| Ex-arqui-rivais, Saretta e Mello jogam para acabar com agonia na Davis Marcos Pereira Enviado especial do UOL Em Bogotá (Colômbia)
A estréia do Brasil na Copa Davis, em 2005, terá uma dupla de tenistas contemporâneos e que já viveram tempos de intensa rivalidade. Flávio Saretta e Ricardo Mello, que já travaram grandes duelos em busca de liderança em rankings juvenis no país, entram em quadra, nesta sexta-feira, às 12h (horário de Brasília) para enfrentar a Colômbia, em jogos de simples, pela primeira rodada do grupo 2 da Zona Americana.
O fato é pouco comum no tênis nacional, que, desde o início da década de 90, conta com um atleta mais experiente auxiliando na formação de uma nova safra. Isso aconteceu, por exemplo, com a chegada de Jaime Oncins, que tinha o apoio de Luiz Mattar.
Gustavo Kuerten, quando surgiu no cenário nacional, em 96, já tinha por trás o amparo de Oncins e de Fernando Meligeni, assim como Saretta "cresceu" ao lado de seu atual capitão e de Guga, que não pode jogar em Bogotá por estar se recuperando de uma segunda cirurgia no quadril.
E de cara, Saretta e Mello terão a missão de tirar o Brasil da terceira divisão. O país foi rebaixado em dois anos consecutivos, mas, em 2004, foi atrapalhado por um boicote de seus principais tenistas contra a administração do esporte.
Saretta, que tem 24 anos de idade e é cerca de seis meses mais velho que Mello, será o primeiro a jogar. Ele enfrenta Pablo González, tenista colombiano mais bem colocado no ranking mundial entre os convocados pelo capitão Michel Tobón, na posição de número 432. Na seqüência, Mello joga contra Michael Quintero.
Apesar de crescerem juntos, Saretta e Mello têm diferenças acentuadas de personalidade e no estilo de atuar.
Saretta, natural de Americana (SP), é destro e gosta de jogar agressivamente, soltando fortes golpes do fundo de quadra e dominando as trocas de bola. É temperamental e se desconcentra facilmente em uma partida após discussões com juízes de cadeira e até com seus técnicos.
Há dois anos, em Roland Garros, Saretta chegou a demitir seu técnico (João Zwetsch) durante partida contra o espanhol Galo Blanco, pela terceira rodada. No fim, passou por Blanco, mas caiu nas oitavas-de-final diante do norte-americano Andre Agassi.
Mello nasceu em Campinas (SP), é canhoto e tem técnica mais apurada, procurando jogar sem tanta força. Sabe atuar na defensiva e tem um poderoso contra-ataque. Ao contrário de seu companheiro, está sempre sereno em quadra, procurando não reclamar e tampouco perder o controle de seu adversário.
No dia-a-dia da equipe capitaneada por Meligeni, os titulares do Brasil também têm comportamentos distintos. Saretta é mais descontraído e brinca mais com seus companheiros, enquanto Mello fica mais reservado e fala pouco.
Saretta já viveu melhores tempos no circuito internacional. Enquanto entrava no grupo dos 50 melhores do planeta, seu conterrâneo tinha de lutar por pontos importantes em challengers para disputar os principais torneios do mundo.
Agora, a situação se inverteu. Com o título em Delray Beach, no ano passado, e as recentes boas campanhas, Mello tenta ingressar no top 50, enquanto Saretta busca se reabilitar no circuito internacional, depois de uma péssima temporada que o derrubou da lista dos 100 melhores do mundo.
Experiência Diferenças à parte, Saretta é mais tarimbado quando se fala em Copa Davis. Ele é constantemente convocado desde 2002 e já fez quatro partidas de simples. E assim como aconteceu contra o Canadá, no confronto que tirou o Brasil do Grupo Mundial, fará o jogo de abertura.
"Para mim, isso não muda em nada a preparação, pois já tive oportunidade de jogar na abertura e de atuar no meio do confronto", disse o tenista número 3 do país. "Acho que a única diferença é que sei o horário da partida e, portanto, sei quando começo a me aquecer ou a me alimentar, por exemplo."
Para Saretta, a rivalidade com Mello criada nos tempos de adolescência serviu para que ambos buscassem se superar a cada êxito do adversário. "Foi sempre saudável, jogamos juntos desde os 11 anos de idade e é legal ver em uma competição dessa dois tenistas que saíram do mesmo lugar", comenta.
"E lá na academia do João Soares (local de treinamento deles na fase de juvenil), o pessoal vai lembrar que os tenistas que estão representando o país saíram de lá."
Do outro lado, Mello, atual número 54 do mundo, lembra que unir dois jogadores que cresceram juntos num time de Copa Davis é raro no Brasil. "Geralmente, as equipes são feitas com tenistas de lugares diferentes, até do sul do país, que revela bons jogadores. E é bom poder participar desse momento em que o país é representado por atletas que tiveram formações juntas."
A estréia na competição não assusta Mello, que tem várias convocações em seu currículo, mas nenhum jogo disputado. "Nesse tempo, já deu para sentir que a Davis é uma competição bem diferente, a pressão é maior, mas estou procurando curtir cada momento."
Por isso, também não vê diferença entre ter de fazer o segundo jogo ou a abertura do confronto. "Acho que a única coisa que muda é que a tranqüilidade aumenta se estivermos com um ponto na frente. Mas vou aprendendo pouco a pouco com isso e tentando aproveitar."
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