Lumank, esse monstro não aparecerá. A trilha dele estava na direção oposta da nossa. Enquanto conversam o crepúsculo começa a dominar os céus e as estrelas surgem juntamente com a lua para proclamar o inicio da noite. Gotas de chuva começam a deixar o infinito e encontrar a terra tão de repente como um bando de salteadores atacando uma caravana de surpresa. Raios cortam o céu como lâminas bárbaras em um levante de fúria enlouquecida. _ Mais que inferno! De onde vieste esta chuva! _ Essa noite promete surpresas e esta deve ser somente uma delas! Vamos procurar um abrigo depressa! Rapidamente as esparsas gotas se transformam em um temporal de trovões e raios vindo do céu, que enegreceu e transformo-se em um oceano de piche furioso cuspindo relâmpagos e estouros bizarros por toda vastidão. Correndo pela floresta em busca de algum tipo de abrigo Kile e Lumank não tem sucesso na busca pois nem mesmo uma gruta ou caverna parece haver por ali. Somente árvores e escuridão. _ É melhor e mais seguro ficarmos parados Kile! Estão caindo muitos raios e não é possível enxergar nada nesta maldita escuridão! Os estrondos dos trovões são tão altos que Kile escuta com dificuldade o que Lumank fala. _ Vamos encostar em baixo de uma árvore e aguardar o fim da tempestade! O céu parece castigar a terra, devastando a copa das árvores com raios que explodem em feixes de luz branca. Encharcados os cavaleiros aguardam o fim da chuva quando... _ Escute Kile... _ Eu não escuto nem mesmo meus pensamentos com esses trovões! Então o urro assustador da primeira noite se repete ecoando pela floresta. _ Cão! Eu estou escutando Lumank! Parece ser a criatura profana! Esta muito perto. _ Por de trás daquelas árvores. Algo se arrastando. _ Maldição... Quando um relâmpago corta a noite e ilumina a floresta a besta é revelada. _ Por Deus uma Hidra! A criatura com cerca de quinze metros de altura provida de uma carapaça de escamas vermelhas e negras surge das entranhas das trevas observando suas próximas presas com suas sete cabeças bestiais, cada uma com um olhar voraz e sanguinolento, providos de uma inteligência primitiva e vil. Os dentes afiados e mortíferos a ponto de partir um homem sem esforço brilham na mandíbula da besta ancestral. _ Corra! -- grita Kile pensando como vencer a morte. Os dois guerreiros partem pela floresta tentando despistar a criatura que os segue derrubando árvores centenárias como palitos e numa velocidade incrível para uma besta que se arrasta. _ Nós não vamos conseguir Kile! Vamos parar e lutar! _ Não seja louco! Corra, corra! O lagarto titânico não desiste de suas presas. Certamente ele não esta acostumado a perder a caça e continua seguindo-os com toda sua fúria bestial tentando cerca-los pelo labirinto de árvores. _ Kile! Ela esta vindo pelo nosso lado! _ Evasão pelos flancos! Agora! Os dois combatentes separam-se e momentaneamente a hidra vacila em qual seguir fazendo assim que os dois ganhem um tempo valioso. A tempestade cada vez mais forte faz a terra tremer com explosões que despedaçam árvore por toda parte. Mais a frente, Kile percebe que não esta sendo seguido, descansa procurando algum abrigo e por pura sorte do destino ou talvez não, ele encontra uma abertura na casca de uma árvore o qual além de um abrigo seria um esconderijo perfeito nesta hora fatídica. _ Agora onde esta Lumank? Lumank não tem tanta sorte pois a besta o persegue até uma grande pedra onde Lumank encontrasse sem nenhuma saída a não ser o combate. Lumank retira sua Escanosa, balanceia-a no ombro, prepara seu escudo e posiciona-se em posição de combate contra um oponente talvez invencível. _ Se eu morrer aqui, será com um grito de bravura na garganta! -- profetiza Kile com um olhar sobrenatural. Então como uma praga de um deus onipotente, um relâmpago estoura uma das cabeças da besta infernal, que se contorce e se debate na escuridão derrubando várias árvores ao seu redor. Após o raio o seu urro é abafado pelo estrondo do trovão. Labaredas de fogo espalham-se pela escuridão e carne queimada vai a terra. Lumank agradece aos deuses pelo ocorrido e vê no céu uma forma espectral do que seria a deusa da morte com sua face bizarra observando a cena lendária. Por alguns instantes Lumank questiona o que vê parecendo não acreditar mas, algo o puxa pelo manto para fora daquela cena. É Kile que voltou para ajuda-lo. _ Vamos sair daqui! Encontrei um esconderijo em uma árvore! Eles seguem em direção a velha árvore enquanto os urros desesperados da fera vão ficando para trás. _ Rápido, antes que a besta nos siga! _ Aconteceu uma coisa Kile! Mas eu não sei se foi real! _ Não escuto o que diz! Por aqui! A alcova surge a frente e a segurança por enquanto é alcançada. _ Eu vi Kile. -- diz Lumank cuspindo palavras sem sentido. _ Eu também vi a Hidra. Era com certeza um ser mitológico e devastador. _ Não! Eu vi a deusa da morte e ela me salvou! Não quis minha alma! _ Não diga blasfêmias. Você esta fora de si. _ Dane-se! Eu sei o que eu vi. Um raio desceu de sua mão e extirpou uma das cabeças do demônio como se extirpa uma verruga. _ Você deve ter visto coisas por estar tão perto da morte. Você teve muita sorte do raio ter caído na fera. _ E eu estava perto da morte. Nós já passamos por situações de tensão antes e eu nunca vi coisas como você esta dizendo. _ Certo talvez você tenha visto, mas agora temos que esperar a tempestade passar e rezar para que a besta não nos encontre. Certamente uma criatura daquelas não morreria abatida por um raio. _ As lendas dizem que uma hidra quando perde uma cabeça duas nascem no lugar. -- Diz Lumank vendo a chuva. _ Não por fogo. Extirpada com fogo não. A noite prossegue com a tempestade castigando a floresta sem tréguas e as vezes pode-se escutar a besta a procura de suas presas pela madrugada, urrando na escuridão. _ Esta fera guarda a floresta. _ E guarda a floresta por que? Será que a algo de valor aqui? _ Não sei, estou apenas especulando Kile. Tentando encontrar uma razão para uma fera deste porte viver em uma floresta relativamente pequena. _ Acho que você deveria parar de imaginar coisas. Hoje você já viu até a morte, neste momento da sua cabeça somente irá sair besteiras e blasfêmias. _ Talvez. Neste momento enquanto a discussão acontecia, um vulto diante da abertura na árvore os surpreende. Uma figura humanóide ameaçadoramente adentrando a alcova no meio da chuva torrencial. Kile saca seu punhal e sem pensar duas vezes o arremessa com uma violência extrema em direção do vulto que por sua vez num reflexo felino esquiva-se e faz com que o punhal perfure apenas o ar e perca-se na escuridão. _ Kile, Lumank! Por Deus! Querem me matar? _ O que! -- Kile reconhece a voz como de seu irmão Eddye.
* Há muitos anos atrás a grande peste consumia os homens nas terras do Reino de Sander. Muitas famílias foram desfeitas e separadas durante os anos draconianos de doença e fome. “A terra esta amaldiçoada!” diziam os sábios do grande rei Atlus de Sander. Amaldiçoada pelos espíritos dos mortos na Guerra da Conquista travada a décadas contra os povos primitivos, que não foram subjugados até a aniquilação total. O grande rei Atlus, que liderou pessoalmente a Armada da Conquista, não acreditava nestas lendas sobre maldições e seguiu até a ordem mais sábia de cavaleiros da Igreja, a Ordem da Tocha Rubra a qual, possuía grande saber. O líder da ordem, Sir Alberon, abriu os olhos do rei ateu alertando-o sobre seu próprio conselho de sábios os quais, eram conhecidos nos submundos como grandes feiticeiros detentores de energias profanas oriundas dos infernos. Ciente das graves acusações sobre seu conselho de sábios, Atlus reuniu um grupo de seus melhores guerreiros, entre eles seu irmão Dustin o valoroso e membros da Ordem da Tocha Rubra com a finalidade de descobrir a verdade. Embrenhou-se nos subterrâneos e masmorras do Castelo de Sander, em locais construídos a séculos nas entranhas da terra, enfrentando criaturas terríveis e feitiços poderosos nos covis dominados pelos bruxos e conseguiu provas contra os mesmos acusando-os de traidores da nação e bruxaria, iniciando assim a Guerra da Traição. Durante anos houveram batalhas terríveis banhadas a sangue e magia onde muitos morreram até as forças do rei, com a ajuda da Ordem da Tocha Rubra, sobrepujaram a magia negra dos feiticeiros necromânticos. No fim da grande guerra a terra voltou a prosperar como nunca antes visto. O reino e seu grande rei Atlus converteram-se ao ensinamentos da Santa Igreja Católica e a Ordem da Tocha Rubra se tornou a mais importante ordem do reino de Sander. No meio da grande guerra a ordem da Tocha Rubra acolheu muitas pessoas em seus mosteiros, pessoas que perderam plantações, família ou a paz interior. Entre estas pessoas estavam Kile, Lumank e Eddye, crianças que perderam a família na guerra e não tinham mais como sobreviver sem amparo. Eles cresceram nos ensinamentos e na filosofia da Ordem como irmãos de criação e de religião e tornaram-se sacerdotes guerreiros que manteriam a Ordem e converteriam povos. Partiram pelo mundo com suas missões de evangelização e busca de conhecimentos.
*
_ Deixe-me entrar. E não me arremesse mais nada! _ O que esta fazendo aqui? -- indaga Kile apertando a mão de Eddye com força. -- Quase atravesso sua garganta com o punhal! _ Como nos encontrou neste inferno Eddye? Lumank surpreso ao reencontrar Eddye em uma situação incomum como esta parece não acreditar.” Tu não encontraste a Hidra?” _ Por Jesus! Esta tempestade maldita veio do nada. Uma hidra, você disse, então aqueles urros terríveis eram isso! Vós a vistes? _ Por pouco eu não a despedacei com minha Escanosa. Se não fosse a ... _ Cale-se Lumank! -- interrompe Kile. -- Um raio atingiu a fera e nós escapamos para esta alcova. Lumank esteve frente a frente com ela e diz que teve uma visão. _ Eu vi a deusa da Morte no céu, e ela, lançou um raio na besta assassina fulminando-a. _ Há, há, há! Vocês tem tido grandes aventuras nestas terras. _ Deixe as fantasias de Lumank para depois e diga como nos encontrou. -- Pergunta Kile acendendo um fumo. _ Eu estava na cidade de Traxus ao leste daqui nos limites das terras bárbaras. _ Nós estivemos por lá a alguns dias. -- interrompe Kile passando o fumo a Lumank. _ Certo, e lá eu fiquei sabendo em uma taverna, que dois clérigos foram em busca do cálice Rex nas catacumbas proibidas de Traxus. Pela descrição que consegui, com certeza eram vocês. Então rumei para as catacumbas mas não encontrei nada além de pilhas de ossos partidos e um altar vazio. _ O Rex estava guardado por uma horda de guerreiros mortos trazidos a vida por algum ritual ancestral. -- completa Lumank espalhando fumaça pelo ar. -- Não tivemos grandes problemas. _ Então vocês estão com o Rex? _ Sim. Responde Kile. _ Deixe-me vê-lo. Kile retira o artefato da mochila desenrolando-o de um pano negro. “Continue contando.” _ Eu segui a trilha de vós até a floresta. Essa mata infernal. E por sorte encontrei-os aqui no meio desta tempestade. Kile entrega o cálice nas mãos de Eddye. _ Mas é magnífico. Não pensei que fosse tão magnífico. _ Vamos vende-lo em Ludiar. -- diz Kile. _ O que? Não podem fazer isto! És um artefato da Igreja. Por isto vocês seguiram para esta floresta, para chegar até as rotas de comercio. _ Eddye, nós sabemos dos seus votos, nós fizemos os mesmos, e sabemos, que são somente palavras. -- Diz Kile com um semblante de desprezo. _ Não para os Cavaleiros da Tocha Rubra. -- Responde Eddye firmemente. -- Mas eu não quero me envolver no que vocês fazem. Se alguém mais souber disso a fogueira irá ser acessa. _ Ninguém da atenção a isso Eddye. A igreja não é como antes. Os bispos pensam apenas em terras e ouro. -- responde Lumank retirando o cálice das mãos de Eddye. _ E iram agir como eles? Traindo a Deus! _ Nós não estamos traindo Deus. Não estamos roubando o ouro do povo nem subjugando ninguém, essas relíquias não significam nada no Reino de Deus. -- opõe Kile apagando o fumo no seu escarpim. _ Logo serão julgados por ele, e saberão se és certo ou errado. _ Todos seremos julgados um dia. -- conclui Lumank pensativo vendo a chuva cair como um castigo de Deus. O silêncio toma conta da alcova mesmo com amigos que não se vêem a muito tempo e estão cheios de estórias a contar. Os urros cessaram na madrugada e a floresta parece acalmar assim como os ânimos dos cavaleiros. Lumank quebra o silêncio sepulcral. _ Por onde tens andado Eddye? Porque passou por Traxus? _ Eu estava indo para o mosteiro do norte descansar e depois eu ia partir para capital de Sander tentar conhecer o grande Sir Alberon. Então fiquei sabendo de vós. _ E virás conosco a Ludiar? _ Sim. Tentarei impedir que façam mais tolices. _ Nós faremos o que quisermos. -- resmunga Kile. _ Então eu vou dormir um pouco. -- diz Lumank encostando-se na árvore. _ O turno é meu. -- explana Kile preparando outro tabaco. _ Eddye descansa de olhos abertos.
|