| Cansado e confiante, Minuzzi deixa hospital em São Paulo
Lello Lopes
Em São Paulo
O rosto pálido e o ar abatido não lembram a expressão vibrante de Roberto Minuzzi há pouco mais de um mês, quando o ponta do Telemig Celular/Minas disputou as finais da Superliga masculina de vôlei contra o Banespa/Mastercard. Mas o sorriso, embora cansado, estava presente em seu rosto longo nesta terça-feira. Depois de 12 dias internado no Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo, o jogador finalmente recebeu alta.
Minuzzi, eleito o melhor atacante da Superliga nos últimos três anos, passou no dia 3 por uma cirurgia de correção de aneurisma da aorta ascendente. O problema foi detectado após um exame de rotina há três semanas, na fase de preparação da seleção brasileira para a Liga Mundial.
APELO
Roberto Minuzzi aproveitou a saída do hospital para fazer um apelo. "A equipe (médica) foi maravilhosa e eu não precisei tomar nenhuma gota de sangue. Mas aqui nesse hospital algumas cirurgias são canceladas por dia por causa da falta de sangue. Queria aproveitar o momento para pedir para todo mundo doar sangue. Quando estiver mais forte virei aqui doar", disse o jogador.
De acordo com Minuzzi, depois da cirurgia a sua vida ganhou nova perspectiva. "A partir de agora tudo o que eu fizer terá um gostinho especial", disse o jogador, que só acompanhou os dois primeiros jogos do Brasil na Liga Mundial, contra a Venezuela. "O problema veio numa hora que profissionalmente era o meu auge. Mas com o problema de saúde o profissional vai lá para o fim da fila."
"Desde que eu descobri o problema eu tinha na minha cabeça o dia da alta", disse o jogador, acompanhado dos pais, da mulher e da filha Isabella, de apenas sete meses. "Agora é o período da gente se conhecer. É difícil planejar em meses. Isso vai depender das condições de como eu for evoluir. Mas acredito que em seis meses eu posso estar jogando."
Apesar da alta, Minuzzi não vai voltar imediatamente para a sua casa, em Minas Gerais. O jogador ficará até sábado hospedado em um hotel de São Paulo, para ter um acompanhamento mais próximo dos médicos. O atleta, de 23 anos, poderá retornar aos treinamentos em dois meses. Só então os médicos terão uma visão mais clara se Minuzzi poderá de fato voltar a jogar.
"Em dois meses será feita uma bateria de exames. A partir daí será realizada uma reunião entre médicos que vai determinar o quanto ele pode avançar nos treinamentos e qual será o futuro de sua carreira", explica José Pedro da Silva, médico que comandou a cirurgia no jogador.
Mas até lá Minuzzi tem um longo caminho pela frente. O atleta ainda sofre com o dolorido pós-operatório. "Ainda sinto bastante dor e nauseas. E pelo fato de ter ficado entubado, minha capacidade pulmonar foi lá para baixo. Hoje uma caminhada no corredor já me cansa."
Ineditismo
A previsão sobre a possível volta de Minuzzi às quadras não pode ser feita com exatidão por um simples motivo: o caso do jogador é raríssimo nos meios esportivos.
"Aneurisma na aorta em paciente jovem é uma coisa incomum. Em paciente jovem que pratica esporte no nível que ele pratica é raríssimo", diz Silva. "Ele vai ser um caso de estudo no futuro, uma vez que não temos dados estatísticos suficientes para ver quais são as possibilidades."
Segundo o médico, um dos poucos casos conhecidos de problemas na aorta com esportistas de alto nível aconteceu com o nigeriano Nwankwo Kanu, algoz do Brasil nos Jogos Olímpicos de Atlanta-96. Depois de passar por uma cirurgia, o atacante criou uma fundação de ajuda a pessoas com problemas no coração e voltou a jogar -hoje defende o West Brom, da Inglaterra.
A possibilidade de Minuzzi voltar a ter problemas na aorta ascendente é mínima. Na cirurgia, que durou quatro horas, o jogador recebeu um implante de um tubo de dacron, material sintético que é mais forte do que a própria aorta.
Desde que soube do problema, Minuzzi parou de treinar. Ele já perdeu quase seis quilos nestas últimas três semanas. "Isso é uma coisa que não me preocupa", disse o jogador, que promete seguir as recomendações médicas à risca. "Quero fazer as coisas com calma. A responsabilidade maior é minha porque é a minha vida que está em jogo."
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