Imortal |
|
| As mulheres e a matemática Estudo mostra que estereótipo influencia o desempenho do sexo feminino com os números
A crença na existência de fatores genéticos que expliquem o desequilíbrio entre a presença de homens e de mulheres na matemática pode prejudicar o desempenho do sexo feminino na área. (Foto: St. Petersburg College ).
Um artigo publicado na revista Science de outubro mostrou que a performance das mulheres em matemática é afetada pelo estereótipo de que o sexo feminino teria menos aptidão para o assunto. Os pesquisadores avaliaram em que medida a crença em fatores genéticos para explicar a suposta dificuldade das mulheres com os números e relatos de experiências de preconceito relacionado a esse estereótipo influenciam o desempenho de algumas delas na área. O trabalho, assinado por Ilan Dar-Nimrod e Steven Heine, da Universidade de Colúmbia Britânica, no Canadá, alerta para as possíveis conseqüências dos argumentos científicos sobre as pessoas e para o cuidado necessário na interpretação das teorias formuladas pelos cientistas.
A polêmica entre mulheres e matemática se intensificou na comunidade científica em janeiro de 2005, quando o então presidente da Universidade Harvard, Lawrence Summers, especulou razões para o fato de o sexo feminino ser menos presente nas ciências exatas e engenharias. Segundo ele, menos mulheres e mais homens teriam a habilidade intrínseca necessária para exercer tais profissões. A afirmação gerou protestos e críticas ao presidente.
Para Dar-Nimrod e Heine, a crença no estereótipo faz as pessoas agirem de acordo com ele. A hipótese foi comprovada com dois estudos realizados com mais de 220 mulheres entre 2003 e 2006. Na pesquisa, as participantes foram manipuladas durante um exame matemático para acreditar em explicações ou relatos sobre a existência de diferenças de desempenho entre os sexos na área. Os testes eram distintos entre si, de modo a fazer cada pessoa acreditar em uma teoria diferente.
Algumas mulheres receberam uma prova afirmando que a genética explica o desequilíbrio dos sexos na matemática. Outras leram sobre um relato de uma experiência de preconceito, como a de um professor de matemática que tem preferência por alunos meninos. Um terceiro teste lembrava algumas participantes a respeito da existência do estereótipo de que o sexo feminino tem mais dificuldade com os números. Por último, algumas voluntárias receberam textos afirmando que não há diferenças entre os sexos na área.
As mulheres que realizaram exames em que a genética era considerada responsável pelos problemas com matemática tiveram o pior resultado, com notas menores do que aquelas que foram lembradas sobre o estereótipo em relação ao sexo feminino. Os melhores resultados saíram das pessoas que receberam a prova contando as experiências de preconceito e das que leram que não existe uma incapacidade feminina para os números.
Dar-Nimrod afirma que é preciso tomar cuidado com as interpretações das teorias científicas, principalmente quando dizem respeito à genética. “É comum assistirmos a simplificações grosseiras da mídia, afirmando que há genes para a obesidade, para a homossexualidade.” Ele ressalta que as reportagens têm o poder de abalar a motivação das pessoas. E questiona: “Se eu acredito que os genes têm uma influência determinante sobre o meu peso, vou continuar a me esforçar fazendo dieta e exercícios?”
Mariana Benjamin Ciência Hoje On-line 27/10/2006
|
| |