| Quanto ao sistema judicial: a idéia de um sistema judiciário hieraquizado, único, estatal, só parece "a única possível" por ser a mais comum. Porém, o contrário é possível e já foi utilizado. (região da escandinávia na passagem do primeiro milênio dC, entre outros. Fico com esse por ser o exemplo mais longevo que conheço, cerca de 200 anos)
Como poderia ser diferente hoje em dia?
-Estabelecimento de "Jurisprudências" privadas (eu que estou usando esse termo). Essas teriam seus departamentos arbitrais e de segurança. Estes, responsáveis pelo patrulhamento ostensivo, investigação de crimes e captura nas propriedades para as quais são contratados. Aqueles, responsáveis pelos julgamentos de questões penais ou não, nas áreas para as quais foram contratados.
A questão de detenção provavelmente acabaria sendo papel de outra empresa, especializada nisso. Assim como a possível aplicação de penas capitais. (na verdade, uma maneira de garantir uma segunda avaliação para os casos mais graves seria esse, impedir que uma Jurisprudência seja proprietária de um órgão prisional ou de execução. Assim sendo, diminuiria o incentivo pecuniário para a aplicação exagerada desse tipo de pena, aplicando-se mais penalidades alternativas).
Um ponto importante nesse sistema é que o indivíduo, ao estabelecer negócios com uma loja, por exemplo, estaria submetendo-se a a jurisprudência dela. Obviamente, lojas que contratassem empresas conhecidas por seus julgamentos injustos contra empregados ou consumidores poderiam esperar problemas na contratação de mão-de-obra mais qualificada e queda em suas vendas. Debates legais que envolvessem pessoas de 2 jurisprudências diferentes acabariam ou em acordo entre os representantes das duas, se houvesse concordância em suas regras, ou no chamado de uma terceira entidade independente, com a qual os dois lados concordassem.
Também seria o caso de, quem invade uma propriedade, se exporia a jurisprudência que regula essa propriedade. Ou seja, má-idéia roubar alguém que contratou uma jurisprudência que considera o uso de violência em ação não-justificada passível de punição capital...
As únicas leis "obrigatórias" seriam as que estabelecem o conceito de propriedade, de proteção da vida e outras propriedades, e a permissão ao funcionamento desse tipo de agência. (provavelmente essa contratação precisaria ser regional; mas nada impede que o serviço de segurança seja exercido pela empresa que tem maior parte dos contratos de um local, e que as Jurisprudências diversas contratadas pelos outros moradores lhe paguem uma taxa para assumir esse papel, ou agrupem-se para contratar outro serviço de segurança em conjunto).
Essencial seria o reconhecimento mútuo dos aparatos de segurança (nada muito difícil, ainda mais hoje em dia), e a boa demarcação de áreas de responsabilidade. Mesmo quem não contratasse o "plano" de uma dessas empresas poderia recorrer ao serviço isolado quando necessitasse, nada muito diferente de um plano de saúde e um hospital hoje em dia.
No final, abre-se a possibilidade de múltiplas leis, porém de simples entendimento (leis confusas levam ao evitamento da Jurisprudência que as usa pela maior parte dos cidadãos). Escolas podem contratar serviços que proíbam porte de armas e venda de drogas; uma comunidade alternativa contrataria um serviço no qual mesmo a segurança fosse proibida de usar armas, mas o cultivo, venda e consumo de certas drogas seria liberado. Inicialmente, seria um pouco complicado, mas a tendência seria a cristalização de algumas regras bastante comuns.
Dá para desenvolver em mais detalhes práticos (como cada área seria demarcada, como seriam avisadas aos passantes as leis daquela jurisprudência, como resolver conflitos inter-jurisprudências, como buscar provas em outros locais - esse pode ser bem engenhoso), mas já está muito extenso. Se alguém quiser, podemos continuar a desenvolver essa vertente, mas espero outras manifestações.
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