Agressão de torcida a Dida suspende partida entre Inter e Milan
Da Redação
Em São Paulo
Milan e Internazionale contavam com Shevchenko e Adriano, seus respectivos artilheiros, para estrelarem o duelo milanês que decidiu a vaga na semifinal da Liga dos Campeões. Mas falhas do árbitro alemão Markus Merk e a ira e vandalismo da torcida da Inter levaram à suspensão da partida aos 30min do segundo tempo, quando o Milan vencia por 1 a 0 e teve seu goleiro, o brasileiro Dida, agredido pela torcida interista, que atirou objetos com fogo em campo logo após o juiz anular um gol legal de Cambiasso, que empataria o jogo.
Apesar do jogo não ter chegado ao fim, a Uefa (União Européia de Futebol), entidade que regula a competição, confirmou por volta das 18h30 (horário de Brasília) a classificação do Milan à próxima fase do principal interclubes europeu. Tão certa quanto a vaga milanista é a punição a ser imposta a Inter pela Uefa, cuja Comissão Disciplinar irá apurar o que provocou os incidentes.
Adversários Materazzi, da Inter, e Rui Costa, do Milan, observam o resultado do vandalismo
A anulação do gol foi a deixa para parte dos 82.734 mil torcedores que lotaram o estádio Giuseppe Meazza nesta terça-feira tornassem inviável a seqüência do clássico da cidade. Tão logo Dida preparou a reposição de bola após o gol de Cambiasso ser anulado, foi atingido por no mínimo dois objetos que pegavam fogo, entre os dezenas que foram atirados no gramado durante os minutos seguintes.
A vandalismo fez com que Merk paralisasse a partida, já que, além da necessidade de socorro ao goleiro brasileiro, todos no campo corriam risco de serem atingidos pela facção interista. Tanto que, após os apelos inúteis dos jogadores da Inter, todos os atletas correram ao vestiário para aguardar o reinício da partida.
Os jogadores retornaram a campo cerca de 25min após interrupção, mas, novamente, a ação dos bombeiros e da polícia italiana não foi capaz de oferecer segurança aos atletas e árbitros, o que levou Merk a suspender definitivamente a partida.
Além da anulação equivocada do gol de Cambiasso, outro erro do árbitro alemão foi crucial para o destino da partida. Isso porque logo aos dois minutos o ucraniano Shevchenko acertou uma cabeçada em Materazzi, infração passível de expulsão. O árbitro não puniu o atacante, "Bola de Ouro" da Europa na temporada passada, sequer com um cartão amarelo.
INFERNO ASTRAL
Pior que uma, só mesmo duas eliminações diante de um arqui-rival. Essa é uma das razões que levaram a torcida da Inter a explodir no San Siro, nome popular do Giuseppe Meazza, assim que constatou a reedição da derrota da temporada retrasada, num confronto que valia vaga na final da Liga dos Campeões.
Na ocasião, o Milan, que viria a ser o campeão europeu em 2002-03, avançou graças ao gol marcado "fora de casa", ou seja, quando o San Siro, assim como neste terça, fez as vezes de casa da Inter. Após o empate sem gols no jogo de ida, quando o time "rossoneri" era o mandante, a Inter permitiu o gol rival no empate por 1 a 1, que selou sua eliminação. À ocasião, Crespo e Pirlo, hoje titulares do Milan, sofriam com as críticas no tumultuado time interista.
Com o adeus da Liga, estende-se a estiagem da Inter, que não venceu um campeonato desde 1997-98, quando faturou a Copa do Uefa graças a um Ronaldo inspirado, que definiu a final contra a Lazio. Pelo Campeonato Italiano, o último título veio em 1988-89.
Para a azar de Merk, Shevchenko marcou aos 29min da etapa inicial o gol que selou a sorte do confronto. Ao acertar o chute de fora da área no canto esquerdo do Toldo, o ucraniano matou as chances de reação da Inter, que precisaria então de quatro gols para avançar à semifinal. No jogo de ida, semana passada, o Milan fez valer seu mando de campo e venceu por 2 a 0.
Agora, o Milan aguarda o vencedor de PSV Eindhoven, da Holanda, e Lyon, da França, em confronto que ocorre nesta quarta-feira, em Eindhoven. O time holandês pode empatar sem gols que avança na competição, isso porque o jogo de ida, na França, terminou empatado por 1 a 1. Empate por dois ou mais gols dão a vaga ao Lyon, dos brasileiros Cris, Caçapa e Juninho Pernambucano.
O jogo
Logo aos dois minutos, o lance que, poucos imaginariam, seria capital para o jogo. A bola já estava nas mãos de Toldo, mas Shevchenko acertou uma cabeçada sem bola no Materazzi. Isso na frente do auxiliar, que nada apontou ao árbitro Markus Merk.
O jogo seguiu quente nos minutos seguintes, tanto que, logo aos quatro minutos, Kily Gonzalez cometeu falta em Ambrosini e recebeu o primeiro cartão amarelo da partida. O troco veio em seguida, envolvendo os mesmos jogadores. O resultado foi o segundo amarelo do jogo, desta vez para Ambrosini. Dois cartões em apenas seis minutos.
Apesar de precisar da vitória, a Inter não conseguiu ameaçar nos primeiros 10min. Melhor para o Milan, que além de não ter trabalho defensivo, ameaçava o gol de Toldo, como fez aos 12min, em falta cobrada por Pirlo.
O troco da Inter, finalmente, apareceu aos 13min. Adriano sofreu falta pela esquerda do ataque e, após a cobrança, Verón puxou para o meio e chutou em diagonal contra o gol de Dida. O brasileiro foi obrigado a rebater para escanteio.
Os 10min seguintes de jogo foram marcados pelo domínio improdutivo da Inter. O time de Adriano se mantinha a maior parte do tempo rondando a área de Dida, mas sem conseguiu concluir. O Milan, por sua vez, se arriscava apenas nos contra-ataques, principalmente com o argentino Crespo. Num deles, aos 24min, o atacante entrou livre no lado esquerdo da área de Toldo, mas tentou um drible a mais e acabou desarmado.
Dida é atingido por objeto arremessado por torcedores da rival Inter de Milão
O Milan reverteu a situação aos poucos, mas mostrou mais efetividade que a Inter e, num lance de Shechenko, que deveria ter sido expulso, abriu o placar e praticamente selou, ali, a sorte do duelo pela Liga dos Campeões. O ucraniano dominou pela direita, na entrada da área da Inter, e mandou de esquerda no canto de Toldo.
A Inter, que agora precisava de quatro gols, se lançou aos ataque. Adriano puxou contra-taque pelo meio e abriu para Kily Gonzalez, que, já dentro da área, conseguiu cruzar para trás, mas Van der Meyde chegou atrasado. No lance seguinte, Verón voltou a chutar com violência, de fora da área, mas Dida fez outra bela defesa.
Aos 34min, foi a vez de Adriano ameaçar o gol milanista. Em cruzamento da direita, o atacante brasileiro, mesmo pressionado por Cafu - chegou a reclamar pênalti do lateral - conseguiu cabecear. Dida saltou, mas não chegou a tocar na bola que saiu rente à sua trave direita.
O desespero da Inter propiciou o contra-ataque ao Milan, Aos 34min, Kaká arrancou pela direita e invertou o jogo para Crespo. O argentino viu Cafu entrando na área e cruzou na medida, mas a defesa do Inter se recuperou e impediu a conclusão do brasileiro, que, junto dos seus companheiros, reclamou de pênalti no lance.
A necessidade da vitória fez com que o técnico da Inter, Roberto Mancini, sacasse o meia Kily Gonzalez para a entrada de Julio Cruz. No meio, Mihajlovic substituiu Cristiano Zanetti.
Enquanto isso, Adriano, principal esperança de gols da Inter, mostrava ser precipitada a decisão de promover seu retorno no clássico. Logo no início da etapa final o brasileiro passou a "fazer número" na ponta esquerda do ataque interista. Aos quatro minutos, Mancini foi obrigado a sacar o brasileiro, que saiu de campo carregado, para colocar em campo o nigeriano Martins.
Foi com Martins, inclusive, que a Inter teve sua melhor chance para empatar. Aos seis minutos ele entrou na área do Milan após receber passe de calcanhar de Cruz, se livrou da marcação e chutou no canto esquerdo, mas Dida, bem colocado, fez grande defesa.
O nigerigano voltou a ameaçar aos 13min, quando ganhou de Stam na corrida a chutou, desta vez fraco, para defesa tranquila de Dida. No contra-ataque, Kaká invadiu a área da Inter pela esquerda, mas optou por um cruzamento equivocado, facilmente cortado por Toldo.
REINCIDÊNCIA NA ITÁLIA
No dia 15 de setembro, na primeira rodada do grupo B da Liga dos Campeões, a torcida da Roma arremessou objetos no gramado do estádio Olímpico, na partida contra o Dynamo de KIev. No incidente, o árbitro sueco Anders Frisk acabou ferido, com um corte na testa, e a partida acabou paralisada.
Seis dias mais tarde, a Comissão de Controle e Disciplina da Uefa anunciou a vitória do time ucraniano e uma punição à Roma. O time italiano foi obrigado a jogar suas duas partidas restantes na Liga com estádio vazio.
O Inter voltou a ter boa chance para marcar aos 29min, com Van der Meyde. O holandês aproveitou sobra na entrada da área e chutou forte. A bola desviou na zaga do Milan e obrigou Dida e se esticar todo para mandar a bola para escanteio. Na cobrança, o brasileiro falhou e Cambiasso, de cabeça, mandou para as redes, mas o árbitro, erroneamente, anulou.
A atitude de Merks revoltou a torcida da Inter, que despejou dezenas de objetos e fogos de atifício na área do Milan. Ao menos dois deles acertaram Dida, que imediatamente caiu no gramado e foi retirado pelos jogadores da área. O árbitro paralisou a partida, com os jogadores aguardando a ordem ser reestabelecida no vestiário.
Após cerca de 25min, a partida foi reiniciada, com Abbiati no lugar de Dida. Mas a torcida da Inter não deu "descanso", e seguiu a atirar fogos no campo, forçando o árbitro a encerrar o jogo.
INTERNAZIONALE
Toldo; Javier Zanetti, Cordoba, Materazzi e Favalli; Cambiasso, Van der Meyde, Cristiano Zanetti (Mihajlovic) Verón e Kily Gonzalez (Julio Cruz); Adriano (Martins)
Técnico: Roberto Mancini
MILAN
Dida (Abbiati); Cafu, Stam, Nesta e Maldini; Ambrosini, Pirlo, Seedorf e Kaká; Shevchenko e Crespo (Rui Costa)
Técnico: Carlo Ancelotti
Local: estádio Giuseppe Meazza, em Milão (ITA)
Árbitro: Markus Merk (ALE)
Auxiliares: Christian Schräer(ALE) e Jan-Hendrik Salver(ALE)