| 04/09/2006 - 09h20 "Mundial não leva ninguém à NBA", diz Donnie Nelson ao UOL
Murilo Garavello Enviado especial do UOL Em Hamamatsu (Japão)
Uma boa participação no Mundial já não é suficiente para conduzir nenhum jogador à NBA. Ao menos essa é a opinião de Donnie Nelson, um dos homens que mais conhecem, ao mesmo tempo, a Liga americana e o basquete internacional.
Murilo Garavello/UOL O "globalizado" Nelson afirma que há mais brasileiros na mira dos times da NBA "SPLITTER NÃO ESCAPA", DIZ OLHEIRO ESPANHA VENCE O MUNDIAL O norte-americano é uma personalidade ímpar no mundo da modalidade. É presidente de operações de basquete do Dallas Mavericks, atual vice-campeão da NBA, assistente-técnico da Lituânia e conselheiro da seleção chinesa. No Mundial, diz dedicar-se exclusivamente aos lituanos.
Filho de Don Nelson, um dos mais vitoriosos técnicos da NBA e ex-treinador da seleção americana, Donnie já soma 21 anos de carreira de na liga, como espião, assistente-técnico e, desde 2004, cartola. Foi ele o responsável por levar para os Estados Unidos o primeiro jogador soviético (Sarunas Marciulionis), o primeiro chinês (Wang Zhizhi) e também quem fez o Dallas apostar, em 1998, no então desconhecido jovem alemão Dirk Nowitzki.
Em 1990, após a independência lituana, Marciulionis encarregou-se de levantar patrocinadores e montar a comissão técnica da seleção, além de convencer jogadores a ingressar na equipe. Foi do ex-ala o convite a Donnie Nelson, então auxiliar-técnico do clube em que Marciulionis jogava, o Golden State Warriors, para compor o grupo de treinadores da Lituânia, em 1990.
De lá para cá, o americano tem sido assistente-técnico da seleção em todos os campeonatos importantes (Olimpíadas, Mundiais e Europeus). Ajudou a equipe a conquistar três bronzes olímpicos, um título (2003) e um vice-campeonato (1995) europeus.
Na semana passada, Donnie Nelson recebeu a reportagem do UOL Esporte e um jornalista lituano em seu quarto no hotel Okura Act City, em Hamamatsu para uma rápida conversa que poderia durar apenas dez minutos.
Relaxado, após abrir a porta para os repórteres, Nelson tirou a enorme bota que não trai a raiz texana, sentou-se na cama segurando um exemplar do "Japan Times", e disse, entre outras coisas, que apenas uma boa participação no Mundial não é mais suficiente para proporcionar a ninguém um posto em um time da NBA. Leia a transcrição da conversa:
Além de ser um assistente-técnico da Lituânia, o que você tem feito no Japão como presidente de operações de basquete do Dallas Mavericks? Só isso: assistente-técnico da Lituânia. Ponto final. São 15 anos com este time. Sou muito orgulhoso dessa relação e não estou fazendo nada exceto ajudá-los.
Você está observando alguns jogadores? Não, não tenho me dedicado a isso.
Você viu algum brasileiro que não está na NBA com potencial para chegar à Liga? Sim, mas não posso fazer comentários sobre isso porque se eu disser alguma coisa a NBA vai me multar, vai me tirar muito dinheiro e eu gostaria de mantê-lo no meu bolso (risos).
A NBA implementou, ao longo dos anos, uma série de regras que restringem o assédio das equipes a jovens jogadores.
Quantos "olheiros" você "escalou" para o Mundial? Aqui no Japão temos três. O Mundial é uma oportunidade única de ver todos os talentos do mundo competindo uns contra os outros, mas começamos a rastrear jogadores quando eles são muito novos. Observamos desde os campeonatos juvenis, como eles jogam, como vão se desenvolvendo. Então, diria que quase todos que estão aqui e têm potencial para ir à NBA não estão sendo vistos nem pela primeira nem pela segunda vez.
A crença de que uma boa participação no Mundial pode render uma vaga na NBA não é, então, fundamentada? Antigamente era assim. Hoje, o Mundial não leva ninguém à NBA. Só enviávamos equipes para observar jogadores nas maiores competições. Só íamos para o Mundial, Campeonato Europeu, Olimpíadas, Campeonatos da América. Mas isso há 10, 15 anos. Agora, todo time da NBA possui pessoas contratadas em todos os continentes, que analisam e fazem relatórios inclusive de campeonatos de cadetes (até 16 anos).
O Mundial é, então, para vocês, apenas mais uma página sendo escrita no livro da carreira do jogador? Se você precisa tomar uma decisão importante, é melhor saber o progresso do atleta ao longo dos anos, desde que ele tem 16, 17, 18 anos. Assim você pode escolher certo. Porque se você vem aqui e olha o jogador por uma ou duas partidas, pode cometer grandes erros. Qualquer um pode parecer ótimo por um jogo ou mesmo por um campeonato.
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