| Pedro Ernesto Denardin, 55 anos, é o supervisor de esportes e locutor titular da Rádio Gaúcha. Cantor de músicas nativistas nas horas vagas com oito CDs gravados, condutor do Show dos Esportes, que vai ao ar das segundas às sextas das oito e meia às dez e meia da noite, colunista do Diário Gaúcho e apresentador do Bate-Bola na Tv Com, Denardin é um homem bem-humorado e brincalhão. Pai de Ricardo, casado com Jussara, a Jussa, o locutor ganhou, desde a quarta-feira passada, notoriedade nacional. Bem ao seu estilo, carregado de emoção e gauchismo, ao narrar (ouça no link abaixo) o segundo gol do Internacional e de Rafael Sóbis, desatou a polêmica que navega com grande sucesso nas ondas da Internet: "O Internacional rasga a camisa do São Paulo, humilha o campeão do mundo...".
Quem o conhece, os ouvintes que já o ouviram dizer - quando em Copas do Mundo - "vê se não usa meu chinelo, Ricardão", estão às gargalhadas com essa última do Denardin. Aos que não o conhecem, Pedro Ernesto Denardin diz nessa entrevista a Terra Magazine: - Isso não é guerra, é só futebol, prazer, alegria. Apenas usei uma metáfora, se alguém não gostou que me desculpem, mas os colorados adoraram, e eu falo para os gaúchos...
TerraMagazine: Por que a narração em que você diz "O Internacional rasga a camisa do São Paulo, humilha o campeão do mundo"?
Pedro Ernesto Denardin: Alguém viu alguém entrar em campo com uma tesoura? Claro que não, então é claro também que ninguém vai rasgar a camisa do São Paulo. Isso é apenas uma coisa dita em sentido figurado, uma metáfora. Decisão da Libertadores, segundo gol do Internacional, dentro do Morumbi, contra um grande time, um grande clube, dois a zero, isso é um elogio ao São Paulo.
Algo no calor da batalha...
Uma vez eu chamei o time do Grêmio de "exército espartano" e eu não tava dizendo que o Grêmio estava indo para guerra, ele tava disputando uma batalha dentro do campo. É importante separar o que é guerra do que o que é futebol, o esporte. O que eu faço é futebol, prazer, alegria, emoção, e quem me ouve sabe que é isso. Não vamos confundir as coisas...
A sua locução seria um ato de emoção, dirigido ao torcedor gaúcho?
...para o torcedor que me ouve, o torcedor da Rádio Gaúcha, que é quem me ouve, a minha rádio não é nacional, é regional. Eu estou dando prazer para o torcedor que me ouve, eu estou trazendo emoção, eu estou levando uma palavra de gauchismo, porque nós somos muito bairristas, somos mesmo, temos muito orgulho de ser gaúchos, da nossa terra, não tem problema nenhum, não tem maior do que o orgulho de ser gaúcho. Eu estou passando isso pro time que é gaúcho, que é colorado, quem tá me ouvindo, entende exatamente a expressão de êxtase na hora de um gol.
Você não se envergonhou, nem acha que deve se envergonhar com tanta emoção?
Não, claro que não. É o orgulho, é a emoção... pra extravasar, pra divertir e se divertir, pra esquecer algumas dificuldades que a vida cotidiana nos apresenta, pra isso é que serve o futebol.
Qual foi a reação à sua narração? O que você viveu de lá para cá?
Os torcedores do São Paulo não gostaram, porque a coisa ganhou uma dimensão nacional e eu acho absolutamente normal o cara não gostar de alguém que está narrando contra o clube deles. O que me surpreende é que alguns colegas de São Paulo tenham colocado a coisa da seguinte forma: isso motiva o São Paulo. Ora, o São Paulo é um grande time de futebol, a narração de um gol feita por um maluco não altera nada... O São Paulo será motivado pelo grande clube que é, pela grande torcida que tem, pelos grandes profissionais que são Rogério Ceni , Ricardo Oliveira, os outros jogadores. Se a gente pudesse colocar motivação num recipiente, esse recipiente já estaria lotado, não precisaria da minha narração.
As críticas à sua parcialidade não te incomodam? Você foi partidário, foi torcedor... o que, aliás, é clássico na narração esportiva brasileira.
Não me incomodo nem um pouco com essas críticas, direito de quem faz. A rádio é gaúcha, e não é só rádio gaúcha; as rádios de São Paulo também, elas acompanham os times das suas cidades. O ouvinte de São Paulo quer saber do Corinthians, do São Paulo, do Palmeiras, do Santos. O ouvinte do Rio Grande do Sul quer saber do Grêmio, Internacional e Juventude. O ouvinte do Recife quer saber do Santa Cruz, do Náutico. Se tu pegar o gol que eu narrei na final Grêmio e Náutico, o locutor lá da Rádio Clube de Recife... é uma coisa completamente diferente. O cara tá quase morrendo, eu estou quase morrendo de alegria junto com a torcida do Grêmio, porque eu trabalho para o torcedor do Grêmio e do Internacional, não trabalho para outros torcedores, a rádio é regional.
Você se identifica como torcedor do Grêmio ou do Internacional aí no Rio Grande do Sul?
Com nenhum em especial porque Grêmio e Internacional são produtos da Rádio Gaúcha, eu como supervisor de esportes da rádio tenho que estar ao lado dos produtos da rádio. Então, Grêmio, Inter, Juventude e Seleção Brasileira são os meus clubes.
Levaram essa questão excessivamente a sério?
Sem dúvida alguma. Futebol é lazer, isso é só um estilo de narração, uma forma de levar emoção às pessoas. Se os torcedores do São Paulo não gostarem, acho que têm razão de não gostar mesmo, concordo absolutamente, até peço desculpas, não era minha intenção ofender ninguém, pelo contrário, tenho o maior respeito pelo São Paulo, não tenho absolutamente nada contra o São Paulo... Agora, os torcedores do Inter gostaram muito da minha narração.
E o negócio do Sóbis que tem "cara de gaúcho, jeito de gaúcho" isso não é preconceito?
Tem até quem diga que é racismo. Dois minutos antes do gol do Rafael a torcida do Inter gritava: "Ah! Eu sou gaúcho! Ah! Eu sou gaúcho". Eu só botei aquilo ali. Os artistas daqui do Rio Grande me ligaram, queriam cantar o hino do Rio Grande. O Bagre, um artista nosso que é conselheiro do Inter, pega o microfone e canta o hino do Rio Grande, o estádio delira com o hino do Rio Grande antes do jogo. É nesse ambiente, nessa história, que vivo e narro os jogos. É para minha gente que eu narro os gols. Nós temos muito orgulho de sermos do Rio Grande, assim como tu deve ter muito orgulho de ser baiano e o paulista de ser de São Paulo e todas as pessoas da sua terra, das suas raízes.
Você é gaúcho de onde? Sou de Porto Alegre, locutor há 33 anos, minha mulher é a Jussa, que está na minha frente, e aviso logo que só transo com ela porque não quero confusão.
|