SOCK! POW! CRASH!
LIVRO MOSTRA CURIOSIDADES SOBRE O SERIADO BATMAN
Todos que assistiram à série de TV de Batman guardam alguma recordação "trash-cult". Uma vem à mente. Um dos episódios terminava com o seguinte cenário: Robin, equilibrando-se na beirada de uma daquelas mirabolantes armadilhas, era empurrado pelo vilão do dia. "A queda iria matar o menino-prodígio?", perguntava o narrador. A continuação, no mesmo bat-horário e bat-canal, revelava o desfecho. O homem-morcego apareceu no último momento e conseguiu jogar uma corda para salvar o parceiro. Robin -amarrado, não custa relembrar- pegou a corda com os dentes, em plena queda livre. Estava salvo. Após tirar as cordas, Batman comenta: viu como é importante escovar os dentes após as refeições, Robin? Uma pérola.
Histórias assim foram reunidas no livro "Sock! Pow! Crash! - 40 Anos da Série Batman da TV" (Opera Graphica, R$ 74), lançado nesta semana. O texto é do jornalista e publicitário carioca Jorge Ventura. Ele já havia trabalhado o personagem em outra ocasião, no fanzine "Tribuna do Morcego". Ventura colocou em 320 páginas uma bateria de curiosidades sobre os 120 episódios da série. A editora antecipou algumas.
- Robin falou 347 interjeições do tipo "santa alguma coisa". A maioria era adaptada pela dublagem brasileira: "santo fumacê!", "santas algemas perníferas!", "santa xaropada!", "santos parentes desaparecidos".
- Batman tirou 26 bat-itens de seu cinto de utilidades. Saíram dali um bat-escudo, um bat-mata-moscas, um bat-espanador de pó. A editora não cita, mas havia o "santo repelente de tubarão", usado no filme baseado na série.
- Três atores interpretaram o "vilão especialmente convidado" Senhor Frio. Segundo o livro, cada ator foi batizado de um jeito diferente na dublagem brasileira: Senhor Gelo (George Sanders), Senhor Gelado (Otto Preminger) e Senhor Frio (Eli Wallach).
O seriado é sempre reprisado na TV brasileira. Atualmente, passa no canal a cabo FX (ligado ao grupo Fox). A fórmula nunca se esgota. Batman (interpretado por Adam West) e Robin (por Burt Ward) são lançados em aventuras que misturam ação e humor, com toques de um pouco de psicodelismo-pop da década de 60 e muito da linguagem dos quadrinhos. Nisso, a série era inovadora. Os enquadramentos de câmera tortos e a presença de onomatopéias nas cenas de luta transpunham para a tela o que podia ser lido nos quadrinhos. O resultado final agradou e o seriado virou febre. Hoje, é cult.
O desenhista David Mazzuchelli –que fez a arte da série "Batman – Ano Um"- defende a tese de que o seriado era fiel aos quadrinhos feitos na década de 60. Era só um reflexo televisivo da ingenuidade lida nas revistas mensais. A opinião é polêmica e causa arrepios nos fãs mais ardorosos do homem-morcego. Se havia resquícios de semelhança entre TV e quadrinhos, eles foram sepultados no começo da década de 70. A DC Comics, que edita o personagem, queria fugir do fantasma da série. Tomou duas providências: 1) tornar o personagem mais sério; 2) afastá-lo imediatamente de seu parceiro. A solução foi colocar Robin na universidade. A dupla passou a se reunir apenas esporadicamente. A volta da dupla dinâmica, em definitivo e com outro Robin, só ocorreu nos anos 80.
As medidas adotadas pela DC renderam boas histórias, especialmente as escritas por Denny O´Neil e ilustradas por Neal Adams. Mas o estigma de Adam West permanecia, mesmo que à distância. Ainda hoje há pessoas que explicam a mitologia que envolve o personagem pela ótica do seriado. Ou pela visão do diretor Tim Burton, dos dois primeiros filmes de Batman, longas que ajudaram a mostrar ao grande público um outro herói, bem mais sombrio.
O livro de Jorge Ventura é mais uma amostra de que talvez não haja um Batman, mas vários. Depende do olhar de quem vê. O Batman do seriado, de longe, é o mais divertido.
Há uma outra obra com curiosidades sobre o universo do personagem, "Dicionário do Morcego", do jornalista Silvio Ribas (Flama, R$ 35). Outra curiosidade: Adam West e Burt Ward estrelaram há alguns anos um longa-metragem, em que parodiavam a si mesmos convivendo com o fantasma da série. Entre uma piadinha e outra, revelam bastidores do seriado e as muitas situações constrangedoras por que passaram.