Lançamentos!

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Alkalino
view post Posted on 6/10/2006, 17:48




ATOR QUE FEZ SEXO COM QUATRO MIL MULHERES PUBLICA SUAS MEMÓRIAS

Roma - Todos os segredos da vida pessoal e profissional do "rei do pornô", o italiano Rocco Siffredi, contados pelo ele mesmo, serão conhecidos esta semana na Itália com a publicação de suas memórias "Eu, Rocco".

Siffredi, que se aposentou há dois anos como ator e que agora se dedica à produção de filmes pornográficos, decidiu que era o momento de contar como virou um ídolo do pornô e se lançou no projeto de suas memórias.

"É um livro para meus fãs, escrito com minha linguagem", explica Siffredi, que na autobiografia conta uma infância "normal" em uma família modesta, passa pelos "primeiros prazeres solitários no banheiro" e a vergonha que sentiu quando foi descoberto por sua mãe.

O ator explica como passou de Rocco Tano, um adolescente nascido em 1964, em Ortona, no litoral do mar Adriático, ao ator pornográfico mais conhecido no mundo.

Antes de completar os 16 anos, Siffredi ganhou um torneio de masturbação - onze ejaculações em seis horas, como afirma no livro -, o que o fez pensar que tinha qualidades físicas extraordinárias.

Após colecionar diferentes histórias sexuais, Siffredi decidiu que era a hora de "que lhe pagassem por seus serviços".

Com 20 anos, o italiano foi coroado como "Divo das revistas pornô" pela publicação "Supersexy", o que lhe valeu seu primeiro contrato como ator e o começo de uma carreira bem-sucedida.

Uma carreira que foi ajudada por uma de suas atribuições físicas, "os 24 centímetros" de seu pênis, como reconhece. Na capa do livro aparece em contraluz uma régua que marca a famosa medida.

Siffredi conta também que decidiu ser ator pornô por "vocação", porque "ser ator de filmes pornográficas não é um verdadeiro trabalho, já que fazer amor durante oito horas é impossível para uma pessoa normal". No livro, o rei do pornô dá alguns conselhos para melhorar as qualidades sexuais.

O livro relembra os cerca de 1.500 filmes em que trabalhou e as mais de 4.000 mulheres com que manteve relações sexuais, segundo ele, e também fornece uma visão particular do mundo do cinema pornô e dos problemas do setor, "onde não chega bastante dinheiro, por isso é impossível pagar bons roteiristas".
 
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Journeyman
view post Posted on 6/10/2006, 20:12




Rocco Siffredi, o "rei do pornô", publica suas memórias
Roma, 6 out (EFE).- Todos os segredos da vida pessoal e
profissional do "rei do pornô", o italiano Rocco Siffredi, contados
pelo ele mesmo, serão conhecidos esta semana na Itália com a
publicação de suas esperadas memórias.

Siffredi, que se aposentou há dois anos como ator e que agora se
dedica à produção de filmes pornográficos, decidiu que era o momento
de contar como virou um ídolo do pornô e se lançou no projeto de
suas memórias: "Eu, Rocco".

"Um livro para meus fãs, escrito com minha linguagem", explica
Siffredi, que na autobiografia conta uma infância "normal" em uma
família modesta, passa pelos "primeiros prazeres solitários no
banheiro" e a vergonha que sentiu quando foi descoberto por sua mãe.

O ator explica como passou de Rocco Tano, um adolescente nascido
no 1964 em Ortona, no litoral do mar Adriático, ao ator pornográfico
mais conhecido no mundo.

Antes de completar os 16 anos, Siffredi ganhou um torneio de
masturbação - onze ejaculações em seis horas, como afirma no livro
-, o que o fez pensar que tinha qualidades físicas extraordinárias.

Após colecionar diferentes histórias sexuais, Siffredi decidiu
que era a hora de "que lhe pagassem por seus serviços".

Com 20 anos, o italiano foi coroado como "Divo das revistas
pornô" pela publicação "Supersexy", o que lhe valeu seu primeiro
contrato como ator e o começo de uma carreira bem-sucedida.

Uma carreira que foi ajudada por uma de suas atribuições físicas,
"os 24 centímetros" de seu pênis, como reconhece. Na capa do livro
aparece em contraluz uma régua que marca a famosa medida.

Siffredi conta também que decidiu ser ator pornô por "vocação",
porque "ser ator de filmes pornográficas não é um verdadeiro
trabalho, já que fazer amor durante oito horas é impossível para uma
pessoa normal". No livro, o rei do pornô dá alguns conselhos para
melhorar as qualidades sexuais.

O livro relembra os cerca de 1.500 filmes em que trabalhou e as
mais de 4.000 mulheres com que manteve relações sexuais, segundo
ele, e também fornece uma visão particular do mundo do cinema pornô
e dos problemas do setor, "onde não chega bastante dinheiro, por
isso é impossível pagar bons roteiristas".
 
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Alkalino
view post Posted on 6/10/2006, 20:54




Ha ha. Postei primeiro! :P
 
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Journeyman
view post Posted on 7/10/2006, 03:03




Pô! Nem havia reparado! Mas, o Rocco merece a notícia duplicada! Só o currículo do cara...
 
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Journeyman
view post Posted on 20/10/2006, 00:32




Leia trechos do novo livro de Bruna Surfistinha
Publicidade
da Folha Online

O segundo livro de Rachel Pacheco, mais conhecida como Bruna Surfistinha, chega às lojas neste mês. "O Que Aprendi Com Bruna Surfistinha - Lições de uma vida nada fácil" (Panda Books/R$ 27,90 /272 págs.) pretende dar pistas sobre a identidade dos clientes famosos da ex-prostituta e também traz ataques a apresentadores de TV.

"O Doce Veneno do Escorpião", primeiro livro dela, foi lançado no final do ano passado e liderou por vários meses a lista dos livros mais vendidos no país, sendo inclusive lançado em outras línguas.

Divulgação
Bruna Surfistinha liderou durante meses lista de livros mais vendidos
Bruna Surfistinha liderou durante meses lista de livros mais vendidos
Rachel ainda promete repercutir seu sucesso em outros meios. Em 2007, ela deve participar de uma peça e seu primeiro livro será transformado em filme.

"O Que Aprendi com Bruna Surfistinha" vai falar sobre suas experiências sexuais com famosos, como um apresentador de TV, um galã e um jogador de futebol. Mas a ex-prostituta vai evitar nomear os ex-clientes, com medo de ser processada.

Assim como em "O Doce Veneno do Escorpião", o jornalista e professor universitário Jorge Tarquini é quem "toma o depoimento" de Rachel.

Confira, com exclusividade, trechos do livro:

Celebridades prostitutas

"E isso envolve tudo, desde mulheres que se prostituem por debaixo dos panos, que estão na mídia, mas se fazem de sonsas quando o assunto é prostituição. Eu não faço auê, finjo que não sei de nada, mas fico pasma com tanta hipocrisia! Mas olho querendo dizer: "Eu sei, querida, que você é prima. Você não me engana!". E não me engana mesmo. Eu poderia escrever uma lista dessas mulheres, algumas tenho como provar, já outras não, e até explicar que focinho de porco não é tomada, estarei respondendo por processos. Sim, porque estas mulheres morrerão sem ter assumido."

Reprodução
Novo livro de Bruna Surfistinha ataca apresentadores de TV
Novo livro de Bruna Surfistinha ataca apresentadores de TV
Santos

"O que me incomoda de verdade é a hipocrisia das pessoas. Isso me tira do sério. O que mais vejo são seres humanos que se fazem de santos. Tudo
bem que são santos do pau oco, porque duvido que alguém tenha um passado limpo, sem nenhum erro cometido. E acaba até sendo engraçado, e até patético, saber que esses 'santos' são os que mais me criticam."

Homens casados

"A verdade é que muitos homens pagam por sexo, a maioria são casados e
com filhos, mas não aceitariam de maneira alguma a possibilidade de ter uma filha prostituta. Saber que a mulher que eles escolheram para subir ao altar, jurar fidelidade e amor até que a morte os separe, foi, no passado, antes de conhecê-lo, uma profissional do sexo?? Nem pensar! Para a maioria destes homens é como se tivessem levantado a tampa do caixão."

Vida íntima

"Se somos mais liberais do que outros casais? Não sei responder. Só sei que tudo o que fazemos na cama é bom, conhecemos as reações um do outro e não sentimos nenhuma vergonha por fazermos o que de bom o sexo pode oferecer. Eu não vou ficar aqui contando como são nossas transas. Primeiro, porque não acho bacana para nós dois. Segundo, são coisas que não se aprende nos livros: é preciso viver para entender. Uma coisa posso dizer: aprendi que sexo não é um bicho-de-sete-cabeças no relacionamento de um casal. E que estamos juntos não só por ele, mas por uma vida inteira a ser compartilhada --com sexo, amor, carinho, compreensão, amizade..."

Swing

Minha primeira vez de verdade num swing foi com um cliente. Não me lembro da cara dele, mas me lembro do quanto ele era um "porre". É do tipo de cliente que as garotas de programa precisam contar os segundos ansiosamente para que o período acabe. (...) Infelizmente, há muitas mulheres que vão ao swing com a intenção de satisfazer sexualmente o marido, independentemente de se divertir ou não.

Profissional

Durante os três longos anos em que me prostituí, muitos se apaixonaram por mim. Recebi muitas flores, presentes e cartas. Eu tinha clientes que me procuraram uma vez por semana. Acho até que chegaram a pensar que eu também estava apaixonada por eles. Coitadinhos...eu apenas estava sendo profissional.

Sozinha

Aprendi sozinha a ser prostituta. E não é apenas abrir as pernas e gemer falsamente. Eu escutava os desabafos dos meus clientes, gostava de conversar com eles, de saber o porquê procuravam uma garota de programa. Aprendi muito com eles. Não sinto falta dessa época e não voltaria a me prostituir.

Clonagem

A ex-mulher do João Paulo resolveu ganhar seus 15 minutos de fama à minha custa. Ela resolveu encarnar o papel de vítima de uma garota de programa. No caso, eu. Criou até um blog para me atacar.

Psicologia

O sonho de ser psicóloga surgiu quando eu tive depressão (...) Ao mesmo tempo em que desejo ter meu próprio consultório, tenho o sonho de trabalhar voluntariamente, em algum presídio.

Homossexualidade

Algo mágico aconteceu quando dei o primeiro beijo nela (...) As mãos dela passearam por todo o meu corpo (...)

Homens, lembrem-se: todo mundo sabe que vocês, quando moleques ou adolescentes, não têm qualquer pudor em se masturbar uns na frente dos outros, de medir o p... um do outro. Depois que viram adultos, ficam inseguros e implicam com essa coisa de mulheres indo juntas ao banheiro.
 
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Alkalino
view post Posted on 22/5/2007, 12:56




O outro Fonseca

Ser filho de Rubem Fonseca e optar pelo caminho da literatura é um ato de coragem. E mesmo tendo esperado tanto tempo o fotógrafo Zeca Fonseca, que completa 50 anos em 2007, mostra essa coragem ao lançar seu primeiro livro, o romance "O adorador", que sairá nas próximas semanas pela editora Guarda-Chuva. Mas a ousadia não está apenas na iniciativa de carregar, na mesma área, o peso de uma grife tão celebrada. Outras duplas de pai e filho fazem parte da história da literatura (ou do cinema, ou das artes plásticas...)

A coragem de Zeca está em estrear nas letras justamente com a história de um sujeito que, depois de uma desilusão amorosa, decide tornar-se um adorador de... ahn, bem, um adorador de mulheres, disposto a fazer muito, mas muito sexo e nenhum amor pelo resto de sua vida. E tome muito, mas muito sexo em passagens para lá de calientes a pontuar a vida de Lemok, o protagonista do livro, que se envolve ainda num negócio arriscado e duvidoso envolvendo milhares de dólares.

Alguma semelhança com o estilo Fonsecão? Sim, e certamente alguém lembrará, em termos de voltagem erótica, os recentes "Diário de um fescenino" e "Ela e outras mulheres". Mas, convenhamos, Zeca não é o primeiro nem será o último autor brasileiro a mostrar respingos d'água da fonte inspiradora do mestre. E, como toda novidade, merece uma olhada mais atenta.

Enquanto os exemplares não chegam às livrarias, aqui vai um trecho do primeiro capítulo de "O adorador":


"Não sou mau com as mulheres.

Beijo, lambo, mordo, xingo, aperto, meto, puxo os cabelos e dou muito tapa.

Gosto de bater.

Bato na bunda.

Bato na cara.

Bato com o pau.

Gosto de amarrá-las na cama.

Mas se sou desse jeito, é porque elas me querem assim.

E as mulheres que não querem, não me interessam.

São as mulheres certinhas, comportadas, recatadas.

Mulheres fiéis que casaram virgens e têm medo de orgasmo.

Fiéis aos maridos e infiéis a si próprias.

Aliás, muitas nunca gozaram mesmo. Fingem que gozam, como as putas fazem para não criar problema.

Perfeitas infelizes.

São indiferentes ao pênis, ou quase isso.

(...) Dou preferência à mulher casada, porque ela tem tudo a perder.

Destrincho as vaginas subaproveitadas de esposas quase intocadas por maridos quase brochas.

(...) Estou cada vez mais feliz assim desse jeito.

Antes, eu ficava esperando a minha mulher chegar em casa.

Agora, faço tudo para elas custarem a chegar em casa. Como se isto fizesse parte de uma vingança pessoal.

Eu sei direitinho como isso tudo começou.

Foi naquela estranha sexta-feira, no dia da volta da Bel."
 
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Imortal
view post Posted on 21/7/2007, 11:34




Lemok boladão... primo do Isaack.

Santo Antônio ganha história erudita e clara

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Antônio, que nasceu em Lisboa por volta de 1189 e morreu em Pádua, na Itália, em 1231, é um dos santos mais populares do catolicismo, em especial nos países latinos.

Retratado sempre com o Menino Jesus nos braços, e geralmente também com um livro (conotando sua ligação com os estudos) e um lírio (sua pureza), Antônio -que nasceu Fernando Martins de Bulhões- é invocado para questões de casamento e perda de objetos, entre outras aflições.

Mas a fama de casamenteiro surgiu e se espalhou bem depois da morte do santo, como nos mostra o livro "Antônio - O Santo do Amor", de Fernando Nuno. Não se trata de uma hagiografia (biografia "autorizada" de santo, invariavelmente elogiosa e carola), mas de uma busca dos laços entre a vida desse personagem singular e a atribulada história de seu tempo.

É quase uma história do cotidiano e das mentalidades na Europa do período, agitada pelas lutas contra os muçulmanos (na Reconquista ibérica e nas Cruzadas), pelo combate às florescentes heresias e pelas dissensões no seio da própria Igreja.

Com uma notável erudição, mas ao mesmo tempo com discrição e clareza, o autor acompanha passo a passo a caminhada de Antônio por esse terreno movediço: a crise da adolescência, os primeiros tempos como agostiniano em Coimbra, a mudança para a então nascente ordem franciscana, a tentativa frustrada de se entregar ao martírio no norte da África, o encontro com Francisco de Assis, o combate à heresia cátara no sul da França, a fama como pregador itinerante no norte da Itália, os milagres.

Durante a curta vida de Antônio, caem papas e imperadores, constroem-se catedrais, fundam-se universidades, mas sobretudo guerreia-se muito em nome da fé. A contrapelo da intolerância e da violência que dominam sua época, Antônio prega a paz e o entendimento. Em vez das armas, converte pela palavra e pelo exemplo.

"Toda história é contemporânea", escreveu o filósofo Benedetto Croce, e esse livro não é exceção. Embora evite cuidadosamente o anacronismo, é evidente que o autor tem em mente os paralelos entre o mundo em que o santo viveu e o nosso, marcado igualmente pelas guerras pretensamente santas.

Ao buscar compreender as inquietações de Antônio, com base em fontes muitas vezes comprometidas pelas distorções do mito ou pelas "razões de Estado" da Igreja, o autor elude habilmente o risco de psicanalisar extemporaneamente o santo.

Ao tratar do extenso rol de prodígios atribuídos ao personagem, deixa em aberto a questão da sua veracidade, chamando a atenção para os conflitos entre diferentes relatos e versões.

Mesmo não sendo obra de devoto, "Antônio" comunica uma profunda admiração por seu personagem, que teria conciliado o brilho intelectual e a humildade, a firmeza moral e a mansidão, a doação ao próximo e a alegria de viver. Como diz o autor no fecho de seu livro, "um homem como este Deus não fez duas vezes".

ANTÔNIO - O SANTO DO AMOR



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Autor: Fernando Nuno
Editora: Objetiva
Quanto: R$ 38,90 (272 págs.)
Avaliação: ótimo
 
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>Il Monstro<
view post Posted on 21/7/2007, 13:22




Interessante. Bom, talvez não a ponto mesmo de COMPRAR... :rolleyes:
 
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Imortal
view post Posted on 25/8/2007, 22:10




A ciência contra Deus

Corajoso e furibundo, "Deus, um Delírio", de Richard Dawkins, traz forte argumentação em favor do ateísmo, critica a irracionalidade e diz que religiões são nocivas ao bem-estar humano

No livro, cientista britânico utiliza argumentos evolucionistas e considera a existência de Deus uma grande improbabilidade


MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA

Sacerdotes e cientistas mantiveram, durante um bom tempo, certas normas de convivência pacífica: salvo as exceções mais radicais, um não se metia com os assuntos do outro.

Hipocrisia, afirma o biólogo Richard Dawkins no corajoso e furibundo "Deus, um Delírio".

Dawkins inicia sua forte argumentação em favor do ateísmo assinalando que a maior parte dos cientistas, inclusive o físico alemão Albert Einstein (1879-1955), cuidava de fazer vagas profissões de fé deístas apenas para não chocar os espíritos religiosos. Acreditar num "Deus que não joga dados", como formulado na famosa frase de Einstein, equivale muito mais a confiar nas regularidades das leis da natureza do que a afirmar qualquer coisa próxima de uma religião.

Acontece que os esforços no sentido de separar ciência e fé, Estado laico e convicção religiosa, foram sendo solapados ultimamente. Nos Estados Unidos, ganha especial virulência a campanha contra o darwinismo, levada por fundamentalistas bíblicos e adeptos da teoria do design inteligente.

Entre os muçulmanos, quaisquer críticas à religião encontram as respostas que se conhecem -e Dawkins faz um relato aterrorizante das reações suscitadas, mesmo entre grupos não-fundamentalistas, pelas célebres charges sobre Maomé inicialmente publicadas por um jornal dinamarquês. Do lado católico, o papa Bento 16 está longe de se mostrar tímido e conformado com o papel da razão iluminista nas sociedades ocidentais.

Verdade que o próprio darwinismo procura conquistar novas áreas de influência, seja na prática (com o desenvolvimento das pesquisas sobre o genoma), seja na teoria (descobrindo razões biológicas para muito do que se acreditava pertencer à ordem da psicanálise ou da cultura).

Grito de guerra

O livro de Dawkins surge nesse contexto como uma espécie de grito de guerra, de chamado à mobilização geral. Basta, diz ele, de respeitar um conjunto de crenças que não é apenas improvável, como profundamente tolo e nocivo ao bem-estar humano. Basta de "respeitar" a irracionalidade alheia. Os ateus esconderam-se tempo demais nas catacumbas. Perseguidos, estigmatizados, envergonhados, cabe-lhes assumir a iniciativa do debate intelectual.

Não é suficiente para Dawkins que se declarem "agnósticos" - e, na discussão desse termo, localiza-se talvez o ponto mais incisivo e original de sua argumentação. Um agnóstico, explica o autor, considera impossível responder se Deus existe ou não. Seja porque não surgiram até hoje provas convincentes de sua existência, seja porque essas provas seriam a rigor impossíveis de obter.

Improbabilidades

Com efeito, pelo menos desde Kant (1724-1804), uma série de supostas "provas racionais" da existência de Deus mostrou-se incapaz de resistir a um exame rigoroso; Dawkins dedica um capítulo de seu livro a um sumário e feroz resumo desses debates.

A posição agnóstica não basta, contudo, para Dawkins. O cientista agnóstico se contenta em deixar a questão sobre a existência de Deus no campo das coisas que não lhe dizem respeito. "Deus, um delírio" apresenta um argumento destinado a lançar a existência de Deus no campo das improbabilidades quase absolutas.

Um dos argumentos preferidos pelos criacionistas é o de que o acaso, por si só, não seria capaz de produzir coisas tão complexas quanto um olho humano ou a asa de uma borboleta. O surgimento de tais maravilhas a partir do acaso seria tão improvável, dizem os criacionistas, quanto imaginar que um furacão, passando por cima de um ferro-velho, montasse peça por peça um Boeing 747.

Dawkins refuta a tese de modo convincente. Asas de borboleta e olhos humanos não surgem "prontos" na natureza, a partir de uma combinação aleatória de moléculas. Os darwinistas não acreditam que tais coisas nasceram por acaso, e sim da seleção natural. Mostram como organismos complexos evoluíram, pouco a pouco, a partir de formas de vida muito simples. E isso, diz o autor, é muito mais provável do que imaginar um "criador inteligente". Pois para projetar um Boeing é preciso ser um bocado mais complexo do que um Boeing. E, para repetir uma objeção clássica à idéia de Deus, fica a pergunta: "Quem teria criado o criador?" Um outro ser, ainda mais complexo do que ele?

Com boa variedade de exemplos e clareza expositiva, "Deus, um delírio" teria tudo para fazer a alegria de espíritos céticos ou ateus, como o deste resenhista. Mas o que sobra a Dawkins de inteligência científica parece lhe faltar de inteligência emocional. Há mais exasperação do que ironia, mais precipitação do que serenidade, no modo com que ele encaminha a discussão. Dawkins consegue chocar profundamente, com piadas brutais, algumas sensibilidades religiosas, sem ganhar a simpatia dos que concordam com seu ponto de vista.

Foi-se o tempo em que filósofos descrentes podiam brincar, com superioridade anglo-saxônica, a respeito de crendices religiosas. As diversas citações de Bertrand Russell, de H. L. Mencken e mesmo de Woody Allen, que volta e meia aparecem em "Deus, um Delírio", são como que deliciosos remanescentes de outra era geológica, em que a ciência não se sentia tão acuada e perseguida. Criticava-se com verve e paz de espírito; este panfleto evolucionista, embora sólido cientificamente, parece debater-se e gesticular como uma fera aprisionada em sua jaula. Mas vale a pena ouvir seus urros: neles está, ai de nós, a voz da Razão.



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DEUS, UM DELÍRIO
Autor: Richard Dawkins
Tradução: Fernanda Ravagnani
Editora: Companhias das Letras
Quanto: R$ 54 (528 págs.)
Avaliação: bom
 
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Imortal
view post Posted on 1/12/2007, 04:53




Rubem Fonseca confirma seu poder de se reinventar

Cronicamente inspirado em ‘O romance morreu’


Leitores fonsequiófilos vão considerar uma obviedade a sentença: “Em ‘O romance morreu’, Rubem Fonseca se reinventa”. Mas nestes tempos em que virou esporte chamar de “mais do mesmo” tudo o que o autor de “Feliz ano novo” escreve — mesmo que, em suas quatro décadas de carreira, só “Pequenas criaturas” e “O doente Molière” tragam uma prosa rala, se comparada à habitual —, o óbvio, às vezes, precisa ser ressaltado. Ou melhor, dissecado. E quando se dissecam as 27 narrativas curtas pinçadas do site “Portal Literal” para as páginas de seu novo livro, encontra-se um Fonseca diferente. Descontraído.

Há quem fareje ingenuidade em tramas como a de “O quinto suspeito”, no qual o sumiço de um relógio rende um jogo hitchcockiano à altura do filme “O homem que sabia demais” (1956). Essa sensação de uma certa candura é fácil de entender. Profissional do conto, com passagens pelo romance e pela novela, Fonseca descobriu na crônica um “brinquedo” novo. E, como qualquer “menino” que ganha um brinquedo zero quilômetro, ele se encanta com um potencial de entretenimento que ainda não conhece plenamente.

Comparando-se literatura e cinema, arte que Fonseca tanto acalenta, “O romance morreu” representa para sua obra o mesmo que o recente “Inland empire” (“Império dos sonhos”, na tradução nacional) significa na filmografia de David Lynch. Como Fonseca já transitou pela fronteira lynchiana entre esquizofrenia e surrealismo em contos como “O livro de panegíricos”, a comparação é permitida. Em “Inland empire”, Lynch descobre a tecnologia digital e, surpreso com a liberdade estilística que ela lhe concede, utiliza a flexibilidade de uma câmera Sony DSR-PD150 para fazer um ensaio expressionista digno de F. W. Murnau em “A última gargalhada” (1924). Nesse experimento, o diretor de “Veludo azul” se reinventa.

Entenda a crônica como a Sony DSR-PD150 de Fonseca. “O romance morreu” será seu “Nosferatu” (1922). Mas sem sede de sangue.

Espaço para reflexões biográficas

O interesse de Fonseca nesta antologia parece ser a captura de uma presa que autores como Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos caçavam como ninguém: o cotidiano. “O romance morreu” é alimentado pelo empenho do escritor em fotografar o real em vez de esculpi-lo ficcionalmente. Crônicas como “Jack, o estripador”, cujo tema — a psicose homicida — já freqüentou a pena do escritor dezenas de vezes, deixam esse esforço criativo claro. Nesse texto, recursos de tom jornalístico limitam a invenção, norteando-a apenas para o campo da forma. O mesmo raciocínio vale para a descrição de um travesti no texto “Viveca”, dedicado à série da HBO “Mandrake”.

Momentos singulares são alcançados nas crônicas em que Fonseca — notório por sua aversão a entrevistas, flashes ou qualquer outra forma de invasão de privacidade pela mídia — abre seu baú de memórias pessoais e as compartilha com seus interlocutores. “Reminiscências de Berlim” é um gesto de generosidade para um prosador que, há tempos, preserva sua intimidade. Em 16 páginas ele não esconde seus medos, tampouco suas picardias quase pueris ao falar dos livros em português que levou, escondidos, para um acadêmico alemão. “Cinema e literatura”, cheio de opiniões, é quase uma travessura de aspirante a crítico. Peripécias assim comprovam o quanto Fonseca ainda é capaz de surpreender.

Até 2008 deve entrar em cartaz o longa-metragem “Cobrador — In God we trust”, adaptação que o mexicano Paul Leduc fez de contos de Fonseca. Salvo o carisma de Lázaro Ramos e um inflamado desempenho de Milton Gonçalves, o filme é indigesto. Quem sabe Fonseca, cronicamente inspirado, não se anima a mais uma reflexão cinéfila.



(Resenha de "O romance morreu", de Rubem Fonseca. Companhia das Letras, 200 páginas. R$ 37)
 
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Imortal
view post Posted on 12/3/2008, 00:48




11/03/2008 - 10h00
Livro interpreta biografia, canções e carreira de Chico Buarque; leia capítulo

da Folha Online

Leia a seguir o primeiro capítulo do livro "Folha Explica Chico Buarque", sobre o compositor, intérprete, poeta e escritor que é referência obrigatória na cultura brasileira desde os anos 60.


Pode-se mesmo dizer que nenhum outro compositor ou escritor contemporâneo resume como ele a trajetória do Brasil nesse período. Sua obra não apenas registra e comenta nossa história, como a revela sob ângulos insuspeitados, amarrando e comunicando a experiência coletiva às verdades mais íntimas de cada um de nós.

- Leia "Ensaio capta a utopia e a dor do Brasil que não somos ", publicado à época do lançamento do livro

Combinando traços biográficos com análises de canções e leituras dos romances, o livro da coleção "Folha Explica" arrisca ainda uma tentativa de interpretação, sustentada por uma idéia central --a de que a utopia brasileira do período anterior ao golpe de 1964, de alguma forma, se mantém e se renova na obra de Chico. Cria-se ali uma tensão muito particular, entre a imagem de um país inviável e a preservação da utopia, pela mesma voz que canta o seu desaparecimento.

A obra é assinada por Fernando de Barros e Silva, editor do caderno Brasil da Folha.

"Folha Explica Chico Buarque"
Autor: Fernando de Barros e Silva
Editora: Publifolha
Páginas: 184
Quanto: R$ 20,90
Onde comprar: nas principais livrarias, pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Publifolha

Confira a introdução do "Folha Explica Chico Buarque":

Não é preciso insistir na importância de Chico Buarque para a cultura brasileira. Ninguém duvida dela. Sua atividade como artista, que se estende por quatro décadas e segue muito afiada, já legou ao país uma obra muito extensa e diversificada, mas ao mesmo tempo muito coesa e coerente. As dificuldades de quem pretende se aproximar dela começam por aí: como puxar o fio que a atravessa do início ao fim sem desdenhar suas complexidades, suas modulações, suas sutilezas, suas variações no tempo?

De nenhum outro compositor ou escritor contemporâneo talvez se possa dizer que a história do Brasil, de 1964 até hoje, passa por dentro de sua obra. É exatamente essa a sensação que nos transmite o contato com a criação de Chico. Ela não apenas registra a nossa história, como freqüentemente a revela para nós sob ângulos insuspeitados, amarrando e comunicando a experiência coletiva aos segredos e abismos da subjetividade de cada um. É o inconsciente do país que parece falar na rede simbólica que Chico nos estendeu ao longo dos anos.

Estas páginas não pretendem ser uma biografia, embora contenham elementos da vida do autor e se fixem em algumas passagens marcantes de sua trajetória. Não são, tampouco, uma análise de viés acadêmico. É curioso, aliás, notar como a universidade, no caso de Chico, tende a mimetizar as clivagens do mercado e a tratar sua obra de forma fragmentada - ou, melhor, fatiada. Fala-se muito em "Chico e a política", "Chico e o feminino", "Chico e a malandragem".

Este livro foi pensado desde o início como um ensaio, uma tentativa parcial de interpretação do autor e de sua obra, sustentada por uma idéia que de alguma maneira organiza as demais. Seus termos estão elucidados já no primeiro capítulo: "De Oscar a Sérgio: Utopia no Ar". Parte do país da bossa-nova e da construção de Brasília e volta à obra de Sérgio Buarque, pai do compositor, para definir os horizontes em que Chico se move. Ele surge para o país no momento seguinte ao golpe de 64, justamente quando desmorona a fantasia de uma civilização brasileira, tal como vinha sendo gestada e era visível no final dos anos 50. Na figura de Chico, a utopia do período anterior de alguma forma se mantém e se renova. Sua obra será ao mesmo tempo uma espécie de sismógrafo do seu desmoronamento.

O segundo capítulo, "De Tom a Noel: Ilusões Perdidas", trata do início da carreira de Chico à luz do revés que representou 64. O autor da marchinha "A Banda", a despeito da mitologia que se criou em torno de seu nome, mantinha uma relação complexa e desconfiada com a cultura de esquerda que prevaleceu no país até 68, quando foi solapada pelo AI-5.

"Nem Toda Loucura É Genial" dedica-se às relações conflituosas entre Chico e o tropicalismo, tema central dos embates culturais dos anos 60, sobre o qual pouco se discutiu para além do clima de Fla x Flu. O capítulo avança no tempo para mostrar como Chico e Caetano respondem de formas distintas aos mesmos problemas, desde então até hoje. Pode-se dizer que são duas visões do Brasil.

O capítulo 4, "Generais, Malandros, Anti-Heróis", ocupa-se dos anos 70, quando o enfrentamento com o regime militar fixa uma imagem de Chico que de certa forma ecoa até hoje, mas que já naquela época era insuficiente para dar conta do que ele fazia.

"Bye Bye, Brasil", na seqüência, procura revelar como Chico irá traduzir, ao longo dos anos 80, o sentimento de impotência e de desajuste diante do desmanche de um projeto histórico nacional e popular, o mesmo que o golpe havia abortado e que não pode ser mais retomado quando as forças que haviam sido derrotadas reaparecem em cena. A música que dá título ao capítulo, uma obra-prima, não deixa de ser também o avesso da profecia tropicalista. A expansão do lirismo, que assume nova dicção, e o distanciamento em relação à referência política são traços que distinguem a obra do compositor a partir dessa época.

"Hora do Recreio" é um respiro e uma homenagem ao futebol, ou, antes, à importância fundamental do futebol na vida de Chico. A canção que ele dedicou ao tema fala por si.

O último capítulo, "Cidades Impossíveis", parte dos anos 90, quando os romances vêm introduzir uma grande novidade no conjunto de sua obra e já não se pode mais falar dele apenas como compositor. O contraponto entre as canções dos últimos discos e a literatura, ambas de um rigor formal incomum, cria uma tensão muito particular entre a imagem de um país inviável e a preservação da utopia pela mesma voz que canta o seu desaparecimento.

Não deixa de ser curioso que alguém tão consagrado esteja tão decididamente na contramão da cultura dominante e tão pouco à vontade com os ares do mundo.
 
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Curuja
view post Posted on 12/4/2008, 01:07




Em Brasília, 19 horas: uma odisséia pelo direito à informação

Rodrigo Savazoni - Observatório do Direito à Comunicação
08.04.2008


Em Brasília, 19 horas: a guerra entre a chapa-branca e o direito à informação no primeiro governo Lula, de Eugênio Bucci, 294 pp., Editora Record, Rio de Janeiro, 2008.

Quando assumiu a direção da Radiobrás, em 2 de janeiro de 2003, Eugênio Bucci começou a escrever uma nova história da comunicação pública no Brasil. Com uma idéia na cabeça – lutar pelo direito à informação – munição intelectual e alguns poucos mas fiéis soldados, invadiu o Planalto Central brasileiro ciente de que sofreria vergonhosa derrota. Ao fim e ao cabo, deixou a guerra quando quis, como quis, o que só ocorre com grandes estrategistas. Venceu.

Recolheu as armas e iniciou seu périplo de retorno ao Planalto Paulista em 20 de abril de 2007, deixando para trás uma empresa transformada, um trabalho reconhecido por parte da população e as bases da reforma que o governo agora promove com a transformação da Radiobrás e da Acerp (Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto) em Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Em seus quatro anos, três meses e vinte dias de Brasília, pelejou, acertou, errou, de forma destemida, consciente que estava dos riscos.

O compilado das batalhas foi reunido em uma obra de 294 páginas que leva o nome de Em Brasília, 19 horas – A guerra entra a chapa-branca e o direito à informação no primeiro governo Lula, da Editora Record. Uma "crônica de Aldeia", no dizer do próprio autor, honesta e profunda, em que Bucci dialoga não apenas com os iniciados no debate da comunicação – muito embora o livro seja obrigatório para comunicadores em geral –, mas potencialmente com todos os brasileiros que querem conhecer como o governo Lula se processa.

É o melhor dos livros publicados, até agora, sobre os bastidores de Brasília pós-2003 – não porque faça revelações bombásticas, mas porque descreve verdades. Algumas delas incômodas, com valor de notícia, o que ficou comprovado no último fim de semana, quando o livro chegou às páginas dos principais diários do país. No sábado (5/4), Em Brasília, 19 horas mereceu uma resenha sensível e bem apurada de O Globo, uma página bem feita de O Estado de S.Paulo e uma leitura da Folha de S.Paulo, escrita pelo apresentador do Roda Viva, da TV Cultura, Carlos Eduardo Lins da Silva.

No trabalho, Bucci reproduz bilhetes de José Dirceu, então ministro da Casa Civil, e de Ricardo Berzoini, ex-ministro e atual presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), narra as reações do ministro Luiz Gushiken, da Secretaria de Comunicação (Secom) e do próprio presidente da República, e torna pública as ações subterrâneas do assessor de comunicação da Secom, Bernardo Kucinski. Sem essas histórias, não estaríamos diante de uma obra veraz. As contrariedades, disputas e pressões fizeram parte do cotidiano do presidente da Radiobrás. Mas elas são tratadas, no decorrer do texto, com extrema naturalidade – afinal, guerras pressupõem, no mínimo, dois lados contrapostos. E essa não foi uma guerra diferente de qualquer outra.

"(...) Todas as minhas críticas sobre o equívoco editorial da Radiobrás já foram feitas por escrito e oralmente ao Gushiken, ao Bucci, ao Garcez, ao Dieguez, mais de uma vez. Além disso ofereci as soluções, por escrito, também mais de uma vez. Acho que um dos problemas do nosso governo foi a forma como deixamos setores vitais em mãos despreparadas e principalmente não dispostas a ouvir. Demiti-me do Conselho da Radiobrás por causa disso e o Lassance se demitiu há pouco por causa disso. Betty [sic] Carmona também se demitiu. Registre, para todos os efeitos, que a direção da Radiobrás imprimiu uma determinada direção à cobertura jornalística da Agência Brasil, chamada por eles de jornalismo público, que além de executada de forma incompetente e não atender as nossas necessidades de comunicação, nunca recebeu mandato explícito do governo." (Trecho de carta de Bernardo Kucinski, enviada a Gilberto Carvalho, chefe do gabinete de Lula, com críticas à gestão da Radiobrás, especialmente da Agência Brasil).

A face humana da guerra

Mas há muito mais que revelações de bastidor no livro. Em Brasília, 19 horas descreve o trabalho cotidiano de engenharia republicana que ocorreu na Radiobrás durante o governo Lula. Um esforço bélico de lapidação de conceitos, parâmetros editoriais e compromisso público realizado por personagens até então desconhecidos (entre os quais eu me incluo) e que são generosamente apresentados pelo autor-general.

Durante o tempo em que esteve à frente da Radiobrás, Bucci imprimiu – como ele mesmo afirma na introdução – o melhor de "sua personalidade para construir a impessoalidade". Esse seu movimento foi assimilado por sua equipe, configurando uma gestão radicalmente partidária do apartidarismo, da objetividade, da pluralidade e da transparência. O resultado imperfeito – e muito aquém do necessário – a que se chegou é fruto das nossas limitações, não da falta de empenho.

O livro de Bucci também tem o mérito de contar a história da Radiobrás, uma empresa criada durante a ditadura militar e bancada há 30 anos pelo dinheiro do contribuinte ao custo médio de 100 milhões de reais por ano. Absolutamente desconhecida da maioria dos brasileiros – a não ser por ser a produtora dos 25 minutos destinados ao poder executivo em A Voz do Brasil – a Radiobrás é o óvulo da nova Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que será responsável pela TV Brasil, a imberbe TV Pública brasileira.

Conhecer de que trompas se origina a nova comunicação pública brasileira é fundamental, por um lado, para que os atuais gestores não repitam erros do passado e, por outro, para que os cidadão ampliem sua capacidade de fiscalizar os produtos editoriais da nova empresa, que será melhor à medida que mais e mais brasileiros dela se apropriarem. Tomar contato com o passado de servilismo e governismo imemorial pode impedir que retrocessos ocorram.

"Em suma, apesar do período em que ficou encarregada da promoção de civismo autoritário, a Radiobrás jamais teve a seu cargo qualquer outra função que não fosse a de informar o público, e nisso baseou sua gestão iniciada em janeiro de 2003. Com base na lei, e no que entendíamos ser o espírito da lei no transcurso do tempo, reforçamos a objetividade impessoal dos noticiários e pusemos cada vez mais para longe os resquícios de promoção governamental que subsistiam dentro da organização. De novo, a dificuldade não era tanto a lei, mas os condicionamentos internos de profissionais, herdados de traumas profundos." (Em Brasília, 19 horas, pág. 85)

Em nome da liberdade

Outro ponto alto do livro é a defesa radical que Bucci faz da liberdade, para ele um valor inegociável. Homem de esquerda, o autor não é um liberal clássico, como afirma Lins da Silva em sua resenha da Folha – se fosse, não haveria nenhum problema, mas essa é uma afirmação falsa.

No capítulo "Um caso de bem-estar entre o presidente e a empresa", Bucci recupera sua trajetória de militante iniciada no movimento estudantil, durante a ditadura militar, para demonstrar que sempre foi integrante de uma corrente de pensamento que via como "falso dilema" a oposição entre liberdade e igualdade. Em seu raciocínio, a liberdade é uma causa universal, "mais que burguesa, mais que liberal". Uma defesa libertária.

"Entre janeiro de 2003 e janeiro de 2007, quando pude conversar com o presidente da República sobre imprensa, falei como um liberal convicto, embora o liberalismo não tenha sido propriamente a minha escola. A bandeira da liberdade pertence a todos, não apenas aos liberais que gostam de ostentar pedigree. Não há outro caminho: é preciso cultivar e cultuar incondicionalmente a imprensa livre, ou melhor, a imprensa, sem adjetivos – se ela não é livre, não é imprensa. Sem medo de excessos retóricos, digo que só ela pode iluminar a casa da liberdade." (Idem, pág. 225-226)

Ao empunhar a bandeira da liberdade, pressuposto para a existência e efetivação do direito à informação, Bucci apontou um novo caminho para a comunicação pública, tema que sequer figurava na agenda da democracia brasileira quando ele acordou presidente da estatal Radiobrás, cinco anos atrás. A guerra empreendida contribuiu para modificar esse cenário. No início do segundo mandato de Lula, se discutiu comunicação pública como jamais. Em Brasília, 19 horas é mais uma contribuição a esse debate, que ainda está longe de terminar.
 
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