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VII
A Millennium Falcon alcançou o planeta Yavin e seguiu rumo à quarta lua. Leia, de pé e de braços cruzados, encarava Han fixamente. O mercenário, confortavelmente estirado em sua poltrona, esperando a nave chegar ao seu destino, percebeu o olhar insistente:
- Gostou do que viu, hein, Alteza? Material de primeira. Não posso culpá-la pelo interesse. Até mamãe me pediu em casamento.
- Deve ser um mal de família. Seus pais não eram irmãos? Isso explicaria muita coisa.
- Pode disfarçar a vontade, mas eu notei que você não tirou os olhos de mim desde que escapamos da Estrela da Morte.
- Não é nada do que está pensando. Só estou esperando você responder a minha pergunta.
- Que pergunta?
- Eu perguntei: Tem certeza de que deixar um propulsor pra trás é procedimento padrão quando se entra no hiperespaço?
- Ah... essa pergunta...
- Você deu umas respostas evasivas e ficou me enrolando, até olhar pro espelho e ficar admirando o próprio reflexo. Depois disso, parece que apagou.
- O que posso fazer? Sou irrestível demais até pra mim.
Leia ergueu os olhos, desistindo da conversa. Sentou-se em uma poltrona, divagando.
- Foi fácil demais...
- Quando eu estou no comando, Alteza, tudo parece fácil.
- Ah, é? E por que eles nos deixaram escapar?
- Ninguém deixou ninguém escapar. Saímos tão rápido que eles não tiveram tempo de reagir.
- É mesmo? Então acho que isso explica aquela imensa estação espacial bem atrás de nós - disse Leia, apontando para o retrovisor.
Han olhou e deu um salto na poltrona. Engatou a quinta marcha e pisou fundo no acelerador. Alguns minutos depois a nave pirata pousava em um templo na selva da quarta lua. Leia saiu, descendo apressadamente a rampa, e foi saudada pela comitiva rebelde, composta de soldados, pilotos e oficiais:
- Poderosa! Absoluta! Necessária! Vitaminada!
Leia aproximou-se de alguém na multidão:
- General Willard, vamos deixar as rasgações de seda para mais tarde. A Estrela da Morte está praticamente sobre nossas cabeças. Alguém permitiu que ela nos seguisse - Olhou furiosa para Han, apontando para ele: - Foi ele! Prendam-no! E o cachorro dele também!
Enquanto dois soldados rebeldes arrastavam um abobalhado Solo para a cadeia, e outros dois atraíam Chewbacca com um osso, Leia empurrou R2 na direção de Willard:
- Use a informação desta unidade R2 para planejar nossa ataque. É a nossa única esperança.
- Você adora essa frase, não é? - comentou Luke.
Cinco minutos mais tarde, após estudarem cuidadosamente os planos da Estrela da Morte (pelo menos o mais cuidadosamente que cinco minutos permitiam), a Princesa e os Generais voltaram para o pátio, onde os demais rebeldes aguardavam ansiosos.
- Muito bem - aproximou-se o General Dodonna, falando com a multidão - Todos os pilotos, façam um círculo em volta de mim - Uma pequena tela branca, montada sobre um tripé, foi estendida ao seu lado. R2 ficou em frente a ela e começou a projetar uma série de slides. O primeiro mostrava a Estrela da Morte.
- Esta - disse Dodonna - é a Estrela da Morte, a invencível estação de batalha imperial.
Ela tem um poder suficiente para destruir um planeta inteiro (mostrou-se um slide de Alderaan explodindo) e é armada com os mais potentes canhões do universo (um slide com os mais potentes canhões do universo). Mas nem tudo está perdido. A Princesa Leia (um slide da Princesa Leia usando biquini, numa pose bem descontraída)...
Os pilotos suspiraram. Luke perguntou se poderia ficar com a foto. O General continuou sua explicação:
- ... trouxe os planos da construção da estação (um slide mostrando um corte transversal da Estrela da Morte, apenas uma bola com um imenso túnel levando ao seu interior) e vocês podem perceber que... - Dodonna parou por uns instantes, e caiu de joelhos, as mãos esmurrando o chão - ... estamos perdidos! Nós vamos todos morrer!!!
- General Dodonna, olhe - disse o General Willard, apontando para o esquema - Se eu não estiver enganado, este túnel cercado por uma trincheira leva ao reator principal. Um tiro certo poderia iniciar uma reação em cadeia, que iria destruir a Estrela da Morte.
Dodonna levantou-se, a voz embargada:
- Não seja ingênuo, General! Só um idiota projetaria uma estação desse tamanho com um ponto fraco tão evidente.
- É o Império, não é?
Dodonna ficou parado, pensando. Em seguida seu rosto iluminou-se:
- Para suas naves, homens! E que a Força esteja com vocês!
A Estrela da Morte começou a orbitar o planeta Yavin. Na sala de controle, Tarkin e Vader olhavam o monitor do computador com interesse, apontando para quatro círculos na tela. Tarkin falou num tom irritado:
- Se ao menos tivessem usado um transmissor mais potente...
- É a política de contenção de gastos do Imperador. Gastamos tudo nesta estação.
- E agora? Sabemos que a base rebelde é em uma dessa luas, mas qual?
- Vamos ter que destruí-las uma a uma.
- Não vamos mais perder tempo. Vamos começar por aquela ali.
No hangar da base rebelde, lotado de caças espaciais, os pilotos preparavam-se para a batalha. Luke, C3P-O e R2-D2 aproximaram-se de um velho caça estelar, classe Asa-X. A equipe de vôo ainda estava terminando de raspar a ferrugem do casco, então Luke encostou-se na parede, esperando. Olhou para o lado e viu Han e Chewbacca preparando-se para embarcar na Millennium Falcon. Caminhou até eles:
- Então... Pagou sua fiança e já vai embora?
- É isso aí! Eu entrei nessa por dinheiro e saí no prejuízo - respondeu Han, sem se virar.
- O que é isso? Não percebe o que vai acontecer, o que vamos enfrentar? Por que é que você não dá uma olhada ao seu redor?
- Não posso - Han virou-se para Luke e apontou para o olho direito, semicerrado e completamente roxo - Levei uma surra na prisão. Cortesia de sua Alteza.
- Ora, você pode denunciá-la a Anistia Internacional, escrever um livro e ganhar muito dinheiro.
- De que adianta dinheiro se não pode vê-lo? Além disso, atacar aquela estação de batalha não é a minha idéia de coragem. Parece mais... suicídio.
- Bom, é, mas... Ora, esqueça! Pode ir! Isso! Vai embora! Acha que eu me importo? Bate a porta!
Luke voltou para seu caça, enxugando os olhos com a mão. Dois técnicos estavam em cima da nave, encaixando R2 atrás do cockpit do piloto. Discretamente, C3P-O chamou Luke para um canto:
- Mestre Luke, e se por acaso R2 sofrer um acidente durante a batalha... Um acidente muito grave como, por exemplo, ser completamente pulverizado...
- Você está querendo que eu...
- Não fale nada. Agora - entregou uma carteira para Luke - pode ter trezentos paus aí dentro... ou pode não ter... se é que o senhor me entende.
Antes que Luke respondesse, um brilho cegante invadiu o hangar. Todos olharam para cima e viram uma imensa bola de fogo no céu. A voz de Dodonna soou nos alto-falantes:
- A Estrela da Morte destruiu a primeira lua de Yavin. Temos mais alguns minutos antes que as baterias dela recarreguem. Não há mais tempo a perder. Partam agora e... boa sorte.
Luke entrou em seu caça e colocou seu capacete. Foi então que ouviu uma voz familiar:
- A Força estará com você, Luke.
- Ben!
- Não, aqui é a Leia, na torre de controle. Só estava testando seu headphone.
- Ah...
Os caças rebeldes decolaram lentamente e saíram do hangar. À medida que passavam pela torre de controle, eram saudados pela Princesa Leia, que jogava beijos e flores pela janela.
Os caças rebeldes, cerca de trinta, saíram da atmosfera da lua e começaram a se alinhar, cada caça cercado por dois companheiros de vôo. O líder vermelho ordenou pelo rádio:
- Todos os caças reportem-se.
- Vermelho Um a postos.
- Vermelho Dois a postos.
- Vermelho Três a postos.
- Vermelho Quatro a postos.
- ...
- Vermelho Cinco, você está aí? - perguntou o líder - Vermelho Cinco? LUKE, ONDE VOCÊ ESTÁ?
- Vermelho Cinco a postos - respondeu Luke - Desculpe, senhor, eu havia tirado o capacete. Minha cabeça estava doendo.
Antes que o líder mandasse Luke enfiar o capacete em outro lugar mais doloroso, outra explosão iluminou o espaço. A segunda lua havia sido destruída. Imediatamente, o líder vermelho ordenou o ataque. Todas as naves rebeldes partiram em direção a Estrela da Morte. Os potentes canhões da estação espacial começaram a disparar nos caças, errando todos os tiros. Os rebeldes atiraram no resistente casco da estação, mas os lasers eram tão eficientes quanto pistolas d'água. O líder vermelho ordenou:
- Localizem a trincheira que leva ao túnel! Só teremos chance se chegarmos lá.
Luke entrou em desespero:
- Que chance? Estamos mortos! Estamos todos mortos!!!
- Luke - era a voz de Leia pelo headphone - se você destruir a Estrela da Morte, eu dou aquele beijo que você pediu.
- De língua?
- Argh... Tudo bem, de língua.
Luke alterou-se totalmente. Sua voz soou confiante, dirigindo-se aos outros caças:
- Saiam da frente! Eu vou salvar a Rebelião!
O caça de Luke acelerou numa velocidade brutal, atropelando seus companheiros de vôo. Começou a disparar como um alucinado, atingindo grandes áreas da estação espacial (e alguns caças também). Dentro da Estrela da Morte, Darth Vader estava em seus aposentos, repousando. Um pedaço do reboco do teto caiu sobre sua máscara. Levantou-se, furioso, e apertou o botão do interfone:
- Mas que diabos está acontecendo aí?
- São os rebeldes, senhor. Estão atacando.
- E qual é o problema?
- Suas naves são tão pequenas que não conseguimos acertá-las.
- Vocês não acertariam mesmo que elas fossem do tamanho desta estação. Preparem minha nave. Eu mesmo vou lá fora destruí-las uma a uma - Vader desligou o interfone resmungando, enquanto calçava suas botas - Se você quer algo bem feito, faça você mesmo.
Luke continuava em seu ataque tresloucado. Os outros rebeldes não se aproximavam, com medo.
- Vermelho Dois, auxilie seu companheiro - ordenou o líder vermelho.
- Ficou louco? - respondeu Wedge Antilles - Eu não chego perto daquele cara nem por decreto!
A Estrela da Morte disparou contra a terceira lua. Luke virou-se para olhar e foi cegado pelo brilho. Tirou o capacete e esfregou os olhos, gritando:
- Tentando me pegar pelas costas, hein?
Deu meia-volta em seu caça e começou a disparar, acertando os outros rebeldes. A torre de controle tentava avisá-lo, desesperadamente:
- Cesse o fogo, Vermelho Cinco! Você está atirando em seus companheiros! Luke, ponha a merda desse capacete!!!
Mas Luke, impossibilitado de ouvir as ordens, continuava atirando como um pistoleiro ensandecido. Os caças rebeldes rapidamente se afastaram, voltando para a base. O líder lamentou-se:
- Desculpe, Princesa. É o fim.
Nesse momento, três caças imperiais saíram da Estrela da Morte. Darth Vader pilotava a nave do meio, que era maior e no formato de sua máscara.
- Ué... Cadê todo mundo? - perguntou, intrigado.
Luke recuperou a visão e recolocou o capacete. Ouviu a torre de controle:
- ... seus companheiros! Seu idiota! Você matou todos nós!
- Do que é que vocês estão falando? Já estou vendo a trincheira! Cubram-me!... Ué, cadê todo mundo?
Dando de ombros, Luke mergulhou na trincheira, indo em direção ao túnel do reator. Vader notou a pequena nave:
- Lá está um deles! Cubram-me!
Os três caças imperiais mergulharam na trincheira, bem atrás de Luke. O jovem piloto, sem dar atenção ao radar, que mostrava três pontinhos chegando cada vez mais perto, só tinha olhos para o túnel do reator, que já estava bem próximo.
Dentro da Estrela da Morte, o Governador Tarkin esfregava as mãos de contentamento. Mais alguns segundos e a base rebelde iria pelos ares. O oficial-chefe aproximou-se:
- Senhor, estive pensando... Está indo tudo tão bem... Será que eu poderia ir pra casa mais cedo?
- O que? Evacuar? Em nosso momento de triunfo? Você está com medo?
- Bom... sim.
- Besteira. Daqui a poucos instantes estaremos livres da Rebelião para sempre! - completou Tarkin, rindo descontroladamente de maneira maquiavélica. O oficial-chefe discretamente entrou no elevador.
O caça de Vader acelerou, encurtando a distância entre ele e a nave de Luke. R2-D2 bipava desesperadamente, tentando chamar a atenção do jovem piloto. Vader conseguiu travar a mira no caça de Luke mas, antes de atirar, sentiu algo:
- A Força penetrou fundo neste aqui - Vader ouviu risadas pelo headphone - Vocês dois, parem de rir e cubram-me! Vou eliminar a última esperança da Rebelião!
Nesse instante, uma rajada laser acertou R2 em cheio. A cabeça do pequeno robô explodiu, espalhando pés-de-cabra, canivetes, facas ginsu, um dedo indicador imenso, fios e placas queimadas pra todo lado. Luke olhou para trás, tentando localizar de onde veio o tiro. Vader olhou para trás, tentando localizar de onde veio o tiro. Os soldados que escoltavam Vader olharam para trás e trombaram um com o outro, perdendo o controle de suas naves e chocando-se com a nave de Vader, que saiu girando como um pião, perdendo-se no infinito. A Millennium Falcon surgiu triunfante acima do caça rebelde. Luke e a torre de controle ouviram a voz de Han pelos comunicadores:
- Desculpe, garoto. Eu mirei nos imperiais, mas é difícil acertar em algo usando um olho só. Agora exploda essa porcaria e vamos pra casa bolinar a Princesa, como ela nos prometeu!
Na torre de controle todos olharam para Leia, que baixou os olhos, embaraçadíssima, sem saber onde enfiar seu rosto, completamente vermelho.
Luke lembrou-se da promessa de Leia e descarregou suas armas a esmo contra o túnel do reator, numa atitude selvagem e insana. Que deu certo. Um dos disparos entrou e percorreu o túnel até o núcleo do reator, causando uma crise diarréica eletrônica na Estrela da Morte. Algo estava prestes a acontecer, e não seria nada bonito. O caça Asa-X e a Millennium Falcon afastaram-se dali a toda velocidade.
Dentro da Estrela da Morte, o Governador Tarkin ordenava:
- Disparar!... Ué, cadê todo mundo?
A Estrela da Morte explodiu em miríades de pedaços, numa bola de fogo sensacional.
Não muito longe dali, ainda rodopiando, Vader aos poucos ia conseguindo estabilizar seu caça. Sua voz soou ameaçadora:
- I'll be back!
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