| Brasil tira 19 pontos de vantagem, mas perde da Grécia
Murilo Garavello Enviado especial do UOL Em Hamamatsu (Japão)
O Brasil sofreu nesta quarta-feira sua terceira derrota em quatro jogos no Mundial de basquete. A Grécia, atual campeã européia, venceu por 91 a 80 e, invicta, nesta quinta disputa o primeiro lugar do Grupo C contra a Turquia.
AFP AFP Splitter disputa bola com Papadopoulos: Brasil luta, mas sai com a terceira derrota ÁLBUM DA RODADA Após um primeiro tempo ruim, em que foi superado em 17 pontos pelos gregos, a seleção reagiu brilhantemente. Com um time com quatro reservas e apenas Tiago Splitter em quadra, o Brasil tirou no último quarto uma vantagem grega de 17 pontos, emplacando uma seqüência de 20-0 em oito minutos, chegando a liderar por três pontos.
Nos segundos finais, entretanto, o Brasil voltou a errar passes e desperdiçar lances livres -no jogo inteiro, acertou só 10 de 23 lances livres. Já os gregos conseguiram vencer a partida justamente com um bom desempenho no que o Brasil foi mal: converteram 16 de 17 arremessos livres.
"Fomos melhores no jogo", resume o técnico da Grécia, Panayotis Iannakis. "A defesa brasileira nos causou problemas, demoramos para nos ajustar. E, com nossos erros, os ataques deles ficaram mais fáceis. Mas quando conseguimos ajustar nosso ataque, eles tiveram de pegar nossa defesa composta. E conseguimos vencer".
Nesta quinta, o cestinha brasileiro foi Marcelinho, com 25 pontos e sete arremessos convertidos de três pontos. Tiago Splitter, com 18 pontos e oito rebotes, e Alex, com 17 pontos também foi bem. Já Leandrinho, que ontem fez 26 pontos, só anotou quatro, mas deu oito assistências. E Anderson Varejão não anotou nenhum, nos 27 minutos que esteve em quadra.
Apesar da pálida campanha -a única vitória ocorreu contra o fraco Qatar, saco de pancadas do Grupo C-, o Brasil ainda tem chances de se classificar. Para isso, o time terá de vencer a Lituânia nesta quinta-feira, às 4h30.
VAREJÃO: "PESADO" AFP AFP Varejão tem jogo apagado na 4ª rodada O pivô Anderson Varejão não fez nenhuma cesta na partida. Também não conseguiu render na defesa. "Estou me sentindo pesado", afirmou.
"Não sei o que está acontecendo comigo", disse Varejão, segurando as lágrimas, ao fim do jogo. "Não estou conseguindo jogar. Estou sem mobilidade. Já tentamos de tudo", disse. LEIA MAIS Se conseguir a tarefa inglória de vencer por mais de 14 pontos, acaba na terceira colocação. Ganhando por uma vantagem menor, o Brasil será o quarto colocado do grupo. E enfrentará os EUA nas oitavas-de-final. Se perder, estará eliminado e estabelecerá a pior campanha de uma seleção brasileira masculina em um Mundial de basquete.
Os brasileiros esperam que a atuação no quarto período sirva de inspiração para o jogo contra os lituanos. "Temos de pegar de exemplo esse final para acreditar na gente", disse Marcelinho, 31, o mais experiente do time. "Tivemos organização, determinação e trabalho de equipe. Precisamos mostrar isso desde o começo amanhã. Não podemos mais errar. Estamos conscientes de que é nossa última chance".
O jogo Os cinco primeiros minutos do jogo foram equilibrados, com o Brasil vencendo por 12 a 11. A Grécia optou por jogar dentro do garrafão: praticamente todas as bolas passavam pelo pivô Papadopoulos. Já os brasileiros diversificavam mais o ataque: Guilherme e Marcelinho acertaram arremessos de três. Splitter conseguiu duas bandejas.
Nos cinco minutos finais do primeiro quarto, Lula Ferreira começou a promover a rotação dos jogadores. O primeiro a sair foi Guilherme, até então o cestinha do time, com cinco pontos. E o time acabou se desequilibrando. Splitter e Varejão desperdiçaram bandejas fáceis, Marcelinho errou três arremessos de três pontos, Estevam andou, Varejão perdeu dois lances livres seguidos. Resultado: a Grécia acabou o primeiro quarto com uma vantagem de 12 pontos (28 a 16).
No segundo quarto, os erros continuaram, e a desvantagem aumentou. Passes errados de Varejão (2), Huertas e Marcelinho levaram a Grécia a abrir 19 pontos (40 a 21). No intervalo, os gregos lideravam por 17 (49 a 32), liderados por Diamantidis, que conseguiu seis roubadas de bola na partida.
LANCE LIVRE = VILÃO O melhor aproveitamento brasileiro nos lances livres em quatro partidas foi na vitória contra o Qatar. De lá para cá, no entanto, o time só caiu neste fundamento. Se já havia errado 14 lances livres contra os turcos, nesta quarta conseguiu acertar só 43%. LEIA MAIS "O ataque estava pecando, mas a defesa era o grande ponto fraco nosso. Não estávamos conseguindo vencer a luta para ocupar os espaços. Quando tentávamos apertar a marcação, cometíamos faltas. Contra um time organizado, que sabe exatamente o que fazer com a bola, como a Grécia, isso é fatal", disse Lula. "Falei aos jogadores no vestiário que precisávamos mostrar mais orgulho na defesa".
No segundo tempo, com oito pontos consecutivos de Marcelinho e uma defesa um pouco mais forte, o Brasil reduziu a vantagem grega para 14 pontos, a 4min43s do fim do terceiro quarto.
Entretanto, consciente, mantendo a posse de bola constantemente por 24 segundos e com um bom sistema defensivo, a Grécia logo voltou a liderar por 19 pontos, e terminou o quarto com vantagem de 16.
No quarto período, pela primeira vez uma formação brasileira recheada por reservas conseguiu atuar bem. Alex, com cinco pontos, foi o destaque de uma seqüência brasileira de oito pontos seguidos que reduziu o déficit para nove pontos (69 a 60) a 7min19s do fim do jogo.
Após o pedido de tempo do técnico grego, o Brasil continuou bem, principalmente na defesa, que forçou três erros consecutivos do rival. O Brasil conseguiu capitalizou dois dos ataques subseqüentes e encostou no placar: 69 a 65.
A Grécia, então, errou um arremesso. E Splitter colocou o Brasil apenas dois pontos atrás. A reação perdurou até o Brasil abrir três pontos de vantagem: 72 a 69, momento em que completou a corrida de 20-0.
Então, com os gregos empataram com um tiro de três pontos que colocou fim a um jejum de mais de seis minutos sem cestas. Novamente equilibrada, a Grécia marcou outros quatro pontos para abrir 76 a 72.
Uma bola de três de Marcelinho voltou a colocar o Brasil no jogo, com 76 a 75. A partir daí, no entanto, a seleção cometeu erros, não conseguiu completar algumas jogadas, cometeu faltas na defesa para segurar o relógio e viu a Grécia converter seus lances livres para assegurar sua vitória.
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Após zerar, Varejão desabafa, reclama do físico e se diz perdido
Murilo Garavello Enviado especial do UOL Em Hamamatsu (Japão)
No primeiro jogo do Mundial, Anderson Varejão fez o que se esperava dele: 15 pontos, 10 rebotes e quatro tocos. Nesta quarta-feira, o ala-pivô, que conquistou a torcida do Cleveland Cavaliers da NBA pela raça com que joga, estava à beira do choro após a derrota para a Grécia, em que errou os cinco arremessos de quadra, os dois lances livres que tentou e não marcou nenhum ponto.
BRIGA COM GREGO AFP AFP Varejão disputa rebote: "Não sei o que está acontecendo. Precismo me benzer", disse No terceiro quarto do jogo contra a Grécia, Varejão deu, involuntariamente, segundo ele, um soco na cara do ala grego Nikos Zisis, que tentava penetrar no garrafão brasileiro.
Zisis teve de sair momentaneamente para colocar gelo no local. "Não tive a intenção", disse o brasileiro.
Leandrinho e Tiago Splitter, que estavam por perto, saíram em defesa do companheiro. "Não foi de propósito. Calma", disseram. "Foi de propósito, sim. Isso não é coisa de jogador de NBA", disparou o grego, saindo de perto. ÁLBUM DO DIA "Eu tenho que me benzer. Minhas pernas estão pesadas. Desde o primeiro jogo, estou me sentindo muito pesado. Não sei o que está acontecendo, não sei mais o que fazer", disse o titular brasileiro, que hoje esteve em quadra por 27 minutos. "Nunca me senti assim fisicamente. Quando dou a primeira passada, parece que minha perna fica mole, não consigo me mover direit."
De acordo com o pivô, nos últimos dias, ele tem seguido uma série de instruções do preparador físico da seleção, Clóvis Francescon. "Estamos trabalhando nisso, tenho tentado fazer de tudo."
Questionado se o problema pode ser psicológico, Varejão nega. "Não é cabeça, não, estou tentando ficar tranqüilo. Quero muito, muito vencer. Espero muito de mim. Quero jogar bem, ajudar seleção a vencer os jogos. É físico, mesmo."
A situação de Varejão preocupa, já que nesta quinta o Brasil tem jogo, literalmente, de vida ou morte no Mundial, contra a Lituânia, um time alto que baseia seu ataque principalmente no garrafão.
"Nosso departamento médico vai continuar em cima do caso. Vamos fazer tudo o que é possível. E o caso dele é complicado, porque os homens que jogam ali embaixo da cesta sofrem muito mais contato, corpo a corpo", disse o técnico Lula Ferreira.
"Também tentaremos conversar com ele, para ajudar no aspecto emocional. Mas tenho certeza de que ele vai lutar como sempre luta. Ele é um guerreiro, sempre empurra o time para a frente. Ele é um ícone do basquete brasileiro hoje", elogiou.
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