| 'PÁGINAS DA VIDA' - Festival de caretice muda o tom do folhetim das oito
Manoel Carlos faz uma elegia aos conservadores
Dolores Orosco
Manoel Carlos conseguiu surpreender até mesmo suas Helenas no útlimo capítulo de Páginas da vida ao revelar uma faceta conservadora jamais vista em suas tramas. Festejou à exaustão a virgindade da Cinderela caipira Thelminha (Grazielli Massafera). Já a independente Simone (Christine Fernandes) foi castigada e ficou para titia.
Para espanto da audiência, o autor colocou Tarcísio Meira, o galã tombado da Globo, para contar para Tônia (Sonia Braga) que se casou virgem e que tinha pouca experiência na área. Por outro lado, o aborto foi condenado em dois momentos do folhetim: na revelação de uma gravidez interrompida da irmã Má (Marly Bueno) ser o grande motivo de seus ataques histéricos e mau humor, assim como havia acontecido com a personagem Sandra (Danielle Winits), que não pôde gerar o filho de Jorge.
Páginas da vida também fica marcada como a novela que começou com muitos conflitos e personagens deliciosos, que foram perdendo o gás e só retornaram nas últimas semanas. Caso do Greg, de José Mayer, que bem poderia ter ficado conhecido como "Greg Valadão". Nos últimos três capítulos, as discussões entre seu personagem e uma perdida Márcia (Helena Ranaldi) pareciam ter saído de filmes como Os cafajestes ou Nós, os canalhas. No fim, acaba como gigolô da mulher Sandra.
Justiça seja feita: Manoel Carlos inovou ao tocar em temas delicados. A síndrome de Down, abrindo campo de trabalho para portadores de deficiências. O casamento gay estável e a discussão sobre a adoção de uma criança, e também a bulimia entram para a história da dramaturgia. Mas o público não se esqueceu que, no início, Sílvio iria assumir a bissexualidade, tema deixado de lado por pressão superior. Outra trama que ficou no meio do caminho: a professora Diana (Louise Cardoso) iria se apaixonar pelo aluno mais jovem, mas o modelo sumiu antes de qualquer insinuação sexual.
Danielle Winits deu várias voltas por cima, e fez Sandrinha, de peruca negra, aparecer escondida no casamento da irmã e do antigo amante. Ela se deu bem ao namorar o porteiro que ganhou na Mega-sena e, só aqui, Manoel Carlos não foi conservador. Alguns reconciliações-relâmpago foram encenadas pelas freiras Lavínia e Irmã Má, entre Carmem (Natália do Vale) e Marina (Marjorie Estiano) e Alexa e Leo.
A grande polêmica não existiu: ninguém parecia se preocupar com os filhos de Nanda (Fernanda Vasconcelos). No capítulo final, a juíza (Eva Wilma) fez uma participação especial e decidiu que Francisquinho (Gabriel Kauffman) ficaria com o avô Alex (Marcos Caruso) e Clara (Joana Morcazel) continuaria com Helena. Em uma passagem de tempo, no Jardim Botânico, as crianças aparecem com Helena e Alex, em uma brincadeira de roda, tal qual a escultura criada por Tônia Werneck. No fim, o depoimento de uma jovem com síndrome de Down disse que se sentia muito charmosa como era.
|