| 06/10/2005 - 10h44m Herbert Vianna, a caminho da recuperação plena, brilha em 'Hoje', novo CD dos Paralamas do Sucesso
Jamari França - Globo Online
RIO - Os Paralamas do Sucesso, há 23 anos na estrada, estão lançando o terceiro disco da carreira pós-acidente de Herbert Vianna. Teve ''Longo caminho'', o primeiro após a tragédia de 4 de fevereiro de 2001 com canções do baú de Herbert, "Uns dias ao vivo", o primeiro ao vivo, e, agora, ''Hoje'', com músicas compostas recentemente.
É o mesmo título do disco de Gal Costa - eles não quiseram mudar porque expressa exatamente o momento de retomada e o apontar novos caminhos. O trio Herbert, Bi Ribeiro e João Barone tem muito a comemorar. O disco mostra a vitalidade da banda, um dado significativo para quem tem 23 anos de carreira, o que afasta as dúvidas que ainda pairavam, do lado de fora, sobre uma retomada plena da capacidade criativa de Herbert. Ele não só comparece com, boas letras como se afirma como instrumentista, trocando o estilo econômico do passado por uma pegada rock'n'roll mais pesada que no disco anterior, ''Longo caminho'', assessorado pelo produtor Carlo Bartolini, grande guitarrista e tirador de som.
Herbert deixou de tomar vários remédios que atrapalhavam a capacidade operacional do cérebro e vem trabalhando freneticamente. Para compensar eventuais falhas de memória, tem registrado as idéias num gravador digital e já dispõe de material pós gravação do disco. Com o auxílio de um "laptop", está catalogando todas as músicas guardadas em seus arquivos, resgatando até canções compostas na adolescência quando tinha aulas de violão de bossa nova em Brasília.
Quando houve o acidente, Herbert perdeu a memória recente e de acontecimentos dos últimos dois a três anos, o que lhe apagou, entre outras coisas, a produção de seu terceiro e sofisticado disco solo, "O som do sim", que ele já recuperou e se confessa apaixonado pelo que fez.
O projeto que ele acalenta agora é a gravação de um disco ao vivo de violão e voz num bar, algo bem íntimo, com novas e velhas canções, mas sem data para acontecer. Agora é a vez de "Hoje", o novo disco que, com a boa execução em rádio de "Na pista", deve reforçar a agenda de shows.
Gravação e shows ao mesmo tempo
Os Paralamas não costumam parar quando vão fazer um novo disco. A exemplo de Bob Dylan, também vivem numa "Never Ending Tour", uma turnê que nunca acaba: fazem shows no final de semana e gravam no começo. O trio nunca perdeu a fome de estrada, alimentado pelo que Barone diz ser a "chama inicial" da banda, definida como "empolgação e vontade de tocar".
- O contato com o público sempre foi uma fonte muito forte de realimentação do nosso trabalho - diz Barone.
Herbert emenda:
- O grande parâmetro da gente é a expressão das pessoas que estão em cada show, gritos de alegria, de raiva, de indignação, isso tudo é um parâmetro.
O disco de 12 faixas, duas bônus, está dividido ao meio. Há músicas no formato ska/reggae vigente de 1988, quando colocaram os metais, a 2000, quando anunciaram uma virada para o rock, concretizada em "Longo caminho" (2003). O rock com mais peso e vigor, descendo a mão mesmo, está na segunda metade de ''Hoje''. No primeiro formato, a produção de Liminha, que assinou, entre outros, o seminal ''Selvagem'' (1984), no segundo, a produção é de Carlo Bartolini, que fez "Longo caminho".
- Com o Liminha trabalhamos os singles. Uma canção como ''Na pista'' não faz parte do universo de Carlinhos, ele não tem intimidade em fazer coisas mais coloridas. O disco foi mais rápido porque o Liminha e o Carlinhos trabalhavam ao mesmo tempo em suas metades e a masterização foi em Los Angeles para que uma terceira parte o americano Stephen Marcussen, trabalhasse alheio a quem produziu o quê. Ficamos curiosos porque o resultado podia ser discrepante, mas ficou tudo dentro do contexto na ordem que bolamos, vendo quando o final de uma levava ao início de outra - dizem Bi e Barone.
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