cavaleiros da morte, texto

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Lashdanan
view post Posted on 5/8/2003, 18:38




OS CAVALEIROS DA MORTE
Episódio I
Por Lashdanan


Prólogo


... o aço da velha espada parte-se em pedaços quando Lumank a bloqueia com seu escudo abençoado pelo próprio bispo.
Os servos do demônio parecem dominados por uma bizarra força vingativa de matar aqueles que a muito tempo os aprisionaram nas catacumbas de Traxus para guardar seu mais valioso tesouro, o cálice Rex, roubado da Santa Igreja em Norgafh, capital do estado sacro. Kile no entanto não pensa muito nisto pois o momento exige ação e não reflexão visto que ele ainda tem por combater dois esqueletos portando armas de morte, cada um empunhando martelos de guerra e trajando cotas de malha corroídas pela ferrugem porém ainda eficazes para um combate.
Lumank, treinado deste sua infância para não temer criaturas profanas que desafiam sua fé, despedaça o crânio de um dos esqueleto com um murro poderoso e então caminha em direção ao altar, onde o artefato sagrado repousa por séculos sobre um manto cor de sangue. Lumank observa o cálice no altar e por alguns instantes sua mente é invadida por uma força estranha que faz com que ele fique paralisado contemplando a majestade da relíquia sagrada.
Enquanto Kile golpeia o primeiro adversário com sua maça, a tampa de uma das tumbas é arremessada para o alto com uma força sobre-humana despedaçando-a no teto obrigando Kile a se proteger com seu escudo, e de dentro, ergue-se um cavaleiro, talvez morto a mais de um século, trajando uma armadura cintilante de placas feitas de aço e uma ornamentada espada de duas mãos que é erguida em posição de combate frente aqueles que interferem em seu sono eterno.
O salão é tomado por um odor fétido e por uma névoa verde como o musgo que emana do sarcófago aberto lembrando vagamente o fedor do enxofre fervente do inferno queimando carne humana.
-- Mande-o de volta ao inferno Lumank! -- grita Kile livrando um dos demônios do peso de sua arma maldita, pois este não tem mais um dos braços e logo não terá a cabeça.
O guerreiro morto caminha em direção a Lumank que acordado de seu transe pelo chamado de Kile, lembra-se dos velhos contos dos clérigos de sua ordem, sobre hordas de mortos marchando triunfantes por sobre a terra no dia do juízo final, no dia do julgamento dos homens, os quais não poderiam mais serem mortos por nenhuma força terrena, porém ele não acredita nestas profecias e afastando esses pensamentos de sua mente e alma desembainha sua espada de duas mãos, a qual, ele mesmo forjou e denominou Escanosa, tendo em sua lâmina várias reentrâncias com a finalidade de cortar melhor os ossos de seus oponentes, como pequenos gravetos. Não haveria oponente melhor, pensou.
Kile fulminou as duas carniças restantes com golpes de maça em seus crânios vazios transformando ossos em pó, não se esquecendo de guardar o dente de um dos esqueletos como lembrança deste combate, antes de ajudar lumank contra o oponente titânico.
Lumank pode ver o brilho rubro que emana do interior do crânio do ser bizarro quando este o golpeia com uma violência assustadora, vinda das profundezas do caos, mas por uma esquiva que somente os bravos poderiam executar, Lumank evita a lâmina mortal saltando para o flanco esquerdo do oponente, então balanceia a Escanosa e penetra a placa de aço partindo as costelas do horror. O cavaleiro morto desce a espada ancestral e atinge a ombreira de Lumank partindo-a e tirando sangue quente dos vivos. Desce novamente, mas é aparada pela fúria de Lumank. Escanosa corta o ar e destrói ossos. O inimigo cambaleia por instantes sem o apoio de vários ossos e tomba diante da bravura do adversário. Agora somente os vivos de pé.
-- Pegue o cálice Kile. -- Kile observa o retrato da fúria nos olhos de Lumank antes de prosseguir até o altar.
-- Este deve ser o último dos ladrões que invadiram Norgath no dia do roubo. – diz Lumank. – Essa foi a recompensa pelo roubo, ser aprisionado junto ao saque para sempre.
Os dois guerreiros sobem o altar intocado a muito tempo por mãos mortais, desde que ali foram sepultados os guardiões macabros em algum ritual necromantico. Kile retira o cálice de sua alcova maldita, enrola-o em um tecido de veludo negro e o guarda em sua mochila.
-- Os conhecimentos que a igreja nos passou estão sendo de grande valor. Agora nós podemos viajar com o espólio das relíquias em busca dos conhecimentos que se perderam na época das trevas antes da Guerra da Traição. – diz Kile com o brilho da ambição nos olhos. -- E esta é apenas a primeira peça que nos levara a eles. -- Lumank apenas confirma balançando a cabeça, assustado com a ambição de Kile.
Retornando pelos labirintos das Catacumbas de Traxus a dúvida sobre a legalidade do ato é questionada.
-- Estamos fazendo a coisa certa Kile? – diz Lumank pensativo. -- Nós formalmente estamos em cruzada de evangelização, se nossos superiores ficarem cientes da verdade seremos certamente queimados como hereges.
Kile olha Lumank surpreso. -- O que estás dizendo? Esqueceste no que acreditamos? -- diz Kile alterado. – Essas peças não tem significado algum, o poder de Deus é muito maior que um mero cálice!
-- Eu não sei mais o que pensar! Quando eu vi o cálice de perto eu senti uma força estranha emanando dele, uma força tremenda, tão forte que eu não pude nem mesmo me mexer.
-- Aquele salão era maldito! Existiam muitas forças sinistras atuando, um feitiço muito forte foi executado ali. Estás imaginando coisas.
-- Eu não sei, mas se alguém descobrir o que iremos fazer, que iremos vender uma relíquia sagrada a fogueira será acesa.
-- E quem irá descobrir? Nossos superiores estão mais preocupados com eles e com suas terras, não ligam para mais nada nesses tempos. – diz Kile com um sorriso no rosto.
-- Nem mesmo nossa Ordem é como antes, desde que Sir Alberom nos deixou trevas pairam sobre nós. Será que os tempos de trevas estão voltando?
-- Talvez. Agora vamos sair deste covil de demônios, pois não há mais nada de valor nestes labirintos. Nem mesmo a espada do guardião estava em condições de uso ou venda.
-- Onde então venderemos o cálice?
-- Partiremos para o sul onde as rotas de comercio se encontram e as mulheres são as melhores.









 
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>Gilius<
view post Posted on 13/8/2003, 09:09




Muito bom!

Quando continua?
 
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Lashdanan
view post Posted on 18/8/2003, 17:32





Capítulo I


Ludiar, a famosa cidade e entreposto comercial do Reino de Sander, onde as caravanas se encontram vindas tanto das regiões costeiras do oeste quanto dos reinos do sul. Grandes são os comboios carregados de produtos exóticos ou essenciais que abastecem a capital Sander e as terras centrais e ricos tornam-se os homens que viajam para além das terras do rei, comercializam com os povos bárbaros e retornam com suas vidas.

A viajem até Ludiar não seria com certeza um caminho fácil a seguir por viajantes sem o conhecimento da região pois a Floresta dos Lagartos, denominada assim por causa da grande quantidade de estranhos habitantes escamosos em seus lagos e riachos, deveria ser atravessada. Uma barreira natural que separa Sander de uma guerra contra os povos bárbaros das regiões ermas.
Cavalgando a dois dias pelas pradarias das regiões selvagens, seguindo o curso do rio Indir, numa região dominada por clãs bárbaros a muitas gerações, porém já afixada ao Reino de Sander em seus mapas mesmo sem ter sido conquistada, é avistada a algumas léguas de distância a Floresta dos Lagartos com suas árvores imponentes.
_ Finalmente chegamos a floresta dos lagartos. Talvez em cinco luas nós a atravessemos e estaremos finalmente em Ludiar.
_ A esta distância a floresta me parece um pouco estranha Kile. Ela me parece muito fechada. Cinco luas presumo ser pouco para esta travessia.
_ Nós saberemos quando nos aproximarmos. Vamos.
Caia a noite quando eles se aproximaram e a floresta realmente não era o que Kile pensara, o nome ideal talvez não fosse floresta dos lagartos e sim selva dos lagartos pois parecia impenetrável, com cipós por toda a parte, mata alta e muitas árvores pantaneiras. Por toda a parte é possível se perceber pequenos olhos brilhantes que parecem vigiar a periferia da mata do meio da escuridão como guardas vigiando seu castelo em um cerco noturno.
_ Realmente cinco luas não serão o suficiente, pois parece que teremos que entrar a pé neste labirinto natural.
_ Eu não vou deixar meu cavalo aqui, ele me custou várias moedas. -- Retruca Lumank.
_ Quando chegarmos a Ludiar e vendermos o Rex compraremos cavalos de batalha, estes vamos soltar nas pradarias pois não há como leva-los conosco.
_ E eu ficarei muitas moedas menos rico. Maldição!
Até mesmo os mosquitos que rondavam os dois afastaram-se com a blasfêmia.
Kile desce do cavalo e começa a montar acampamento.
_Amanhã quando o Sol despontar no horizonte desbravaremos esta mata inóspita.
_ Nossas provisões estão acabando, teremos que caçar para repo-las. Certamente comeremos lagarto assado. -- diz Kile já procurando por algum.
Enquanto comem as últimas porções de carne salgada com vinho e queijo sentem-se observados por presenças oriundas das profundezas daquela floresta dantesca.
_ O primeiro turno é meu. -- diz Lumank procurando um bom ponto de observação.
_ Certo. Acorde-me se precisar.
Lumank senta-se em uma pedra de baixo de uma árvore solitária, cobre-se com seu manto, pois o frio nestas regiões é algo que não se despreza, e se aquece perto do fogo. Fica atento a qualquer acontecimento estranho. Parece tudo tranqüilo, pensa ele. Então descansa.
A lua já estava alta no céu quando das entranhas da selva, como vindo das profundezas da alma, ecoa um urro tão sobrenatural e monstruoso que com certeza acordaria até os mortos de seu descanso eterno. Kile acorda com sua maça em uma das mãos e com a bíblia na outra, pronto em posição de combate.
_ Jesus! O que esta havendo nesta floresta profana! -- Kile olha em volta e vê apenas Lumank de pé olhando fixamente para a floresta e resmungando.
_ Parece que existem lagartos grandes nessa floresta. -- diz Lumank com a Escanosa em punho.
_ Demônios estão em toda parte e esta floresta com certeza não é exceção.
Em seqüência do abominável urro Kile e Lumank escutam somente árvores sendo derrubadas no interior da floresta cada vez mais distante.
_ Seja o que for não esta vindo em nossa direção.
_ Mas talvez encontremos esta criatura quando estivermos atravessando a floresta amanhã. -- afirma Lumank tentando dominar os cavalos assustados e ariscos com o terror oculto.
_ Praga! Vamos soltar logo esses cavalos!
_ Será melhor. Não vamos mais usa-los mesmo.
O terror dos cavalos é bem compreensível pois o urro com certeza não era deste mundo.
Então os cavalos são soltos e correm em fuga pelas pradarias.
_ Eles sabem que tem algo terrível nessa floresta. -- diz Lumank pensando nas moedas que perdeu.
Kile apenas observa a floresta viajando em seus pensamentos.
A floresta volta ao seu silêncio normal apenas com o vento soprando nas copas de suas árvores que as vezes parecem vivas.
_ Esse acontecimento serviu para alguma coisa.
_ Para que Lumank ?
_ Está na hora do vosso turno. O galo nessa terra é um pouco violento para acordar as pessoas. -- explica Lumank com um sorriso irônico.
Kile prepara um fumo e continua a vigília pelo resto da noite.

Amanhece nas pradarias bárbaras e o sol parece enfurecido com algo, pois o calor emana de uma forma tão forte que logo assaria um javali apenas com seus raios mortíferos.
_ que calor dos infernos! -- explana Kile levantando acampamento.
_ E nós não vimos nenhum rio por perto. Nossa água está no fim. -- Responde Kile.
_ Dentro da floresta encontraremos água certamente. Vamos arrumar tudo e atravessa-la o quanto antes, se ficarmos aqui vamos morrer de calor.
Na periferia da floresta pode-se sentir o fedor de pântano e o calor úmido próprio deste tipo de terreno. Cantos de pássaros que soam como choro de criança também podem ser ouvido ao redor. A mata parece viva e nociva.
_ Essa floresta é um pântano desgraçado! -- reclama Kile afundando seu escarpim na lama quase até o joelho.
Kile Rodz e Lumank Lhulier avançam pela densa floresta abrindo seu caminho a facão e arrancando vários pequenos lagartos de seus ombros que a toda hora caem ou pulam dos galhos querendo seguir viagem com os guerreiros.
_ Criaturas dos infernos! Voltem para as profundezas do lodo! Essa floresta parece ter mais lagartos que arvores!
A caminhada pela floresta não é fácil, ainda mais para guerreiros acostumados a cavalgar por terras vastas e abertas e não a se embrenhar em florestas virgens semi- pantanosas. Seguem mata a dentro por cerca de cinco horas com o calor sufocando sem nem uma gota de água fresca para beber, apenas a água envenenada do pântano borbulhante a qual o mínimo gole poderia levar às pragas. O odor do pântano e seu aspecto bizarro com certeza tem alguma semelhança com os poços de enxofre do inferno mais profundo.
Seguindo por mais uma hora, saindo da região dos poços de lodo e entrando numa região de árvores e arbustos, algo atrai a atenção de Kile.
_ Parece que o pântano estava apenas na periferia. -- diz Lumank elevando o ânimo.
Os arbustos movem-se estranhamente por trás da trilha precária.
_ Lumank... tem alguma coisa movendo-se na nossa frente, mas não consigo ver com essas árvores bloqueando.
O tempo parece congelar quando a alguns metros a frente um crocodilo monstruosos de aproximadamente nove metros rasteja em busca de algo ou alguma coisa.
_ É um crocodilo gigante... -- indica Kile falando em um tom baixo.
_ Parece que não nos percebeu. Deve estar a procura de alguma coisa.
_ Vamos segui-lo furtivamente, talvez esteja indo para um rio ou lago com água limpa. -- indica Kile seguindo por uma trilha paralela.
Por cerca de alguns minutos seguem o grande reptil até uma pequena lagoa com águas límpidas onde mergulha, atravessa suas águas e descansa na outra margem lamacenta.
_ finalmente encontramos água. Vamos descansar aqui, essa floresta é muito estafante e ainda temos um longo caminho a percorrer.
_ Fique atento. Deve haver mais crocodilos por perto.
A lagoa parece um pequeno oásis perdido no meio da floresta fétida. O mais estranho talvez neste lugar seja, os profundos sulcos na terra, que formam uma trilha da floresta até o pequeno lago e retornam a floresta o qual Lumank percebe enquanto enche os cantis.
_ Veja isto Kile! Um rastro estranho!
Além dos rastros restos de carne e ossos de crocodilo rodeiam o local.
_ Maldição... Parece que aquele monstro da noite passada esteve por aqui. Pelas marcas é realmente grande. Talvez dez ou onze cavalos e também muito pesado.
_ O que faria isso com um crocodilo gigante. Partindo-o como se não fosse nada.
_ E passou por aqui a pouco tempo.
_ Vamos descansar e partir o mais rápido possível deste lugar. Não podemos ficar imaginando que tipo de monstro é esse.
Certamente Kile não é alguém do tipo que teme o desconhecido e muito menos foge dele, mais o urro da noite anterior gelaria até mesmo o mais bravo gladiador das arenas de Zem. Kile tenta não pensar nisso e começa a abrir uma nova trilha pela mata, agora já um pouco mais aberta e com árvores maiores e mais largas.
_ Felizmente saímos daquele pântano desgraçado e lamacento. Essa parte da floresta não é muito diferente das que conhecemos. -- lembra Lumank.
_ E cada vez mais parece que abre, se continuar assim será razoavelmente fácil terminar a travessia deste caos infernal, Lumank.
O dia prossegue calmo sem nenhum sinal da criatura, apenas alguns grandes lagartos parecidos com crocodilos atravessam o caminho mais não parecem oferecer perigo algum, nem mesmo rastros da besta. Assim se passam dois dias na floresta. A caça é boa e farta, os cipós oferecem água e como as árvores são altas e robustas, como grandes carvalhos e pinheiros, o sol destruidor não incomoda.
_ Acho que julgamos apressadamente essa floresta. A travessia esta tranqüila nestes dois últimos dias. Parece que a região pantanosa esta apenas nos limites como protegendo seu interior.
_ Não sei Kile, aquele urro foi muito estranho. Talvez essa proteção que você diz esteja mantendo algo no seu interior, impedindo que intrusos entrem e ou que alguém ou alguma coisa saia.
_ Não esquente a cabeça com isso Lumank, esse monstro não aparecerá. A trilha dele estava na direção oposta da nossa.
Enquanto conversam o crepúsculo começa a dominar os céus e as estrelas surgem juntamente com a lua para proclamar o inicio da noite. Gotas de chuva começam a deixar o infinito e encontrar a terra tão de repente como um bando de salteadores atacando uma caravana de surpresa. Raios cortam o céu como lâminas bárbaras em um levante de fúria enlouquecida.
_ Mais que inferno! De onde vieste esta chuva!
_ Essa noite promete surpresas e esta deve ser somente uma delas! Vamos procurar um abrigo depressa!
Rapidamente as esparsas gotas se transformam em um temporal de trovões e raios vindo do céu, que enegreceu e transformo-se em um oceano de piche furioso cuspindo relâmpagos e estouros bizarros por toda vastidão.
Correndo pela floresta em busca de algum tipo de abrigo Kile e Lumank não tem sucesso na busca pois nem mesmo uma gruta ou caverna parece haver por ali. Somente árvores e escuridão.
_ É melhor e mais seguro ficarmos parados Kile! Estão caindo muitos raios e não é possível enxergar nada nesta maldita escuridão!
Os estrondos dos trovões são tão altos que Kile escuta com dificuldade o que Lumank fala.
_ Vamos encostar em baixo de uma árvore e aguardar o fim da tempestade!
O céu parece castigar a terra, devastando a copa das árvores com raios que explodem em feixes de luz branca.
Encharcados os cavaleiros aguardam o fim da chuva quando...
_ Escute Kile...
_ Eu não escuto nem mesmo meus pensamentos com esses trovões!
Então o urro assustador da primeira noite se repete ecoando pela floresta.
_ Cão! Eu estou escutando Lumank! Parece ser a criatura profana! Esta muito perto.
_ Por de trás daquelas árvores. Algo se arrastando.
_ Maldição...
Quando um relâmpago corta a noite e ilumina a floresta a besta é revelada.
_ Por Deus uma Hidra!
A criatura com cerca de quinze metros de altura provida de uma carapaça de escamas vermelhas e negras surge das entranhas das trevas observando suas próximas presas com suas sete cabeças bestiais, cada uma com um olhar voraz e sanguinolento, providos de uma inteligência primitiva e vil. Os dentes afiados e mortíferos a ponto de partir um homem sem esforço brilham na mandíbula da besta ancestral.
_ Corra! -- grita Kile pensando como vencer a morte.
Os dois guerreiros partem pela floresta tentando despistar a criatura que os segue derrubando árvores centenárias como palitos e numa velocidade incrível para uma besta que se arrasta.
_ Nós não vamos conseguir Kile! Vamos parar e lutar!
_ Não seja louco! Corra, corra!
O lagarto titânico não desiste de suas presas. Certamente ele não esta acostumado a perder a caça e continua seguindo-os
com toda sua fúria bestial tentando cerca-los pelo labirinto de árvores.
_ Kile! Ela esta vindo pelo nosso lado!
_ Evasão pelos flancos! Agora!
Os dois combatentes separam-se e momentaneamente a hidra vacila em qual seguir fazendo assim que os dois ganhem um tempo valioso.
A tempestade cada vez mais forte faz a terra tremer com explosões que despedaçam árvore por toda parte.
Mais a frente, Kile percebe que não esta sendo seguido, descansa procurando algum abrigo e por pura sorte do destino ou talvez não, ele encontra uma abertura na casca de uma árvore o qual além de um abrigo seria um esconderijo perfeito nesta hora fatídica.
_ Agora onde esta Lumank?
Lumank não tem tanta sorte pois a besta o persegue até uma grande pedra onde Lumank encontrasse sem nenhuma saída a não ser o combate. Lumank retira sua Escanosa, balanceia-a no ombro, prepara seu escudo e posiciona-se em posição de combate contra um oponente talvez invencível.
_ Se eu morrer aqui, será com um grito de bravura na garganta! -- profetiza Kile com um olhar sobrenatural.
Então como uma praga de um deus onipotente, um relâmpago estoura uma das cabeças da besta infernal, que se contorce e se debate na escuridão derrubando várias árvores ao seu redor. Após o raio o seu urro é abafado pelo estrondo do trovão. Labaredas de fogo espalham-se pela escuridão e carne queimada vai a terra.
Lumank agradece aos deuses pelo ocorrido e vê no céu uma forma espectral do que seria a deusa da morte com sua face bizarra observando a cena lendária. Por alguns instantes Lumank questiona o que vê parecendo não acreditar mas, algo o puxa pelo manto para fora daquela cena. É Kile que voltou para ajuda-lo.
_ Vamos sair daqui! Encontrei um esconderijo em uma árvore!
Eles seguem em direção a velha árvore enquanto os urros desesperados da fera vão ficando para trás.
_ Rápido, antes que a besta nos siga!
_ Aconteceu uma coisa Kile! Mas eu não sei se foi real!
_ Não escuto o que diz! Por aqui!
A alcova surge a frente e a segurança por enquanto é alcançada.
_ Eu vi Kile. -- diz Lumank cuspindo palavras sem sentido.
_ Eu também vi a Hidra. Era com certeza um ser mitológico e devastador.
_ Não! Eu vi a deusa da morte e ela me salvou! Não quis minha alma!
_ Não diga blasfêmias. Você esta fora de si.
_ Dane-se! Eu sei o que eu vi. Um raio desceu de sua mão e extirpou uma das cabeças do demônio como se extirpa uma verruga.
_ Você deve ter visto coisas por estar tão perto da morte. Você teve muita sorte do raio ter caído na fera.
_ E eu estava perto da morte. Nós já passamos por situações de tensão antes e eu nunca vi coisas como você esta dizendo.
_ Certo talvez você tenha visto, mas agora temos que esperar a tempestade passar e rezar para que a besta não nos encontre. Certamente uma criatura daquelas não morreria abatida por um raio.
_ As lendas dizem que uma hidra quando perde uma cabeça duas nascem no lugar. -- Diz Lumank vendo a chuva.
_ Não por fogo. Extirpada com fogo não.
A noite prossegue com a tempestade castigando a floresta sem tréguas e as vezes pode-se escutar a besta a procura de suas presas pela madrugada, urrando na escuridão.
_ Esta fera guarda a floresta.
_ E guarda a floresta por que? Será que a algo de valor aqui?
_ Não sei, estou apenas especulando Kile. Tentando encontrar uma razão para uma fera deste porte viver em uma floresta relativamente pequena.
_ Acho que você deveria parar de imaginar coisas. Hoje você já viu até a morte, neste momento da sua cabeça somente irá sair besteiras e blasfêmias.
_ Talvez.
Neste momento enquanto a discussão acontecia, um vulto diante da abertura na árvore os surpreende. Uma figura humanóide ameaçadoramente adentrando a alcova no meio da chuva torrencial.
Kile saca seu punhal e sem pensar duas vezes o arremessa com uma violência extrema em direção do vulto que por sua vez num reflexo felino esquiva-se e faz com que o punhal perfure apenas o ar e perca-se na escuridão.
_ Kile, Lumank! Por Deus! Querem me matar?
_ O que! -- Kile reconhece a voz como de seu irmão Eddye.

*
Há muitos anos atrás a grande peste consumia os homens nas terras do Reino de Sander. Muitas famílias foram desfeitas e separadas durante os anos draconianos de doença e fome. “A terra esta amaldiçoada!” diziam os sábios do grande rei Atlus de Sander. Amaldiçoada pelos espíritos dos mortos na Guerra da Conquista travada a décadas contra os povos primitivos, que não foram subjugados até a aniquilação total.
O grande rei Atlus, que liderou pessoalmente a Armada da Conquista, não acreditava nestas lendas sobre maldições e seguiu até a ordem mais sábia de cavaleiros da Igreja, a Ordem da Tocha Rubra a qual, possuía grande saber. O líder da ordem, Sir Alberon, abriu os olhos do rei ateu alertando-o sobre seu próprio conselho de sábios os quais, eram conhecidos nos submundos como grandes feiticeiros detentores de energias profanas oriundas dos infernos.
Ciente das graves acusações sobre seu conselho de sábios, Atlus reuniu um grupo de seus melhores guerreiros, entre eles seu irmão Dustin o valoroso e membros da Ordem da Tocha Rubra com a finalidade de descobrir a verdade. Embrenhou-se nos subterrâneos e masmorras do Castelo de Sander, em locais construídos a séculos nas entranhas da terra, enfrentando criaturas terríveis e feitiços poderosos nos covis dominados pelos bruxos e conseguiu provas contra os mesmos acusando-os de traidores da nação e bruxaria, iniciando assim a Guerra da Traição.
Durante anos houveram batalhas terríveis banhadas a sangue e magia onde muitos morreram até as forças do rei, com a ajuda da Ordem da Tocha Rubra, sobrepujaram a magia negra dos feiticeiros necromânticos.
No fim da grande guerra a terra voltou a prosperar como nunca antes visto. O reino e seu grande rei Atlus converteram-se ao ensinamentos da Santa Igreja Católica e a Ordem da Tocha Rubra se tornou a mais importante ordem do reino de Sander.
No meio da grande guerra a ordem da Tocha Rubra acolheu muitas pessoas em seus mosteiros, pessoas que perderam plantações, família ou a paz interior. Entre estas pessoas estavam Kile, Lumank e Eddye, crianças que perderam a família na guerra e não tinham mais como sobreviver sem amparo.
Eles cresceram nos ensinamentos e na filosofia da Ordem como irmãos de criação e de religião e tornaram-se sacerdotes guerreiros que manteriam a Ordem e converteriam povos. Partiram pelo mundo com suas missões de evangelização e busca de conhecimentos.

*

_ Deixe-me entrar. E não me arremesse mais nada!
_ O que esta fazendo aqui? -- indaga Kile apertando a mão de Eddye com força. -- Quase atravesso sua garganta com o punhal!
_ Como nos encontrou neste inferno Eddye? Lumank surpreso ao reencontrar Eddye em uma situação incomum como esta parece não acreditar.” Tu não encontraste a Hidra?”
_ Por Jesus! Esta tempestade maldita veio do nada. Uma hidra, você disse, então aqueles urros terríveis eram isso! Vós a vistes?
_ Por pouco eu não a despedacei com minha Escanosa. Se não fosse a ...
_ Cale-se Lumank! -- interrompe Kile. -- Um raio atingiu a fera e nós escapamos para esta alcova. Lumank esteve frente a frente com ela e diz que teve uma visão.
_ Eu vi a deusa da Morte no céu, e ela, lançou um raio na besta assassina fulminando-a.
_ Há, há, há! Vocês tem tido grandes aventuras nestas terras.
_ Deixe as fantasias de Lumank para depois e diga como nos encontrou. -- Pergunta Kile acendendo um fumo.
_ Eu estava na cidade de Traxus ao leste daqui nos limites das terras bárbaras.
_ Nós estivemos por lá a alguns dias. -- interrompe Kile passando o fumo a Lumank.
_ Certo, e lá eu fiquei sabendo em uma taverna, que dois clérigos foram em busca do cálice Rex nas catacumbas proibidas de Traxus. Pela descrição que consegui, com certeza eram vocês. Então rumei para as catacumbas mas não encontrei nada além de pilhas de ossos partidos e um altar vazio.
_ O Rex estava guardado por uma horda de guerreiros mortos trazidos a vida por algum ritual ancestral. -- completa Lumank espalhando fumaça pelo ar. -- Não tivemos grandes problemas.
_ Então vocês estão com o Rex?
_ Sim. Responde Kile.
_ Deixe-me vê-lo.
Kile retira o artefato da mochila desenrolando-o de um pano negro. “Continue contando.”
_ Eu segui a trilha de vós até a floresta. Essa mata infernal. E por sorte encontrei-os aqui no meio desta tempestade.
Kile entrega o cálice nas mãos de Eddye.
_ Mas é magnífico. Não pensei que fosse tão magnífico.
_ Vamos vende-lo em Ludiar. -- diz Kile.
_ O que? Não podem fazer isto! És um artefato da Igreja. Por isto vocês seguiram para esta floresta, para chegar até as rotas de comercio.
_ Eddye, nós sabemos dos seus votos, nós fizemos os mesmos, e sabemos, que são somente palavras. -- Diz Kile com um semblante de desprezo.
_ Não para os Cavaleiros da Tocha Rubra. -- Responde Eddye firmemente. -- Mas eu não quero me envolver no que vocês fazem. Se alguém mais souber disso a fogueira irá ser acessa.
_ Ninguém da atenção a isso Eddye. A igreja não é como antes. Os bispos pensam apenas em terras e ouro. -- responde Lumank retirando o cálice das mãos de Eddye.
_ E iram agir como eles? Traindo a Deus!
_ Nós não estamos traindo Deus. Não estamos roubando o ouro do povo nem subjugando ninguém, essas relíquias não significam nada no Reino de Deus. -- opõe Kile apagando o fumo no seu escarpim.
_ Logo serão julgados por ele, e saberão se és certo ou errado.
_ Todos seremos julgados um dia. -- conclui Lumank pensativo vendo a chuva cair como um castigo de Deus.
O silêncio toma conta da alcova mesmo com amigos que não se vêem a muito tempo e estão cheios de estórias a contar. Os urros cessaram na madrugada e a floresta parece acalmar assim como os ânimos dos cavaleiros.
Lumank quebra o silêncio sepulcral.
_ Por onde tens andado Eddye? Porque passou por Traxus?
_ Eu estava indo para o mosteiro do norte descansar e depois eu ia partir para capital de Sander tentar conhecer o grande Sir Alberon. Então fiquei sabendo de vós.
_ E virás conosco a Ludiar?
_ Sim. Tentarei impedir que façam mais tolices.
_ Nós faremos o que quisermos. -- resmunga Kile.
_ Então eu vou dormir um pouco. -- diz Lumank encostando-se na árvore.
_ O turno é meu. -- explana Kile preparando outro tabaco.
_ Eddye descansa de olhos abertos.


 
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Lashdanan
view post Posted on 18/8/2003, 17:33




desculpem os erros.
 
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Lashdanan
view post Posted on 18/8/2003, 17:42




"Gilius viabilize esta saga para a posteridade." (Crie a sala Contos sem senha.)
 
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#FF#
view post Posted on 19/8/2003, 07:22




Já que ele não se manifestou, eu mesmo farei isso...

Edited by #FF# - 19/8/2003, 06:25
 
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Lashdanan
view post Posted on 30/8/2003, 22:20





Capítulo II


A bruma espessa espalha-se pela floresta dos lagartos na manhã seguinte a noite fatídica. O frio congela os ossos e o vento os parte em pedaços nos primeiros momentos da aurora encoberta. Algumas gotas de chuva ainda caem, pingando das árvores centenárias no chão lamacento e escuro. De dentro da neblina ecoa um uivo continuo e sobrenatural que acorda Kile e Eddye no abrigo no tronco da árvore.
- Jesus! O que é isto!? - Eddye acorda alerta.
Os cavaleiros olham em volta e um deles não esta na alcova.
- Onde esta Lumank? - pergunta Kile a Eddye sem este lhe dar uma resposta.
- Ele estava com o último turno. E meu machado também desapareceu!
Passos podem ser ouvidos no exterior juntamente com o uivo fantasmagórico.
- O que é esse barulho?
- Vamos sair - diz Eddye se pondo adiante.
No lado externo o frio realmente aumenta e a visão é esparsa, pois a névoa forma uma parede branca que encobre a visão a algumas jardas, porém, um vulto pode ser visto caminhando para cada vez mais perto. Kile aproximasse de Eddye também tentando ver através da névoa.
- Lumank és tu?
O chamado ecoa pela floresta. A resposta é obtida.
- Sim. Essa névoa terrível surgiu do nada. Por Deus que encontrei o caminho de volta.
Lumank aproximasse com alguns troncos nos ombros e com o machado de Kile na mão.
- Estava procurando lenha seca para acender o fogo. Esse tempo é louco. Um dia o calor é dominante e no outro esse frio desgraçado, e ainda essa névoa!
- Mas o que é este choro insano que vem de todas as direções? - Pergunta Kile a Lumank.
- Eu estava cortando algumas árvores quando a névoa chegou. Ela veio do nada. E com ela, esses uivos melancólicos. Quase fiquei perdido nesse mato. Talvez seja outra criatura.
- Não, esse choro parece humano - comenta Eddye.
- Vamos ascender o fogo e comer o que caçamos ontem. Nesta névoa a fumaça não chamara a atenção da hidra se ela estiver por aqui -- diz Kile.
- E este uivo. Não vamos investigar? - pergunta Eddye a Kile um pouco apreensivo.
Dane-se esse uivo maldito. Eu quero é comer sossegado por enquanto – Kile responde.
Lumank completa:
- E nós não podemos andar nesta névoa, vamos nos perder. Eu andei um pouco e fiquei desorientado.
- Certo, mas vamos ficar alertas.
Kile retira sua pederneira da mochila e põe-se a acender o fogo que custa a pegar pois a lenha ainda estava um pouco úmida da tempestade da noite passada.
- Eu tenho algumas provisões que comprei na cidade - diz Eddye retirando um cantil de vinho da mochila.
- Muito bom, pelo menos tomaremos um gole de vinho para enganar o gosto horrível desse lagarto assado - diz Lumank limpando a caça.
O uivo melancólico cessa tão de repente como começou e na floresta, agora somente se ouve os grunhidos das criaturas silvestres.
- Mais que inferno. Agora como um surto o barulho parou. O que será isso - questiona Lumank.
- Desde que entramos nesta floresta tem acontecido coisas estranhas. Primeiro a tempestade, depois a hidra, e agora essa névoa e esse barulho estranho. Que floresta desgraçada - diz Kile.
- Talvez seja uma maldição pelo cálice que vocês roubaram de Deus. Devem estar amaldiçoados.
- Cale-se Eddye! Eu não quero mais escutar você falar sobre isso. Ontem nós discutimos esse assunto. Eu vou vender o cálice e quantas mais relíquias forem necessárias.
- Vós não aprendestes nada no mosteiro seu herege! Eu nunca vou permitir que você roube a Igreja novamente!
Kile levanta-se enfurecido e reage ao insulto, sacando o machado do tronco de lenha e balanceando-o para golpear.
- Nunca fui herege! - Eddye vê aquela cena e tenta desembainhar sua montante quando...
- Estás louco! - Lumank ergue-se rapidamente e com um potente murro leva Kile ao chão. “Nós não somos inimigos!”.
Eddye saca sua espada e aguarda.
- Ele esta insano. Dominado pelos demônios!
- Quieto Eddye! - grita Lumank.
Kile levanta-se, olha fixamente para Eddie e senta-se para continuar a comer.
- O que aconteceu Kile? Ele não é nosso inimigo e tu não és um assassino! Responda!
Kile apenas continua sua refeição.
- Eu sabia que tu eras assim, um assassino, um marginal! Nunca gostou do mosteiro e agora está levando Lumank para as trevas.
- Não! Ele não é um bandido Eddye. Eu sigo viajem com ele por quero. Ele apenas não quer ser contrariado a todo momento por vós. Tu sempre agiste como o irmão mais velho, sempre dando ordens!
- Calem-se os dois! Eu não vou matar ninguém!
- Como não! Ias me atacar!
- Eu não ia lhe atacar. Esse bastardo me acertou sem motivo.
Enquanto a discussão se prolonga um grito estridente de mulher corta a floresta.
- O grito vem daquela direção -- indica Kile se levantando.
- Mais uma surpresa desta floresta - diz Lumank correndo.
- Mantenham-se juntos.
A medida que os cavaleiros vão avançando pela floresta, que se tornou um labirinto invisível devido a névoa, a ansiedade aumenta, pois andam, mas nada encontram.
- Estamos vagando sem destino nessa névoa. Não é possível encontrar nada aqui! - reclama Lumank.
- Temos que continuar tentando. O grito era de uma mulher. Talvez seja o choro que ouvimos.
A busca dura cerca de meia hora e é em vã. A neblina é tão espessa que o grupo andaria por horas e não sairia do lugar de origem.
- E agora como voltaremos para o abrigo? Estamos no meio da floresta sem nenhuma proteção - diz Lumank apreensivo.
- Esse grito. Tem alguém brincando conosco. Essa névoa não é normal.
Eddye encosta em uma arvore e aguarda.
- Mas se nós não vemos o inimigo, ele também não nos vê.
- Será mesmo - diz Kile.
Subitamente outro grito feminino é ouvido.
- Está muito perto de nós. Por aqui.
Kile segue seus sentidos pela névoa e esta, aos poucos, parece cada vez mais fraca.
- A névoa esta sumindo. Olhem adiante! Kile parece não acreditar no que encontra.
Uma clareira cercada por árvores enormes, a terra escura como a noite e no meio, uma pequena cabana de madeira e barro, solitária e rústica.
- Uma cabana, aqui!? Quem viveria numa floresta dessas? - diz Eddye surpreso.
- Vejam - Lumank observa algo hostil.
No topo da porta um crânio demoníaco ostenta um fogareiro negro com uma pequena chama azul a queimar vagarosamente.
- Jesus o que é isso! - Eddie faz o sinal de seu deus e beija sua cruz.
- Bruxaria - responde Kile.
Uma escuridão anormal paira sobre a clareira. Mesmo com o Sol tendo acabado de nascer o ambiente é obscuro como no crepúsculo. A luz azulada do fogareiro emana uma fumaça mística que cobre a clareira protegendo a cabana da luz do dia.
Eddie faz um sinal para que Kile e Lumank dêem a volta na clareira para reconhecimento em busca de algo hostil.
Kile segue tão furtivamente quanto seu corselete permite até a lateral da cabana por entre os poucos arbustos, avistando uma janela aberta, posiciona-se atrás de uma árvore e aguarda. Lumank chega até os fundos da cabana e encontra um poço coberto com algo estranho, um tipo de concha de algum molusco gigante. Então segue de volta a Eddye.
- Há um poço atrás da cabana.
- Não tem nenhuma porta nos fundos?
- Não, mais o poço está tampado com um tipo de concha estranha.
- Concha?
- Sim, é o que me parece.
Kile presencia algo mais estranho. Um velho com um manto negro atravessa o aposento e atrás dele segue uma criatura bizarra, uma besta demoníaca que aproxima-se da janela com seu par de garras longas como adagas e lança um escarro fumegante através desta, que queima a terra como óleo fervente antes de fechar a janela. Kile insulta o profano algumas vezes e volta para narrar o ocorrido.
- Então? Alguma coisa?
- Não vai acreditar no que eu vi Lumank. Vamos destruir essa cabana agora.
- O que houve? O que vistes? – diz Lumank curioso.
- Um demônio, uma criatura grotesca dentro da cabana. Ela apareceu na janela junto com um velho que deve ser um bruxo necromântico.
- Demônios andando sobre a terra! Será o fim dos tempos? Eddye recorda os ensinamentos da Igreja.
- Tenha calma Eddye, nós já encontramos algumas destas criaturas antes. Elas são evocadas por bruxos malévolos como na Guerra da Traição - explica Lumank procurando sua água benta.
- Vamos abençoar a lâmina das nossas armas e manda-lo de volta ao inferno.
- Viste alguma mulher? indaga Eddye.
- Eu não vi nenhuma mulher, mas ela pode estar dentro da casa.
- Ou talvez o grito tenha sido apenas para nos atrair até aqui - diz Eddye.
- Não importa. Vamos cercar a cabana e invadir por todos os lados.
Eddye inicia a oração de benção das armas e os três cavaleiros sagrados cercam a cabana. Lumank posiciona-se atrás da casa com sua Escanosa. Kile com machado e escudo segue até a janela lateral e Eddye avança pela frente empunhando montante e escudo.
Eddye recua alguns passos e parti em fúria até a porta derrubando-a com um chute violento. No interior seu sangue ferve quando vê a criatura descrita por Kile circundada por um pentagrama místico e agachada no centro de uma sala com escrituras talhadas a fogo nas paredes.
- Morra! - grita Eddye.
Nesse momento Kile destrói a janela com seu machado e invade o recinto.
A besta confusa ergue-se rapidamente para receber um golpe em seu crânio desferido por Eddye, mas sinistramente parece não sentir dor. Kile amputa-lhe uma das mãos e de suas veias jorra um sangue negro que esguicha pela sala. Uma luz escarlate começa a emanar do pentagrama místico.
Desprovida de uma das mãos a criatura se encontra acuada no fundo da sala urrando palavras sem sentido.
- Savorar dasrrumam tur oruntus!
Do emblema místico um explosão de energia infernal atinge os cavaleiros arremessando Eddye para fora da cabana. Kile consegue bloquear o ataque mas a força do impacto o arremessa contra a parede.
O ser profano aproxima-se de Kile atordoado no chão e untando suas garras com seu sangue negro ergue o braço para golpear quando... a parede do fundo da cabana é atravessada por Lumank em uma carga avassaladora, e ensandecido como um berserker ataca a besta a qual, surpreendida, é ceifada com um golpe no abdômen que separa as pernas das vísceras para sempre. A besta tomba no chão debatendo-se estéricamente cortada em dois. Lumank golpeia novamente e a decapitação expulsa o horror profano do mundo.
- Kile! Está bem?
- Sim. O demônio usou de magia contra nós.
Eddye cambaleante retorna a sala e vê a criatura transformar-se em um fluido negro e viscoso que evapora deixando no ar o fedor do enxofre quente.
- Onde está o bruxo agora? Esta cabana tem só um cômodo! - diz Eddye virando uma mesa raivosamente.
Na sala apenas o pentagrama desenhado em uma tapeçaria no chão, uma mesa e um lampião pendurado no teto a balançar. Kile retira a tapeçaria e um alçapão é revelado. Os guerreiros ainda tem perigos a enfrentar.
- Andares subterrâneos. Que tipo de lugar és este? - diz Lumank.
- Essa cabana esta tomada por bruxarias. Vejam quantas escrituras - diz Eddye tentando traduzir a língua arcana.
- Que língua será esta?
- Queimaremos tudo quando sairmos - diz Kile.
Kile abre o alçapão e um calor sobe pela escadaria de pedra abaixo. Kile desce primeiro, devagar e furtivamente, Eddye desce em seguida. Lumank limpa da Escanosa as tripas do monstro no tapete antes de segui-los.
A escadaria é iluminada por diversas tochas em sua extensão e tão estreita que somente uma pessoa pode descer por vez. Caso um combate ali ocorra, os cavaleiros certamente serão prejudicados pela falta de espaço para manipular armas.
Descendo cerca de cinqüenta degraus a escada desemboca em uma sala forrada com troncos de ébano em suas paredes e com um pequeno altar satânico entre duas passagens.
- Devemos estar indo para o inferno - comenta Lumank.
No altar três pássaros mortos envoltos em tripas humanas e banhados a sangue, além de dois pequenos ídolos de carvão segurando pratos com carne podre repletos de moscas e vermes.
Eddye derruba o pequeno altar de seu suporte espalhando vermes por toda a sala.
- Estamos no covil do Diabo! Vamos nos dividir e destruir tudo!
- Tenha calma Eddye! Com todo o barulho que fizemos os demônios virão até nós.
Kile com certeza não esperava que tão rápido algo chegaria até eles, pois de uma das passagens eles presenciam a chegada de mais um dos horrores do limbo. Grunhindo sons estranhos e espumando enxofre do que parece ser sua boca, com a pele podre como de um cadáver, o ser estranho lembra vagamente um homem por seu corpo humanóide, suas vestes rasgadas e seus olhos negros o qual fora transformado em uma fera por alguma mente insana.
- Jesus, mas o que é isto?
Presenciando o incompreensível, Eddye recua um passo e percebe que Kile e Lumank estarrecidos como ele com certeza também pensam o mesmo.
A abominável criatura avança exigindo que os guerreiros tomem uma atitude.
- Matem! - grita Kile golpeando a criatura no peito com seu machado, porém Kile percebe que está enganado pensando que pode matar algo já morto. A criatura o agarra e o arremessa de encontro a Lumank tombando-os em meio aos vermes. Eddye atinge-a nas costas cortando a fera do ombro a cintura, mas nem mesmo um gemido de dor, sendo em seguida atingido na cabeça por um murro violentíssimo da fera que destroçaria seu crânio se não estivesse usando um bom elmo. Eddye cai desacordado tornando-se um alvo fácil. A fera ruge vitoriosamente.
Lumank e Kile surpreendidos com a força da fera erguem-se enquanto esta tem seu momento de triunfo.
- Como acabaremos com essa coisa Kile? Ela não cai como os esqueletos.
- Vamos despedaça-la.
A criatura que já observava Eddye desacordado se volta para a dupla. Lumank ataca ferozmente e novamente é surpreendido pois, a criatura sopra de suas entranhas uma nuvem de gás venenoso no rosto de Lumank o qual, tomba no mesmo instante.
Kile vendo-se frente a frente com o horror, não hesita, ergue seu machado com um movimento brusco e fulmina a fera, que tentando proteger-se com os braços, os perde juntamente com a cabeça. Kile enlouquecido desfere uma sucessão de golpes, esquartejando-a e enchendo a sala de sangue e enxofre.
- Lumank acorde! -- diz Kile tentando reanimar Lumank sem sucesso. Eddye desperta retirando o elmo e revelando uma contusão digna de um crânio rachado.
- Lumank não acorda Eddye! A criatura o envenenou com uma espécie de gás.
- Praga! Será que está morto?
- Não, parece que ainda respira – diz Kile.
- Teremos que deixa-lo aqui. Temos que encontrar quem evocou esses demônios antes que nos surpreenda novamente.
- Mas não podemos deixa-lo aqui neste antro.
- Espere aqui. Vou ver para onde seguem estas passagens - diz Eddye.
Eddye segue pela passagem de onde veio a criatura e encontra um portão aberto o qual abre para uma sala que parece ser o covil da fera. Uma sala úmida com um grande túnel no teto, como um poço - Deve ser o poço que Lumank encontrou atrás da cabana - pensa Eddye - uma cama coberta com palha e diversos ossos pelo chão. Eddye retorna até Kile.
- Vamos deixa-lo nesta passagem, ela não tem saída, parece ser o covil da besta. Nós vamos pela esquerda e para alguma coisa chegar até ele, terá que passar por nós – diz Eddye.
- Certo.
Kile e Eddye carregam Lumank até a passagem sem saída e seguem pela esquerda.
A passagem os leva até um longo corredor iluminado por tochas, que termina em uma porta em arco fechada com cortinas vermelhas mas com um filamento de fumaça escapando por entre as frestas.
Os dois sacerdotes guerreiros aproximam-se furtivamente quando uma voz ecoa de trás da cortina.
- Entrem invasores e conheçam o poder de Lazator!
Os guerreiros hesitam por um estante imaginando o que esperar da mente insana do bruxo que os aguarda, em uma situação onde guerreiros normais teriam medo, porém os Cavaleiros da Ordem da Tocha Rubra não são guerreiros normais, eles não temem a nada.
Kile posiciona seu escudo abençoado a frente e com seu machado retira a cortina escarlate de seu caminho, Eddye avança em seguida para então presenciarem o resultado de um ritual profano.
Na sala decorada com membros humanos, iluminada por velas negras e lavada com sangue, um velho vestindo um manto com inscrições pagãs retira uma criança do ventre de uma mulher degolada, amarrada em um altar no centro da sala e com uma longa adaga ritual, prepara-se para decapita-la proferindo palavras proibidas lidas de um livro que repousa em um ostensório de ossos ao seu lado.
- ...rompa a película dos mundos e devore os invassores deste templo que lhe contempla!
- Desgraçado! Solte a criança e lute bruxo! - grita Eddye.
As palavras de Eddye se perdem na sala pois o bruxo decapita a criança com um golpe frio terminando o discurso macabro. O sangue da criança jorra em cima do corpo da mãe morta numa cachoeira macabra.
Eddye e Kile não conseguindo impedir o ato, atravessam a sala na direção do bruxo não percebendo que no chão a frente uma fenda se abria.
- Irão morrer nas garras de Dargoth o Devorador de Corpos! - grita o bruxo recolhendo seu precioso livro e escapando para uma porta no fundo da sala.
A fenda no chão se abre expelindo gazes incandescentes a frente de Kile e Eddye que são obrigados a recuar. A temperatura da sala aumenta e esta se enche de trevas impedindo a visão a frente do altar.
- Não adianta fugir bruxo, sua morte é certa filho de uma cadela! - grita Kile.
O insulto de Kile é abafado por um urro demoníaco a sua frente atraindo a atenção dos guerreiros.
- O bruxo evocou outro demônio Kile!
As trevas impedem que o ser seja visto mas seu cheiro insuportável infesta a sala indicando sua presença. Os guerreiros aguardam fora das trevas a criatura se revelar, escutando apenas ossos sendo partidos.
- Apareça fera! - brada Kile.
Quando as trevas começam a se dissipar e os sons cessam, aumenta a tensão de Eddye e Kile que mantém a guarda firme. Subitamente algo é arremessado contra os guerreiros sendo bloqueado por Eddye e caindo aos seus pés revelando-se um crânio com os miolos expostos.
- Jesus! - diz Eddye vendo o pedaço de gente aos seus pés e percebe que das trevas surge uma cabeça hedionda enorme, cuspindo de sua boca semelhante a de um grande tubarão uma perna partida e aproximando-se dos dois.
- Morra! - grita Kile avançando.
Quando Kile aproxima-se para golpear o demônio devorador de humanos este cospe-lhe uma substância ácida a qual impede Kile de atacar para esquivar-se deixando o escarro perfurar a parede.
Eddye aproxima-se do monstro e corta-lhe as vísceras faz com que o ser sinta muita dor. Kile tenta contornar para atacar pelas costas mas é interceptado por um golpe no ombro impedindo-o de avançar.
O demônio urra de dor e ódio quando Eddye golpeia-o novamente com sua montante abençoada atravessando-o na lateral do tronco. O ódio é mais forte do que a dor dando forças para que a criatura atinja Eddye no peito com um murro que amassa seu corselete, arremessa-o atordoado ao longe.
Kile vale-se da guarda aberta do demônio e corta-lhe os testículos provocando uma dor aguda no monstro que se apoia no altar, incapacitado e com seu sangue viscoso escorrendo pelas pernas. Kile não para e golpeia com seu machado a cabeça da criatura, mas esta parece invulnerável munida de ossos que perecem não partir por nenhuma força, absorvendo o golpe. Kile golpeia novamente e o mesmo efeito, dando oportunidade para a criatura agarra-lo e ergue-lo acima da cabeça. Eddye recupera-se do atordoamento e avança em carga na direção do demônio.
- Desgraçado!
Fazendo de seu corpo um aríete Eddye atinge violentamente o demônio canibal com seu escudo abençoado arremessando a abominável criatura além do altar pagão de encontro a parede fazendo-a soltar Kile que vai ao chão.
O demônio levanta-se e lentamente caminha na direção de Eddye e Kile que o aguardam do outro lado do altar. O demônio demonstrando ainda ter forças vira o altar de pedra e golpeia o nada, pois Eddye esquiva-se rapidamente saltando a fenda e recuando junto com Kile até a porta em arco. O demônio enfraquecido e com o sangue jorrando dos ferimentos não é mais oponente para os vingadores despencando pela fenda quando tenta transpo-la e então perdendo-se nas trevas.
Eddye ofegante apoia-se na parede por um instante mas Kile o convoca para terminarem com o reino de terror do bruxo.
- O bastardo fugiu por aquela sala.
Kile e Eddye ao atravessarem a porta chegam a um quarto com diversas estantes repletas de livros e pergaminhos, uma mesa rústica e uma cama desfeita, mas o que os chama a atenção é uma pequena entrada atrás de uma estante a qual em sua fuga, o bruxo abandonou entreaberta.
- Uma passagem atrás da estante Eddye. Ele não deve estar longe!
A entrada segue alguns metros até um salão onde o bruxo prepara-se para com o seu livro ancestral concluir outro feitiço esquecido por gerações.
- ... retorne-me ao salão do pecado junto aos acólitos da primeira casta. Abra-me o espaço levando-me...
O espaço se abre como cortado por uma espada, libertando raios de luz tão intensos que cegariam qualquer mortal que olhasse para seu infinito interior que expande-se aos comandos do bruxo que caminha em sua direção.
- Desta vez não desgraçado - diz Kile arremessando seu punhal precisamente no peito do bruxo que tomba interrompendo o feitiço de fuga.
O portal implode formando uma onda de atração para seu núcleo, levando consigo o corpo do bruxo sem vida mas deixando para trás o livro, como se somente a este mundo ele pertencesse.
- É o fim - Diz Eddye.
Apanhando o livro do chão Kile se surpreende pelas unhas do bruxo ainda cravadas na capa do livro. Retirando-as Kile começa folhear o livro.
- Não abra este livro amaldiçoado Kile! Vamos queima-lo o quanto antes, assim como a este lugar maligno! - diz Eddye tentando tomar o livro das mãos de Kile.
- Não seja tolo Eddye, esse livro tem muito poder! Não podemos queima-lo!
- Olhe. Uma runa e uma inscrição em nossa língua.

“Aqueles que o Livro de Korus possuírem o poder e a discórdia encontrarão...por luas e luas sofrerão.”

Quando Kile pronuncia as palavras um mal estar toma conta de seu corpo fazendo-o recuar e soltar o livro.
- O que houve Kile?
- Não sei. Tudo escureceu de repente e eu não sentia meu corpo.
- Vamos queimar tudo -- diz Eddye pegando o livro do chão.
- Antes temos que tirar Lumank daqui.
Kile e Eddye retornam até Lumank levando-o para a superfície novamente.
- Finalmente. Agora vamos voltar e acabar com tudo.
- Espere Eddye!
- O que foi?
- Lumank.., ele não está respirando!
 
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>Gilius<
view post Posted on 6/6/2004, 06:11




Este conto merece uma continuação.

Ainda está nos seus planos, Lashdanan?
 
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7 replies since 5/8/2003, 18:38   405 views
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